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FUTEBOL
Exército de Brancaleone
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Para quem não sabe, "O Incrível Exército de Brancaleone" foi uma das comédias mais
marcantes dos anos 60.
Dirigida por Mario Monicelli e
estrelada por Vittorio Gassman,
mostrava um grupo de maltrapilhos e estropiados que se juntava
para reconquistar um feudo, na
Idade Média.
Desde então, a expressão "exército de Brancaleone" virou sinônimo de grupo improvisado e alquebrado tentando alcançar algum objetivo.
Pois bem: com todo o respeito, a
convocação para a seleção brasileira dos jogadores que atuam no
exterior, divulgada ontem por
Scolari, me lembrou o exército de
Brancaleone.
Além do goleiro Dida, que é
sempre convocado embora não
jogue há séculos, foram chamados dois atletas contundidos
(Emerson e Rivaldo) e um que está começando a voltar aos gramados depois um ano e meio no
estaleiro (Ronaldo).
Dá-se como certa, ainda, a convocação de Romário, que também se recupera de contusão.
Será que o objetivo é inspirar
piedade no adversário?
Não. Provavelmente, o erro tem
a ver com o velho messianismo
brasileiro, que, alimentado pela
mídia, acaba contagiando a comissão técnica da seleção.
É como se, agora que a camisa
amarela já não assusta mais ninguém, quiséssemos intimidar os
adversários com o nome e a fama
de nossos craques. Mais ou menos
como os espanhóis fizeram com El
Cid, amarrando-o ereto ao cavalo
mesmo depois de morto, para
amedrontar os mouros.
Alguém poderá argumentar
que os jogadores em questão podem ser aproveitados em pelo menos uma parte do jogo contra o
Chile. Como Zico, que entrava no
segundo tempo das partidas na
Copa de 1986.
A pergunta é: podemos nos dar
a esse luxo? Enquanto isso, ficaram fora Juninho Pernambucano
(como justificar sua ausência
num time que tem Eduardo Costa
como titular?), Djalminha, Serginho, Vágner e tantos outros que,
até onde sei, estão em forma.
Em todo caso, falta a convocação dos atletas que atuam no
Brasil. Só então poderemos avaliar a extensão do problema. Não
quero ser pessimista, mas lembro
que o Brasil perdeu do Chile por 3
a 0 em Santiago. Mesmo em decadência (só eles?), os chilenos podem complicar nossa situação.
Vários leitores têm escrito para
protestar contra o fato de a Rede
Globo -que tem a exclusividade
da transmissão do Campeonato
Brasileiro- praticamente só exibir jogos dos decadentes Flamengo e Corinthians.
Os líderes do campeonato -sobretudo o São Caetano- são ignorados acintosamente.
O leitor Flavio, de Volta Redonda, faz uma boa pergunta: "Por
que não existe nos contratos de
TV alguma cláusula que assegure
o interesse do futebol em si e não
apenas o apelo clubístico ou regional? Por exemplo: passar sempre os jogos do líder e vice-líder.
Seria um estímulo a mais aos próprios times, em busca de maior
exposição na mídia".
Vou um pouco mais longe. Penso que não deveria haver contrato
de exclusividade de exibição na
TV aberta. Quem pagasse teria o
direito de transmitir. Com tantos
jogos importantes, certamente
haveria uma oferta mais variada.
Ganharia o público, ganhariam
os clubes. Talvez a Globo perdesse. Por isso não muda.
Inferno dos profetas
O Brasileiro deste ano é um
dos mais imprevisíveis da
história. Além do equilíbrio
entre a maior parte das equipes, contribui para as reviravoltas a irregularidade de algumas delas. Dois exemplos:
o São Paulo perdeu do Paraná, em casa, e três dias depois
venceu o Coritiba, em Curitiba. Depois de bater a Ponte
Preta, o Palmeiras e o Gama,
o São Caetano caiu, em casa,
diante do Botafogo-SP. Como fazer alguma previsão
nessa areia movediça?
Inferno vascaíno
A crise do Vasco parece não
ter fim. No último jogo do
clube, contra o Paraná, até o
goleiro Hélton, normalmente
tão pacífico, quase chegou às
vias de fato com o companheiro Odvan. Nessa fogueira de tensões estão sendo lançados (e queimados) vários
jovens jogadores. E Eurico
Miranda ainda diz que Pedrinho não faz falta ao clube.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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