São Paulo, domingo, 22 de julho de 2007

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JUCA KFOURI

Dunga com a bola toda


A bela vitória na Copa América fez do treinador brasileiro protagonista na imprensa latino-americana


A VITÓRIA faz milagres. Aqui e em qualquer lugar do planeta, com raras exceções que, em regra, aparecem na imprensa escrita. Os meios eletrônicos são, por definição, mais emocionais, mais chegados a um oba-oba.
Justiça se faça, porém, porque Dunga virou referência em quase toda a imprensa da América do Sul, na escrita, inclusive, coberto de elogios, por exemplo, em dois países que merecem ser ouvidos e lidos no continente -a Argentina e o Uruguai.
De passagem por Montevidéu, vi o teipe da final. O comentarista uruguaio se desfez em elogios ao pouco espaço dado pela seleção aos argentinos e ao talento mortal, sim, ao talento de Júlio Baptista, na opinião dele, o melhor atleta da competição.
Já disse e repito que gosto do futebol de Júlio Baptista e o queria no meu clube, além de achar que há lugar para ele no grupo da seleção. Como opção, porque não passa em minha cabeça que possa ocupar o lugar de um Kaká ou de um Ronaldinho.
Não é, no entanto, o que Dunga deixa transparecer em suas entrevistas sempre ressentidas.
E há quem ache que ele esteja certo, não só no Sul do país, coerente com a escola gaúcha, como, também, entre os quatro vezes campeões mundiais uruguaios e argentinos, não por coincidência fronteiriços e bafejados pelos mesmos ventos, gelados nesta época.
Colunistas dos principais jornais das capitais banhadas pelo rio da Prata exaltam a capacidade de Dunga em fazer guerreiro um estilo que sempre foi caracterizado, segundo eles, pela fantasia.
Exagero, é claro, também típico das vitórias, porque nem mesmo é verdadeiro que nosso futebol só tenha vencido com arte, algo facilmente constatável em 1994 e em 2002, nos EUA e na Ásia.
O que as vitórias também fazem esquecer é que na campanha nos EUA houve apenas uma grande exibição brasileira, na vitória contra a Holanda (3 a 2). E na campanha asiática só na final, contra a Alemanha, o futebol foi convincente. Como agora, na Venezuela, o futebol de verdade se resumiu ao triunfo sobre a Argentina na final, insofismável.
Os amantes das vitórias dirão que está de bom tamanho. Chegando às finais e ganhando-as, o que mais se pode querer? Houve analistas platinos que elogiaram até mesmo a nenhuma cerimônia brasileira em fazer faltas, "muchas, pero essenciales", escreveu um deles.
São visões respeitáveis, diga-se, e até mais. Muitas vezes são filosofias de vida, e há que registrá-las.
Já Mino Carta, nada gaúcho nem uruguaio ou argentino, italiano de nascimento, brasileiro por opção, pergunta, com o sarcasmo que é sua marca registrada, o que é futebol alegre, se é, por acaso, um jogo que se disputa às gargalhadas.
Provocação inteligente que, certamente, Mané Garrincha e Ronaldinho Gaúcho (gaúcho, ironicamente) responderiam às... gargalhadas...
E, para terminar, e deixar clara uma posição nesta polêmica que é interminável e muitas vezes nebulosa, além de falaciosa no tal confronto em jogar bonito e perder ou feio e vencer, sempre que o futebol da seleção, noves fora as faltas excessivas e dispensáveis, for como o jogado diante da Holanda, da Alemanha e da Argentina, terá meu entusiasmo.

blogdojuca@uol.com.br


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