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Seleção libanesa foge da guerra para ir a Mundial
Jogadores de basquete do país, com vaga na competição no Japão em agosto, deixam família e bombardeios para trás
Time vinha treinando em condição bastante precária em Beirute e viajou para a Jordânia; técnico teme falta de ânimo dos comandados
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Após um início de preparação turbulento para o Mundial
masculino de basquete, a seleção do Líbano conseguiu deixar
a zona de guerra e pôde finalmente reiniciar seus treinos
ontem, em Amã, na Jordânia.
O time libanês está em uma
chave difícil no Mundial do Japão, que começa em agosto, e se
preparava precariamente em
Beirute. A seleção está no Grupo A, com a bicampeã mundial
Sérvia e Montenegro (a vaga foi
obtida antes da separação das
repúblicas), Argentina, ouro na
Olimpíada de 2004, França,
Venezuela e Nigéria.
"Tudo isso tem sido muito difícil para nós. Há uma linha tênue entre preocupação e medo.
E muitos de nossos jogadores
estão apavorados por deixarem
suas mães e irmãs para trás, no
Líbano", contou o técnico Paul
Coughter, em entrevista ao diário alemão "Berliner Zeitung".
O Líbano vive pesadelo desde
que foram iniciados os ataques
de Israel. O país vizinho promove retaliação à morte de oito
soldados israelenses e ao seqüestro de outros dois pelo grupo terrorista libanês Hizbollah.
"Sou a última pessoa a falar
sobre política", esquiva-se
Coughter, um dos mais experientes técnicos do mundo, que
já visitou 132 países para atuar,
treinar ou ministrar clínicas.
"Em 37 anos de carreira, este
é, claro, o momento mais difícil.
Ouvi vários F-16 voarem próximos e nenhum era da Força Aérea do Líbano. Ninguém sabe o
que irá acontecer. É um caso
sem precedentes para mim."
O grupo havia iniciado os
treinos semana passada, mas
foi obrigado a fugir do país.
"A pior parte é que o aeroporto havia sido bombardeado. E
as estradas e as pontes também
estão sendo destruídas", comentou Raffy Kadiam, dirigente da federação libanesa.
Diante do problema, Fadi El
Khatib, 28, maior astro do time,
tentou deixar o país por conta
própria com a mulher e o filho.
Ele acreditava que pudesse
dirigir os 2.100 km que separam Beirute de Dubai (Emirados Árabes) em dois dias para
pôr a família em local seguro.
Foi demovido pela federação,
que confiscou seu passaporte.
"É um momento difícil para
nós. Minha casa fica a 1 km de
onde caíram as bombas na semana passada", contou o ala,
que já fez testes na NBA no Sacramento e no LA Clippers.
Mesmo com rotas precárias,
o grupo decidiu escapar da turbulência de ônibus, indo até a
Síria. De lá, foi à Jordânia. Para
tranqüilizar seu principal jogador, Coughter permitiu que El
Khatib levasse os parentes -os
únicos que não integram o
elenco para o Mundial.
Fora da terra natal, nem o
americano sabe se conseguirá
mexer nos ânimos de seus comandados. "O sentimento de
impotência é a pior parte. Especialmente para quem gosta
de controlar o grupo, como eu."
O único que ficou longe das
tensões foi o pivô Paul Khoury,
38, que está em Salt Lake
(EUA). Ele planeja ver os colegas nos próximos dias.
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