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São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2003

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Palmeiras tenta subir, tão longe e tão perto da torcida

Empate com Sport garante retorno à Série A e consagração no ano que não queria viver

FERNANDO MELLO
ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ

No dia 17 de novembro de 2002, em Salvador, o Palmeiras escreveu a página mais vergonhosa de sua vida, diante de apenas 300 seguidores. Hoje, quando entrarem em campo na pacata Garanhuns (PE), um ano e uma semana após o rebaixamento, os palmeirenses poderão fazer história.
De novo longe, num estádio pequeno a 2.495 km de sua sede. De novo sozinho, sem a fanática torcida que lotou o Parque Antarctica durante toda a Série B.
Contra o Sport, às 21h40, no Gigante do Agreste, o Palmeiras enfrentará mais do que a ira dos torcedores pernambucanos, revoltados com o goleiro Marcos, que qualificou o gramado do estádio de "pasto". Terá que vencer os próprios nervos para encerrar antecipadamente a sacrificante jornada pela segunda divisão.
Com um ponto, o time paulista comemorará o fim da solidão que o acompanhou pelos grotões do Brasil. Em Sobral (CE), Taguatinga (DF), Belém (PA), Caxias do Sul (RS) e agora em Garanhuns, o clube quatro vezes campeão brasileiro sentiu-se como um estranho no ninho. Teve mordomias que nenhum de seus 23 concorrentes pôde ostentar. Fretou avião, escalou um pentacampeão, pagou os salários em dia.
A longa jornada, iniciada em 26 de abril com um empate em 1 a 1 na Boca do Jacaré, casa do Brasiliense, pode acabar hoje com mais um título para a já repleta galeria de troféus palmeirense. Para isso, basta uma vitória contra o Sport ou um empate, se o Botafogo for derrotado pelo Marília.
Para festejar o acesso hoje, os palmeirenses podem até perder -desde que o Marília arranque ao menos um empate dos cariocas no Caio Martins, no RJ.
Em sua campanha de 33 jogos, 21 vitórias e só três reveses, o Palmeiras literalmente cruzou o Brasil. Jogou em todas as regiões do país. Percorreu 49.345 quilômetros, quase 5.000 a mais que o mineiro Cruzeiro, o líder da Série A, uma competição mais longa e disputada em turno e returno em quase nove meses.
Para efeito de comparação, com o tour na Série B, os paulistas poderiam ter dado quase 1,4 volta completa no planeta.
"Para subir, acho que a gente tinha que andar até 100 mil quilômetros. Qualquer sacrifício vale a pena. Estamos perto de entrar para a história, de fazer uma das coisas mais lindas da vida do Palmeiras", disse o técnico Jair Picerni.
A longa jornada palmeirense contou também com episódios pitorescos, dignos de segunda divisão. O goleiro Marcos, 1,93 m, muitas vezes bateu a cabeça nos minúsculos vestiários oferecidos aos visitantes. Instalações essas que inviabilizaram trabalhos de aquecimento, que acabaram realizados nos túneis de acesso ao campo ou mesmo nos gramados.
Estádios como a Boca do Jacaré, onde nem o ônibus da delegação conseguiu entrar. Sem saída, os palmeirenses tiveram que descer numa rua próxima ao campo de Taguatinga. No meio da torcida adversária e, pior, sem escolta.
Após o jogo, a diretoria palmeirense teve que agir. Distribuiu camisas oficiais para que os policiais acompanhassem a delegação até o ônibus, parado fora do estádio.
"Foi um ano difícil, mas está valendo a pena. Arrisquei tudo, não quis ir para a Europa porque decidi com o coração. Esperava uma segunda divisão com coisas piores, mas sei que ninguém aqui vai esquecer este campeonato", avaliava o capitão Marcos.
Ontem, quando aterrissou em Maceió às 11h05 (horário local), a solidão palmeirense mais uma vez se fez presente. Mais uma vez o time viajou desfalcado de seu comandante, Mustafá Contursi.
Apenas a reportagem da Folha e uma TV local acompanharam o desembarque no aeroporto Zumbi dos Palmares. Nenhum torcedor recepcionou o clube, cena diferente da de um ano atrás, quando Levir Culpi ganhou fita do Senhor do Bonfim de uma baiana.
Os jogadores, com cara de poucos amigos, não precisaram distribuir autógrafos nos 50 metros entre o portão de desembarque e o ônibus. Não havia a quem.
Só Picerni, que ficou mais tempo no saguão, foi abordado por um funcionário do aeroporto.
Único grande paulista a ficar alijado de uma decisão de título brasileiro da primeira divisão na história do Campeonato Nacional, o Palmeiras quer deixar a solidão e os quase 50 mil quilômetros da Série B definitivamente para trás. Terá sua primeira chance hoje. No distante, esburacado e desconhecido Gigante do Agreste.


NA TV - Sport x Palmeiras, às 21h40, ao vivo, na Record


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