São Paulo, sábado, 22 de julho de 2006

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Seleção libanesa foge da guerra para ir a Mundial

Jogadores de basquete do país, com vaga na competição no Japão em agosto, deixam família e bombardeios para trás

Time vinha treinando em condição bastante precária em Beirute e viajou para a Jordânia; técnico teme falta de ânimo dos comandados


ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Após um início de preparação turbulento para o Mundial masculino de basquete, a seleção do Líbano conseguiu deixar a zona de guerra e pôde finalmente reiniciar seus treinos ontem, em Amã, na Jordânia.
O time libanês está em uma chave difícil no Mundial do Japão, que começa em agosto, e se preparava precariamente em Beirute. A seleção está no Grupo A, com a bicampeã mundial Sérvia e Montenegro (a vaga foi obtida antes da separação das repúblicas), Argentina, ouro na Olimpíada de 2004, França, Venezuela e Nigéria.
"Tudo isso tem sido muito difícil para nós. Há uma linha tênue entre preocupação e medo. E muitos de nossos jogadores estão apavorados por deixarem suas mães e irmãs para trás, no Líbano", contou o técnico Paul Coughter, em entrevista ao diário alemão "Berliner Zeitung".
O Líbano vive pesadelo desde que foram iniciados os ataques de Israel. O país vizinho promove retaliação à morte de oito soldados israelenses e ao seqüestro de outros dois pelo grupo terrorista libanês Hizbollah.
"Sou a última pessoa a falar sobre política", esquiva-se Coughter, um dos mais experientes técnicos do mundo, que já visitou 132 países para atuar, treinar ou ministrar clínicas.
"Em 37 anos de carreira, este é, claro, o momento mais difícil. Ouvi vários F-16 voarem próximos e nenhum era da Força Aérea do Líbano. Ninguém sabe o que irá acontecer. É um caso sem precedentes para mim."
O grupo havia iniciado os treinos semana passada, mas foi obrigado a fugir do país.
"A pior parte é que o aeroporto havia sido bombardeado. E as estradas e as pontes também estão sendo destruídas", comentou Raffy Kadiam, dirigente da federação libanesa.
Diante do problema, Fadi El Khatib, 28, maior astro do time, tentou deixar o país por conta própria com a mulher e o filho.
Ele acreditava que pudesse dirigir os 2.100 km que separam Beirute de Dubai (Emirados Árabes) em dois dias para pôr a família em local seguro. Foi demovido pela federação, que confiscou seu passaporte.
"É um momento difícil para nós. Minha casa fica a 1 km de onde caíram as bombas na semana passada", contou o ala, que já fez testes na NBA no Sacramento e no LA Clippers.
Mesmo com rotas precárias, o grupo decidiu escapar da turbulência de ônibus, indo até a Síria. De lá, foi à Jordânia. Para tranqüilizar seu principal jogador, Coughter permitiu que El Khatib levasse os parentes -os únicos que não integram o elenco para o Mundial.
Fora da terra natal, nem o americano sabe se conseguirá mexer nos ânimos de seus comandados. "O sentimento de impotência é a pior parte. Especialmente para quem gosta de controlar o grupo, como eu."
O único que ficou longe das tensões foi o pivô Paul Khoury, 38, que está em Salt Lake (EUA). Ele planeja ver os colegas nos próximos dias.


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