São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 2002

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FUTEBOL

Novo Palmeiras, velho Flu

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Um novo Palmeiras está surgindo na Copa dos Campeões. Ainda é um rascunho, mas pode vir a ser uma grande equipe, quando Arce se sentir mais à vontade atuando no meio-campo e o trio Lopes-Nenê-Muñoz melhorar seu entrosamento.
O torcedor palmeirense é um dos mais exigentes do mundo. E não por acaso. Os palmeirenses mais velhos viram Djalma Santos, Ademir da Guia, Luiz Pereira, Leivinha, Dudu e outros ídolos dos anos 60 e 70.
Os não tão velhos passaram os anos 90 aplaudindo o maior desfile de craques do futebol brasileiro na década: Roberto Carlos, Djalminha, Rivaldo, Edmundo, Evair, Zinho, Muller, Luizão, César Sampaio, Cafu, Júnior, Marcos, Rincón, Alex e tantos outros.
Na virada do século, com a diminuição do investimento em contratações, a fonte acabou secando. Os alviverdes amargaram a "era Galeano", com tudo o que esse valente jogador simboliza: um futebol esforçado e sem brilho, ocasionalmente eficiente, quase sempre feio.
A boa notícia é que essa era, ao que tudo indica, chegou ao fim. O Palmeiras não formou uma nova academia, mas já está mostrando na Copa dos Campeões um pouco mais de criatividade e uma considerável variação de jogadas.
O deslocamento de Arce para o meio, com a entrada do jovem lateral Leonardo no lugar do paraguaio, parece ter liberado as forças produtivas.
Com jogadores de meio-campo menos pesados que os antigos Galeano e Fernando, a bola chega mais redonda aos três homens de frente, Lopes, Muñoz e Nenê, que por sua vez se movimentam muito, dificultando o trabalho da defesa adversária.
Mesmo sem grandes contratações ou mudanças radicais na escalação, Luxemburgo parece finalmente estar conseguindo escapar do "estilo gaúcho" legado por Scolari ao time (embora o próprio Scolari tenha abandonado esse estilo na seleção, onde pôde contar com certa fartura de talentos).
Ontem, contra o Fluminense, o Palmeiras teve as rédeas da partida nas mãos durante todo o tempo, criou muitas chances, precipitou-se em algumas finalizações, mas acima de tudo mostrou que tem potencial para crescer e voltar a ser uma das grandes forças do futebol brasileiro.
Como são inúmeros os percalços que rondam um time de futebol, pode ser que o processo seja truncado no meio do caminho e que o "novo Palmeiras" morra na praia. Mas vale a pena acompanhar com atenção essa história.
O Fluminense celebrou de forma melancólica seu centenário. Foi um time amarrado, sem inspiração e sem poder de fogo.
Contra o Palmeiras, mostrou novamente que seu principal problema é a falta de um jogador que cumpra a função de armação exercida até há pouco tempo pelo meia Roger.
Fernando Diniz, por mais que seja esforçado, não cumpre esse papel. Mais que um armador, ele é um meia-atacante. Roger, de certo modo, também é, mas tem talento suficiente para levar a bola até o gol. No quadro atual, é até um desperdício ter na frente dois atacantes da qualidade de Roni e Magno Alves.
O problema, obviamente, não é só do Fluminense. A verdade é que sobraram poucos armadores autênticos no país -e os melhores tendem a ser exportados mais cedo ou mais tarde.


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