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Palmeiras tenta subir, tão longe e tão perto da torcida
Empate com Sport garante retorno à Série A e consagração no ano que não queria viver
FERNANDO MELLO
ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ
No dia 17 de novembro de 2002,
em Salvador, o Palmeiras escreveu a página mais vergonhosa de
sua vida, diante de apenas 300 seguidores. Hoje, quando entrarem
em campo na pacata Garanhuns
(PE), um ano e uma semana após
o rebaixamento, os palmeirenses
poderão fazer história.
De novo longe, num estádio pequeno a 2.495 km de sua sede. De
novo sozinho, sem a fanática torcida que lotou o Parque Antarctica durante toda a Série B.
Contra o Sport, às 21h40, no Gigante do Agreste, o Palmeiras enfrentará mais do que a ira dos torcedores pernambucanos, revoltados com o goleiro Marcos, que
qualificou o gramado do estádio
de "pasto". Terá que vencer os
próprios nervos para encerrar antecipadamente a sacrificante jornada pela segunda divisão.
Com um ponto, o time paulista
comemorará o fim da solidão que
o acompanhou pelos grotões do
Brasil. Em Sobral (CE), Taguatinga (DF), Belém (PA), Caxias do
Sul (RS) e agora em Garanhuns, o
clube quatro vezes campeão brasileiro sentiu-se como um estranho no ninho. Teve mordomias
que nenhum de seus 23 concorrentes pôde ostentar. Fretou
avião, escalou um pentacampeão,
pagou os salários em dia.
A longa jornada, iniciada em 26
de abril com um empate em 1 a 1
na Boca do Jacaré, casa do Brasiliense, pode acabar hoje com mais
um título para a já repleta galeria
de troféus palmeirense. Para isso,
basta uma vitória contra o Sport
ou um empate, se o Botafogo for
derrotado pelo Marília.
Para festejar o acesso hoje, os
palmeirenses podem até perder
-desde que o Marília arranque
ao menos um empate dos cariocas no Caio Martins, no RJ.
Em sua campanha de 33 jogos,
21 vitórias e só três reveses, o Palmeiras literalmente cruzou o Brasil. Jogou em todas as regiões do
país. Percorreu 49.345 quilômetros, quase 5.000 a mais que o mineiro Cruzeiro, o líder da Série A,
uma competição mais longa e disputada em turno e returno em
quase nove meses.
Para efeito de comparação, com
o tour na Série B, os paulistas poderiam ter dado quase 1,4 volta
completa no planeta.
"Para subir, acho que a gente tinha que andar até 100 mil quilômetros. Qualquer sacrifício vale a
pena. Estamos perto de entrar para a história, de fazer uma das coisas mais lindas da vida do Palmeiras", disse o técnico Jair Picerni.
A longa jornada palmeirense
contou também com episódios
pitorescos, dignos de segunda divisão. O goleiro Marcos, 1,93 m,
muitas vezes bateu a cabeça nos
minúsculos vestiários oferecidos
aos visitantes. Instalações essas
que inviabilizaram trabalhos de
aquecimento, que acabaram realizados nos túneis de acesso ao
campo ou mesmo nos gramados.
Estádios como a Boca do Jacaré,
onde nem o ônibus da delegação
conseguiu entrar. Sem saída, os
palmeirenses tiveram que descer
numa rua próxima ao campo de
Taguatinga. No meio da torcida
adversária e, pior, sem escolta.
Após o jogo, a diretoria palmeirense teve que agir. Distribuiu camisas oficiais para que os policiais
acompanhassem a delegação até
o ônibus, parado fora do estádio.
"Foi um ano difícil, mas está valendo a pena. Arrisquei tudo, não
quis ir para a Europa porque decidi com o coração. Esperava uma
segunda divisão com coisas piores, mas sei que ninguém aqui vai
esquecer este campeonato", avaliava o capitão Marcos.
Ontem, quando aterrissou em
Maceió às 11h05 (horário local), a
solidão palmeirense mais uma
vez se fez presente. Mais uma vez
o time viajou desfalcado de seu
comandante, Mustafá Contursi.
Apenas a reportagem da Folha e
uma TV local acompanharam o
desembarque no aeroporto Zumbi dos Palmares. Nenhum torcedor recepcionou o clube, cena diferente da de um ano atrás, quando Levir Culpi ganhou fita do Senhor do Bonfim de uma baiana.
Os jogadores, com cara de poucos amigos, não precisaram distribuir autógrafos nos 50 metros
entre o portão de desembarque e
o ônibus. Não havia a quem.
Só Picerni, que ficou mais tempo no saguão, foi abordado por
um funcionário do aeroporto.
Único grande paulista a ficar alijado de uma decisão de título brasileiro da primeira divisão na história do Campeonato Nacional, o
Palmeiras quer deixar a solidão e
os quase 50 mil quilômetros da
Série B definitivamente para trás.
Terá sua primeira chance hoje.
No distante, esburacado e desconhecido Gigante do Agreste.
NA TV - Sport x Palmeiras, às
21h40, ao vivo, na Record
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