São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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FUTEBOL

Perfil dos campeões

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Será que existe nos grandes campeões uma característica psicológica comum, diferente da personalidade de outros atletas? A ciência sempre tenta fazer essa associação, padronizar e enquadrar os atletas em grupos.
Os campeões costumam ser auto-suficientes, ambiciosos, determinados e disciplinados. Mas cada um tem o seu jeito de chegar à vitória.
É o talento individual que faz a diferença. O talento não é sinônimo de habilidade ou criatividade ou técnica. É a soma de tudo isso e mais a capacidade física e emocional.
Após uma grande conquista, as características, hábitos e manias dos campeões, das importantes às inúteis, passam a ser idealizadas e mistificadas.
Cria-se uma lenda e um mito. A história e as biografias nunca dizem a verdade.

Vitória dos derrotados
A cena que mais me emocionou na Olimpíada foi o choro compulsivo e o pedido de desculpas ao país e à sua família feito pelo judoca Carlos Honorato após a derrota.
Nós é que agradecemos ao Carlos pela medalha de prata que conquistou em Sydney e pela bravura que teve em Atenas. Ele e outros que não ganharam medalhas, mas que lutaram tanto para chegar à Olimpíada, são também vitoriosos. Tenho grande admiração pelos que perdem com dignidade.
"Depois da hora radiosa, a hora dura do esporte, sem a qual não há prêmio que conforte, pois perder é tocar alguma coisa mais além da vitória, é encontrar-se naquele ponto onde começa tudo a nascer do perdido, lentamente". (Carlos Drummond de Andrade).

Fenômeno
Alguns atletas atuam melhor quando estão pressionados e ansiosos. Ficam mais concentrados, espertos e ágeis. Outros se tornam confusos, indecisos.
Nenhum psicólogo, nem Freud nos seus melhores momentos, pode antecipar se a Daiane dos Santos vai suportar bem a responsabilidade, a pressão e a expectativa de todo um país.
Mesmo se cometer erros grosseiros, perder a medalha de ouro e até a medalha de prata ou a de bronze, Daiane não deixará de ser um fenômeno da ginástica artística. Mas acho que ela, com a sua simplicidade e talento, vai brilhar.

Injustificável punição
A finalidade política do jogo no Haiti é um fato. Outro foi a alegria que os craques brasileiros proporcionaram ao sofrido povo desse país.
Os jogadores atuaram com prazer, com solidariedade e não somente por obrigação profissional. Os que não foram, impedidos por seus clubes, teriam a mesma satisfação.
A ausência de cinco titulares na convocação para as partidas contra a Bolívia, pelas eliminatórias da Copa, e a Alemanha, um amistoso, foi uma injustificável punição da CBF, com a conivência do Parreira.
Os clubes europeus tinham direito de não ceder os jogadores. A alegação de que eles não pressionaram os clubes é subjetiva e imprecisa. Os cinco, principalmente Cafu, pela sua exemplar história na seleção, mereciam mais respeito. O time brasileiro foi ainda prejudicado.
Temo que o fato diminua o entusiasmo e a alegria que esses atletas sentem quando atuam pela seleção. Essa cumplicidade, que vai além da obrigação profissional, é fundamental para o sucesso do time brasileiro.

Equilíbrio
No segundo turno do Campeonato Brasileiro, a tendência das equipes é manter a média de aproveitamento. Com freqüência, os times ganham em casa e perdem fora. Quando conseguem duas vitórias seguidas, sobem bastante na tabela. A dificuldade dos clubes cariocas de ganhar fora é ainda maior. Por quê?
A disputa pelo título e para fugir do rebaixamento vai continuar equilibrada até às últimas rodadas. Não há um único favorito nem um time certo para cair. No mínimo, um time de grande tradição e torcida vai para a segunda divisão.
As equipes estão se reforçando com jogadores brasileiros que estavam no exterior, atuando em times de menor expressão. Alguns são veteranos e decadentes. Esses jogadores retornam ao Brasil para ganhar menos. Uns fazem isso porque não agüentam mais de saudade e outros porque não estão bem e não interessam mais aos clubes de fora. São contratações de alto risco.


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