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FUTEBOL
Vitórias e sanduíches
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Vitórias são sempre iguais.
Elas nos deixam mais leves,
põem um sorriso nos nossos lábios
e, na segunda-feira, fazem de nós
os sujeitos mais chatos do mundo,
ou seja, daquele tipo que só quer
ler cadernos esportivos, só sabe falar de um único assunto e não se
cansa de rever o mesmo gol.
Apesar de serem iguais, porém,
nem sempre as vitórias compartilham a mesma natureza. Como
assim? Explico: um sanduíche é
sempre um sanduíche, mas seu
recheio pode variar infinitamente. Pode ser queijo, hambúrguer,
presunto, ovo, toucinho, alface,
tomate, cebola ou tudo isso junto,
formando um daqueles sanduíches que fazem a gordura escorrer
pela nossa mão. Esse raciocínio,
além de me deixar com fome, me
faz imaginar que é possível pensar numa tipologia das vitórias.
Elas poderiam ser divididas assim:
1) Pão com manteiga - Como o
próprio nome faz supor, essas são
as mais comuns. Acontecem
quando um time, considerado superior, derrota o adversário mais
fraco exatamente da maneira que
se esperava. Ele faz os gols, administra o resultado e deixa sua torcida satisfeita, mas não empolgada. Assim foram as conquistas de
Vasco e Grêmio.
2) Queijo branco - Estas não
têm muito sabor. São conseguidas
em jogos cansativos, mornos,
cheios de passes errados e que levam ao desespero os responsáveis
por editar os melhores momentos.
Dessa natureza foram os magros
êxitos de Corinthians e Fluminense.
3) Mexicano - Assim como o
sanduíche de carne moída, que
parece fácil de comer, mas, no final, a gente sempre faz alguma
sujeira, há vitórias em que o time
joga bem, ataca bastante e parece
que vai abrir uma grande vantagem, mas, no fim, acaba tomando
sufoco do rival que parecia batido. Dessa forma foram as vitórias
do Juventude, do São Paulo e do
São Caetano, times que tiveram
que suar a camisa para conseguir
se manter nas primeiras posições.
4) Mortadela - São vitórias ótimas para matar a fome da torcida. Essas vêm quando o time
mais precisa, quando está numa
posição desconfortável na tabela
e precisa do resultado a qualquer
custo para provar à torcida, aos
críticos e a si mesmo que tem condições de reagir. Hoje em dia,
qualquer vitória do Palmeiras pode se encaixar nessa categoria. Na
última rodada, as vitórias de Lusa, Goiás e Flamengo são bons
sanduíches de mortadela.
5) Linguiça - São vitórias ardidas, apimentadas, conseguidas
sob condições terrivelmente adversas, como jogar fora de casa,
sofrer uma forte pressão e ainda
ter um jogador expulso, como no
caso do Internacional, que conseguiu os três pontos mais inesperados da rodada ao bater o Atlético-PR em plena Arena da Baixada.
6) Leite condensado - São as
mais doces. Nem preciso dizer que
são aquelas conseguidas diante
do maior rival. Nesse caso, não
resta a menor dúvida de que o sucesso mais doce do domingo foi o
do Atlético-MG diante do Cruzeiro, até porque ele repôs o Galo nas
alturas do G-8 e fez da Raposa
uma candidata ao rebaixamento.
Muito bem, agora que terminei
o texto, só me resta dar um pulo
até a padaria da esquina. Não sei
qual sanduíche irei comer, se o de
linguiça, de mortadela, de carne
moída ou um simples pão com
manteiga. Seja como for, só me
resta uma certeza: a de que, mais
uma vez, não conseguirei a mais
difícil das vitórias: a vitória contra a balança.
Torcedor retorcido
Qual torcedor acompanha o
Brasileiro com mais intensidade? O corintiano, que espera o terceiro grande título do
ano? O são-paulino ou o são-caetanense, que estão sempre
nas primeiras posições? O
santista, que vê uma safra de
talentos promissores? Nenhum deles. O torcedor que
mais vive o campeonato é o
do Palmeiras. Além de acompanhar seu time, ele tem que
torcer contra uma dúzia de
equipes a cada rodada. O palmeirense lê desde "O Liberal", para descobrir quem tomou cartões amarelos pelo
Paysandu, até o "Correio
Brasiliense", para saber se o
Dimba joga na quarta-feira.
Haicai
E, para mostrar que sou bom
perdedor, vai aí um haicai de
José Carlos Marques, torcedor da Portuguesa: "Diante
desses santos/ (tricolores, alvinegros...),/ sou Lusa "entre-tantos'".
E-mail torero@uol.com.br
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