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F-1
Para dono da equipe que completa 30 anos na categoria, tricampeão tinha "intelecto para vida e negócios"
"Senna era fascinante", diz Williams
FÁBIO SEIXAS
da Reportagem Local
No início do ano, ele recebeu da
rainha da Inglaterra o título de
"sir", recompensa pelos "serviços
prestados ao automobilismo".
Segundo conta, "foi o reconhecimento pelas conquistas da equipe na história da categoria".
Frank Williams, 57, completa
nesta temporada 30 anos na F-1.
Estreou no GP da Espanha de
1969 comprando um Brabham,
que cedeu para um amigo íntimo,
o piloto inglês Piers Courage,
morto em um acidente em Zandvoort, Holanda, no ano seguinte.
Foi o primeiro momento de baixa de sua equipe. De 1970 até hoje,
a Williams, equipe mais vencedora da história da categoria -nove
títulos de construtores-, viveu
outros períodos difíceis.
Ou "curvas de aprendizado",
como prefere definir.
"Em 84, por exemplo, estávamos em curva de aprendizado,
adaptando-nos ao turbo e mudando para uma fábrica nova."
Hoje, a equipe, segundo ele,
passa por situação parecida.
Campeã de construtores e pilotos
em 1997, viu seu rendimento cair
no ano passado, quando perdeu
os motores da Renault.
Em 1999, vive uma temporada
de espera, preparando-se para
iniciar, no próximo Mundial,
uma parceria com a BMW.
No Brasil, porém, Frank Wil-
liams será sempre lembrado como o dono do carro em que Ayrton Senna morreu, em 1994.
Em entrevista exclusiva à Folha,
ele fala sobre o atual momento
("não estamos bem"), sobre a rival McLaren ("admiro a maneira
como eles operam") e sobre Senna ("há uma responsabilidade
enorme sobre nosso ombros").
Folha - No ano passado, a Wil-
liams foi a terceira colocada no
Mundial de Construtores. Que
possibilidades o senhor enxerga
para a equipe nesta temporada?
Sir Frank Williams - Neste início de ano, não estamos muito
bem. Mas acho que podemos ficar
em quarto, quinto...
Folha - O senhor pode fazer
uma comparação entre o carro
deste ano e o de 1998?
Williams - Não muito. É um carro diferente. Os pilotos dizem que
é muito melhor que o carro de
1998, mas isso é competição. Os
outros times também evoluíram.
Folha - A Williams neste ano
está com o Alessandro Zanardi,
que foi bicampeão na Indy, mas
que parece ainda estar com algumas dificuldades na F-1...
Williams - Não se trata de dificuldades dele. O problema é que
nosso carro ainda não é suficientemente confiável. Ele é um excelente piloto, foi bem em testes recentes. Acho que ainda ninguém
viu seu verdadeiro potencial.
Folha - Há especulações sobre
uma eventual quebra de contrato da Williams com o Zanardi. O
que há de verdade nisso?
Williams - Temos um contrato
de três anos e não vamos interrompê-lo nem trocar pilotos. Não
pensamos nisso. É óbvio que algumas vezes os jornalistas escrevem essas coisas. Acho que deveriam escrever sobre o que vêem.
Folha - O colombiano Juan Pablo Montoya foi seu piloto de
testes e agora vem conseguindo
sucesso na Indy. O senhor não
se sente tentado a buscá-lo?
Williams - Não. Ele tem um
contrato de três anos com a equipe Ganassi. Não é algo que tem
que partir da gente.
Folha - Esse relacionamento
com a Ganassi é algo que surgiu
de uma eventualidade ou vocês
estão pensando em uma espécie de intercâmbio permanente?
Williams - Não é bem assim. Ele
(Montoya) foi nosso piloto de testes, e sua carreira é dirigida pelo
David Sears (dono da Supernova,
de F-3.000). E foi o David que
achou que ainda era cedo para colocá-lo na F-1, especialmente neste ano, em que estamos nos despedindo de um motor (os Supertec, que equipam a Williams, serão substituídos pelos BMW no
próximo ano). Acho que na Indy
ele vai ganhar confiança.
Folha - A McLaren hoje ocupa
uma posição que por algum
tempo foi da Williams, o de melhor equipe da F-1. Como o senhor vê o futuro da McLaren?
Williams - Não falo sobre outros
times, mas gostaria de dizer que
eu admiro a maneira como a
McLaren opera. Estou na F-1 há
30 anos, e a McLaren sempre foi
nossa maior rival. Agora, a Wil-
liams vive um período de baixa,
mas vamos voltar ao topo.
Folha - Desde o ano passado,
vocês usam gasolina fornecida
pela Petrobras. Como o senhor
avalia o trabalho da empresa?
Williams - Em primeiro lugar,
nosso relacionamento com eles,
até do ponto de vista pessoal, é
muito bom. Eles são muito sinceros. E a tecnologia de combustível
da Petrobras é muito forte, impressionante. Conseguiram bons
resultados nos Supertec e agora
estamos olhando para o futuro.
Folha - Como está o trabalho
com a BMW para o ano 2000?
Williams - Estamos tentando
cobrir a maior área possível. Eles
estão aplicando recursos substanciais muito importantes, pessoal e
tecnologia nesse programa. Vai
ser difícil por um período, isso
nós sabemos. Nosso plano é encurtar essa fase. Estamos muito,
muito felizes de estar com eles.
Folha - O senhor trabalhou
com alguns pilotos brasileiros:
José Carlos Pace...
Williams - Um grande piloto.
Folha - Nelson Piquet e Ayrton
Senna...
Williams - Todos eles eram
grandes pessoas.
Folha - Como o senhor pode
comparar esses pilotos?
Williams - Eram bem diferentes.
E correram em eras diferentes.
Mas cada um tinha um talento.
Ayrton tinha um intelecto incomum, não só para correr, mas para os negócios, para a vida e para a
filosofia. Uma pessoa fascinante.
Folha - Uma questão que precisa ser feita diz respeito à morte de Ayrton Senna...
Williams - Posso falar pouco sobre isso, porque foi um acidente.
Há duas ou três teorias, mas até
agora nada foi provado, nada foi
descartado. É claro que há uma
responsabilidade enorme sobre
nossos ombros, e, quando fui para seu funeral, entendi o que sua
morte significou para o Brasil. Foi
a maior demonstração de amor,
simpatia e respeito que já vi.
Folha - O senhor chegou a ter
algum sentimento de culpa?
Williams - Não divido minhas
emoções com ninguém e não vou
fazer isso hoje. Foi um dia triste
para a Williams, para a McLaren,
para a F-1 e para o Brasil. Foi um
dos piores dias da história da F-1.
Folha - Continuando a falar sobre brasileiros, o senhor conversou com Rubens Barrichello em
94 e no ano passado. Porque ele
nunca chegou à Williams?
Williams - É sempre complicado. Algumas vezes você quer um
contrato, mas o piloto não pode.
Outras vezes um piloto que nos
interessa nos procura, mas aí nós
é que estamos de mãos atadas.
Folha - Os pilotos hoje reclamam dos pneus com sulcos.
Qual é sua opinião sobre isso?
Williams - Eu nunca pilotei esses carros, então acho que não sou
qualificado para falar sobre esse
assunto. É uma questão entre os
pilotos, a FIA (entidade máxima
do automobilismo) e a empresa
que fabrica os pneus.
Folha - Como o senhor pode
comparar a F-1 dos anos 60,
quando o senhor iniciou sua
equipe, com a de hoje?
Williams - Hoje há muito mais
gente, tecnologia, recursos financeiros. Provavelmente, está mais
competitiva, mais difícil.
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