São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

A batalha do Anhangabaú

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Nestes dias de comemoração pelo aniversário da cidade de São Paulo, muito se tem falado sobre sua fundação.
Muito se tem falado e muito se tem mentido.
Sim, meus históricos leitores e histéricas leitoras, até hoje tudo o que vocês escutaram sobre a fundação de São Paulo é mentira. Ou, em outras palavras, engano, falsidade, lorota, ilusão, fábula.
Pesquisando a obra de historiógrafos do porte de Lügner e Le Menteur, sem esquecer as famosas cartas do cardeal Tramposo, cheguei à real história da fundação desta cidade.
Vamos então à verdade!
E a verdade é que, quando os jesuítas chegaram ao planalto, não foram recebidos de maneira amistosa. Isso se deveu em grande parte a João Ramalho, um degredado português que vivia entre os índios e hoje é símbolo do Esporte Clube Santo André.
João Ramalho estava casado com as oito filhas do cacique Tibiriçá e sabia que os padres iriam obrigá-lo a ter apenas uma mulher. Assim, fez de tudo para evitar que os jesuítas iniciassem seu trabalho. Houve uma série de tensos debates até que o padre Manoel da Nóbrega teve a seguinte idéia:
- Por que não resolvemos isso com um joguinho de futebol?
Durante alguns instantes o cacique Tibiriçá fez ares de pensador, cofiando o osso espetado em seu lábio inferior. Depois respirou fundo e respondeu:
- Está bem. Se vós, jesuítas, ganhardes, tereis o direito de catequizar a tribo, mas se perderdes, sereis comidos por nós ainda hoje.
E foi assim que em 23 de janeiro de 1554, há exatos 450 anos, jesuítas e índios se enfrentaram num jogo decisivo para os destinos da cidade. A várzea do rio Anhangabaú estava cheia, e até membros de outras tribos, como guarulhos e tupiniquins, se apertavam nas colinas que davam vista à região.
Quando a partida começou, parecia que os guaianás iriam golear. Por jogarem nus, eles se deslocavam com grande facilidade. Mas o goleiro Leonardo Nunes fazia milagres. Tantos milagres, que a partir daquele jogo passou a ser conhecido como Abarebebê, que significa "padre voador".
O tempo ia passando e o zero não saía do placar. De repente, porém, o lance decisivo aconteceu: o padre Azpicuelta Navarro passou para o padre Luís da Grã, que foi à linha de fundo e, olhando para o meio da área, avistou o padre José de Anchieta entre dois zagueirões gentios.
A bola veio alta, mas o franzino atacante esticou-se todo e acertou uma potente cabeçada no canto do arqueiro Piquerobi.
Os guaianás ainda tentaram desesperadamente obter o empate, mas os batinas pretas se fecharam de maneira sólida na defesa e garantiram a vitória. Quando o jogo acabou, João Ramalho arrancava os cabelos de raiva.
Dois dias depois estava erguido o colégio de taipa, no qual os padres da Companhia começaram sua obra.
Essa é a real e verdadeira história da origem de São Paulo. Quem quiser que conte outra.

Fantasma
E já que o assunto de hoje foi o encontro entre índios e brancos, falarei do Fantasma Futebol Clube, citado na página 2.118 da Enciclopédia de Times Imaginários. O verbete diz o seguinte: "O clube tem como sede uma caverna na região do Golfo de Bangalla e seu mascote é um cavalo branco chamado Herói. Seu fundador, presidente e goleiro é o célebre Fantasma, jogador que, segundo alguns, tem mais de 400 anos. O resto do time é composto por pigmeus da tribo Bandar. O problema é que eles não são grande coisa no jogo aéreo, de modo que, mesmo com o-espírito-que-anda no gol, o Fantasma F.C. costuma levar terríveis goleadas das tribos vizinhas.

Contagem regressiva
Sete...

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