São Paulo, quarta-feira, 22 de agosto de 2007

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TOSTÃO

Saudosistas e modernistas


Nem tudo que é moderno é pior do que no passado, e nem tudo que se fazia em outras épocas está ultrapassado


NA SEMANA passada estive alguns dias no Rio, aonde não ia há uns seis anos, somente para passear. Não vi nenhuma bala perdida, nenhuma celebridade no calçadão da praia, nenhum arrastão e nenhuma manifestação a favor ou contra o movimento "Cansei".
O Rio está ainda mais lindo, bem policiado e limpo. Será somente por causa do Pan e do Parapan? Falo de Copacabana, Leme, Ipanema e Leblon, lugares onde estive, e não do Rio marginal. São dois mundos opostos. Entendi também porque o morador do Leblon gosta tanto do bairro.
Enquanto os torcedores do Flamengo e do Fluminense estão preocupados com o futuro do time, e os do Vasco estão eufóricos com a ótima campanha e a ascensão da equipe, os do Botafogo tentam compreender a queda de rendimento.
Entre tantos fatores conhecidos e bastante discutidos, um torcedor me disse que o Botafogo arrisca muito, joga à moda antiga, fora da realidade atual, como se tivesse os craques de outras épocas. Acrescentaria que os atletas não estavam acostumados com tantos elogios e não suportaram a responsabilidade de jogar sempre bonito e com eficiência.
O Cruzeiro, time que fez mais gols no Brasileiro, poderá substituir o Botafogo no segundo turno, não só na disputa pelo título como também no imaginário do torcedor que gosta de equipes ofensivas e que fazem muitos gols. A diferença é que o Cruzeiro atua num estilo muito veloz, de muita correria, e o Botafogo, de mais toque de bola, mais parecido com o do passado.
O futebol mudou para melhor em algumas coisas e para pior em outras. Evoluíram a condição física, a velocidade e a mobilidade dos atletas, a marcação, a capacidade dos jogadores de executarem várias funções e a eficiência nas bolas paradas. Quando tudo isso está associado ao talento individual formam-se ótimas equipes.
O futebol do passado era diferente, mais lento, menos tático e de menos contato físico. Isso não significa que os jogadores das grandes equipes não eram bem preparados fisicamente e que eram bastante individualistas. O que mudou foi o estilo. Havia mais espaços para os jogadores brilharem e também para mostrarem suas deficiências. Era mais fácil separar o craque do grosso. Hoje, eles se confundem.
Nem tudo que é moderno é pior do que era no passado, como falam os saudosistas, e nem tudo que se fazia em outras épocas está ultrapassado, como dizem os "modernistas", principalmente treinadores e jovens comentaristas apaixonados pelo tecnicismo e pelo cientificismo.
Quando alguém elogia mesmo as coisas boas do passado é chamado de saudosista. Todos somos saudosos de algo, mesmo do que nunca existiu. Já a palavra modernista não tem a conotação depreciativa. Pelo contrário, é motivo de elogios. Ser moderno não é apenas repetir o que está na moda, ser apaixonado pelas coisas modernas; é também aceitar mudanças, aperfeiçoar, inovar, fazer do seu jeito e aproveitar as experiências e os bons conhecimentos do passado para entender e melhorar o presente e sonhar com o futuro.

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