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FUTEBOL
A batalha do Anhangabaú
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Nestes dias de comemoração pelo aniversário da cidade de São Paulo, muito se tem
falado sobre sua fundação.
Muito se tem falado e muito se
tem mentido.
Sim, meus históricos leitores e
histéricas leitoras, até hoje tudo o
que vocês escutaram sobre a fundação de São Paulo é mentira.
Ou, em outras palavras, engano,
falsidade, lorota, ilusão, fábula.
Pesquisando a obra de historiógrafos do porte de Lügner e Le
Menteur, sem esquecer as famosas cartas do cardeal Tramposo,
cheguei à real história da fundação desta cidade.
Vamos então à verdade!
E a verdade é que, quando os jesuítas chegaram ao planalto, não
foram recebidos de maneira
amistosa. Isso se deveu em grande
parte a João Ramalho, um degredado português que vivia entre os
índios e hoje é símbolo do Esporte
Clube Santo André.
João Ramalho estava casado
com as oito filhas do cacique Tibiriçá e sabia que os padres iriam
obrigá-lo a ter apenas uma mulher. Assim, fez de tudo para evitar que os jesuítas iniciassem seu
trabalho. Houve uma série de
tensos debates até que o padre
Manoel da Nóbrega teve a seguinte idéia:
- Por que não resolvemos isso
com um joguinho de futebol?
Durante alguns instantes o cacique Tibiriçá fez ares de pensador, cofiando o osso espetado em
seu lábio inferior. Depois respirou
fundo e respondeu:
- Está bem. Se vós, jesuítas, ganhardes, tereis o direito de catequizar a tribo, mas se perderdes,
sereis comidos por nós ainda hoje.
E foi assim que em 23 de janeiro
de 1554, há exatos 450 anos, jesuítas e índios se enfrentaram num
jogo decisivo para os destinos da
cidade. A várzea do rio Anhangabaú estava cheia, e até membros
de outras tribos, como guarulhos
e tupiniquins, se apertavam nas
colinas que davam vista à região.
Quando a partida começou, parecia que os guaianás iriam golear. Por jogarem nus, eles se deslocavam com grande facilidade.
Mas o goleiro Leonardo Nunes fazia milagres. Tantos milagres,
que a partir daquele jogo passou
a ser conhecido como Abarebebê,
que significa "padre voador".
O tempo ia passando e o zero
não saía do placar. De repente,
porém, o lance decisivo aconteceu: o padre Azpicuelta Navarro
passou para o padre Luís da Grã,
que foi à linha de fundo e, olhando para o meio da área, avistou o
padre José de Anchieta entre dois
zagueirões gentios.
A bola veio alta, mas o franzino
atacante esticou-se todo e acertou
uma potente cabeçada no canto
do arqueiro Piquerobi.
Os guaianás ainda tentaram
desesperadamente obter o empate, mas os batinas pretas se fecharam de maneira sólida na defesa
e garantiram a vitória. Quando o
jogo acabou, João Ramalho arrancava os cabelos de raiva.
Dois dias depois estava erguido
o colégio de taipa, no qual os padres da Companhia começaram
sua obra.
Essa é a real e verdadeira história da origem de São Paulo.
Quem quiser que conte outra.
Fantasma
E já que o assunto de hoje foi o
encontro entre índios e brancos, falarei do Fantasma Futebol Clube, citado na página
2.118 da Enciclopédia de Times
Imaginários. O verbete diz o seguinte: "O clube tem como sede
uma caverna na região do Golfo
de Bangalla e seu mascote é um
cavalo branco chamado Herói.
Seu fundador, presidente e goleiro é o célebre Fantasma, jogador que, segundo alguns, tem
mais de 400 anos. O resto do time é composto por pigmeus da
tribo Bandar. O problema é que
eles não são grande coisa no jogo aéreo, de modo que, mesmo
com o-espírito-que-anda no
gol, o Fantasma F.C. costuma
levar terríveis goleadas das tribos vizinhas.
Contagem regressiva
Sete...
E-mail torero@uol.com.br
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