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Análise
Campeão é estranho no ninho da F1
DA REPORTAGEM LOCAL
O Kimi Raikkonen que
venceu o campeonato ontem em Interlagos é o
mesmo que precisou ser
acordado por um mecânico da Sauber, em Melbourne, 30 minutos antes
da estréia na F-1.
Ele precisava levar o
carro para o grid de largada. Mas estava dormindo
profundamente, alheio ao
frenesi que acontecia à sua
volta. Despertado, espreguiçou-se, colocou o macacão e foi à pista. Voltou
duas horas depois, com
um ponto conquistado.
Era apenas a 24ª corrida
de carros da sua vida.
O Raikkonen que venceu ontem em Interlagos é
o mesmo que, no Brasil,
faltou à homenagem para
Michael Schumacher. Pelé
apareceu para entregar
um troféu ao heptacampeão, que se aposentava, o
que atraiu a atenção, claro,
de todos os outros pilotos.
O finlandês não foi.
E, quando questionado
por Martin Brundle, hoje
comentarista, do porquê
da ausência, explicou que
estava no banheiro.
O Raikkonen que tornou-se campeão em Interlagos não tem o sorriso fácil de Hamilton.
Não tem o sangue quente de Alonso. Não tem a
empatia de Massa. Não
tem sequer a fissura pelo
fitness lançada por Senna,
defendida por Schumacher e seguida por todos os
outros, todos os outros,
cordeirinhos do establishment. Não tem a preocupação doentia da F-1 com
relações-públicas. Faz o
que faz do jeito que quer e
pronto.
Para quê tudo isso, afinal? Para quê o sorriso, o
sangue quente, a empatia,
o marketing?
Raikkonen, campeão,
nos faz essa pergunta. E já
nos responde. Não, não é
preciso nada disso.
Basta ser um "racer". E
Raikkonen o é. Um "racer"
da estirpe de um Rindt, de
um Clark. E que carrega o
charme desencanado e baladeiro de um Hunt.
Ufa! A F-1, e o esporte,
ainda produz gente assim.
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