São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 2006

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TOSTÃO

Onda da mediocridade


Dunga pune Ronaldinho, colocando-o pouco tempo em várias partidas, em vez de ajudá-lo a jogar melhor


NEM SEMPRE um time com craques forma um bom conjunto e ganha títulos, como aconteceu com o Brasil na Copa do Mundo de 2006. Isso é obvio.
Mas é muito mais freqüente e fácil formar um grande time com vários jogadores excepcionais. Isso também é obvio. Preferir bons jogadores aos craques, com o argumento de que os atletas mais modestos correm mais e são mais aplicados taticamente, é uma exaltação da mediocridade.
Está evidente que Dunga não vai escalar juntos Kaká, Ronaldinho e Robinho. As justificativas de que não deu certo na Copa do Mundo e de que o time precisa de três marcadores no meio-campo não convencem. Os três juntos deram show na Copa das Confederações.
No Mundial, foi diferente. Havia dois centroavantes, sem o Robinho. Durante os três primeiros anos das eliminatórias para a Copa de 2006, sob o comando do Parreira, o Brasil jogou também com três marcadores no meio e foi muito mal.
Se Kaká, Ronaldinho e Robinho não derem certo após jogarem juntos várias partidas seguidas e nas suas posições corretas, obviamente, um dos três terá de sair.
Dunga disse que Ronaldinho Gaúcho precisa se adaptar à seleção. Deve querer que ele jogue como Elano, apenas um bom e aplicado jogador, ou como Kaká, um craque, mas com características bem diferentes. Cada um brilha do seu jeito. Com seu futebol fino, bonito, técnico e de dribles desconcertantes, como deu no Dunga em um jogo pelo Campeonato Gaúcho -não quero insinuar nada-, Ronaldinho foi nos últimos anos, com exceção na Copa, o mais fascinante e o mais eficiente jogador do mundo.
E continua muito bem. Os seus três últimos jogos pelo Campeonato Espanhol foram excepcionais. Em vez de implicar e punir o Ronaldinho, escalando-o pouco tempo em vários jogos, Dunga deveria tentar ajudá-lo para que ele jogue melhor na seleção, não tanto quanto no Barcelona, o que será quase impossível. Ronaldinho encontra no time espanhol as condições ideais para brilhar.
Por causa do fracasso em um torneio curto, mesmo sendo uma Copa do Mundo, parece que agora é proibido no Brasil dizer que o Ronaldinho é um supercraque, um dos maiores jogadores da história. Todos os grandes craques tiveram momentos ruins.
Eles brilham intensamente quando as suas equipes vão bem. Em duas Copas, Zico ficou longe do jogador espetacular que era no Flamengo. Alguns atletas que se destacaram na Copa de 70 atuaram mal em 1966, até o Pelé.
Dunga foi injustamente chamado de grosso em 90. Em 94, ele confirmou que era um excelente volante. A onda é aplaudir tudo o que faz o Dunga, até barrar o Ronaldinho. A invencibilidade de seis jogos do técnico é exaltada.
Muitos esquecem que o Brasil, com qualquer treinador, geralmente vence a maioria das partidas, mesmo jogando mal. Perde quando, além de não atuar bem, enfrenta fortes seleções, como a França na Copa.
Dunga merece vários elogios por outros motivos. Eu não gosto somente de vitórias. Gosto também de bom futebol. Contra a Suíça, um jogo fraquíssimo, a "nova pegada do time" e os discretos volantes Dudu Cearense e Fernando foram bastante elogiados pelo Galvão Bueno, pelo Falcão e por milhões de pessoas.
Elano, que poderá ser até titular e um bom coadjuvante, é agora insubstituível. Um outro comentarista afirmou na televisão que Elano simboliza o conceito moderno de craque. Desisto!

tostao.folha@uol.com.br


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