São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2001

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FUTEBOL

Exército de Brancaleone

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Para quem não sabe, "O Incrível Exército de Brancaleone" foi uma das comédias mais marcantes dos anos 60.
Dirigida por Mario Monicelli e estrelada por Vittorio Gassman, mostrava um grupo de maltrapilhos e estropiados que se juntava para reconquistar um feudo, na Idade Média.
Desde então, a expressão "exército de Brancaleone" virou sinônimo de grupo improvisado e alquebrado tentando alcançar algum objetivo.
Pois bem: com todo o respeito, a convocação para a seleção brasileira dos jogadores que atuam no exterior, divulgada ontem por Scolari, me lembrou o exército de Brancaleone.
Além do goleiro Dida, que é sempre convocado embora não jogue há séculos, foram chamados dois atletas contundidos (Emerson e Rivaldo) e um que está começando a voltar aos gramados depois um ano e meio no estaleiro (Ronaldo).
Dá-se como certa, ainda, a convocação de Romário, que também se recupera de contusão.
Será que o objetivo é inspirar piedade no adversário?
Não. Provavelmente, o erro tem a ver com o velho messianismo brasileiro, que, alimentado pela mídia, acaba contagiando a comissão técnica da seleção.
É como se, agora que a camisa amarela já não assusta mais ninguém, quiséssemos intimidar os adversários com o nome e a fama de nossos craques. Mais ou menos como os espanhóis fizeram com El Cid, amarrando-o ereto ao cavalo mesmo depois de morto, para amedrontar os mouros.
Alguém poderá argumentar que os jogadores em questão podem ser aproveitados em pelo menos uma parte do jogo contra o Chile. Como Zico, que entrava no segundo tempo das partidas na Copa de 1986.
A pergunta é: podemos nos dar a esse luxo? Enquanto isso, ficaram fora Juninho Pernambucano (como justificar sua ausência num time que tem Eduardo Costa como titular?), Djalminha, Serginho, Vágner e tantos outros que, até onde sei, estão em forma.
Em todo caso, falta a convocação dos atletas que atuam no Brasil. Só então poderemos avaliar a extensão do problema. Não quero ser pessimista, mas lembro que o Brasil perdeu do Chile por 3 a 0 em Santiago. Mesmo em decadência (só eles?), os chilenos podem complicar nossa situação.

Vários leitores têm escrito para protestar contra o fato de a Rede Globo -que tem a exclusividade da transmissão do Campeonato Brasileiro- praticamente só exibir jogos dos decadentes Flamengo e Corinthians.
Os líderes do campeonato -sobretudo o São Caetano- são ignorados acintosamente.
O leitor Flavio, de Volta Redonda, faz uma boa pergunta: "Por que não existe nos contratos de TV alguma cláusula que assegure o interesse do futebol em si e não apenas o apelo clubístico ou regional? Por exemplo: passar sempre os jogos do líder e vice-líder. Seria um estímulo a mais aos próprios times, em busca de maior exposição na mídia".
Vou um pouco mais longe. Penso que não deveria haver contrato de exclusividade de exibição na TV aberta. Quem pagasse teria o direito de transmitir. Com tantos jogos importantes, certamente haveria uma oferta mais variada.
Ganharia o público, ganhariam os clubes. Talvez a Globo perdesse. Por isso não muda.

Inferno dos profetas
O Brasileiro deste ano é um dos mais imprevisíveis da história. Além do equilíbrio entre a maior parte das equipes, contribui para as reviravoltas a irregularidade de algumas delas. Dois exemplos: o São Paulo perdeu do Paraná, em casa, e três dias depois venceu o Coritiba, em Curitiba. Depois de bater a Ponte Preta, o Palmeiras e o Gama, o São Caetano caiu, em casa, diante do Botafogo-SP. Como fazer alguma previsão nessa areia movediça?

Inferno vascaíno
A crise do Vasco parece não ter fim. No último jogo do clube, contra o Paraná, até o goleiro Hélton, normalmente tão pacífico, quase chegou às vias de fato com o companheiro Odvan. Nessa fogueira de tensões estão sendo lançados (e queimados) vários jovens jogadores. E Eurico Miranda ainda diz que Pedrinho não faz falta ao clube.

E-mail: jgcouto@uol.com.br



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