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precisa-se de clube
No terrão, SP enfrenta o desemprego
Com treinos no parque da Aclimação, sindicato mantém a forma de jogadores sem contrato e tenta recolocá-los no mercado
Entidade, que dá bananas e maçãs para os "contratáveis" e os isenta de taxas, diz que 15% dos sindicalizados do Estado estão sem vínculos
Ricardo Nogueira/Folha Imagem
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Jogadores sem contrato com clubes participam de treinamento promovido pelo sindicato dos atletas de SP no parque da Aclimação, na zona sul da capital paulista
LUÍS FERRARI
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Três vezes por semana, o
campo de terra do parque da
Aclimação, em São Paulo, é tomado por um grupo que, antes
de bater sua bolinha, faz treino
físico e trabalha fundamentos.
O que parece vadiagem, na verdade, são homens tentando superar o desemprego no futebol.
Gente como Jackson Vieira
Santana, 24, que sai de Guarulhos de ônibus, trem e duas linhas de metrô -duas horas ao
todo- para chegar lá. Com passagens por União Barbarense,
Joseense e Taubaté, ele tenta
defender a carreira e o casamento, pretendido para 2007.
"Minha noiva dá apoio, sei
que posso conseguir. Sempre
há gente disposta a lhe ajudar",
diz Jackson, que já viu colegas
do terrão irem para o União
Leiria (POR) e Nacional de Rolândia, da Série A paranaense.
O que acontece no parque da
Aclimação é uma iniciativa do
Sindicato dos Atletas Profissionais de SP (Sapesp). O órgão estima que 15% dos sindicalizados estejam sem contrato.
Há um mês, o órgão pôs uma
comissão técnica para cuidar
dos "contratáveis", sem nenhum custo para os atletas. A
exigência para participar é que
sejam maiores e sindicalizados.
"Facilitamos a vida dos atletas e dos clubes, que podem
contratá-los a custo zero", diz
Rinaldo Martorelli, presidente
do sindicato, que alentava a
idéia desde 1997. "Nós nos
preocupamos em arquivar as
avaliações físicas, para o jogador levar para o clube que o
contratar." O sindicato ressalta
que não recebe pelos negócios.
O trabalho é coordenado por
José Roberto Portela, técnico e
preparador físico com passagens por São Paulo, Fluminense, Portuguesa e Atlético-MG.
"A gente fica sabendo dos garotos, e eles de nós. Fazemos
uma avaliação e passamos a
aprimorar fundamentos, condicioná-los para que possam jogar assim que possível. Graças a
Deus, o número oscila muito,
eles logo são contratados."
A idéia é quebrar o círculo vicioso surgido com o fim do passe -que vinculava o atleta a um
clube, mesmo depois que ele
deixava de ser júnior. Boleiros
sem contrato ficam sem atuar,
e o desemprego se perpetua.
É o caso de Daniel Evaristo
Tenório Cavalcanti, 23. Lateral-esquerdo, ele ficou no Palmeiras B, conheceu Francis e
Wendel, mas foi preterido pelo
então técnico Marcelo Vilar.
Rodou por Osasco e Independente de Limeira. Hoje, espera.
Por isso, o terrão da Aclimação, bastante empoçado pelas
chuvas, não chega a ser o fundo
do poço. "Já joguei em gramado
pior, todo desnivelado, que de
grama só tinha uns pedaços."
Ontem, ao menos quatro
atletas foram à Aclimação pela
primeira vez. É o caso do volante Cleiton Xavier, 19, reprovado
no Palmeiras. "Vou tentar até
que digam que não levo jeito."
E se não houver talento? Segundo Portela, o trabalho visa a
ajudar o mediano. Conta que há
no grupo um atleta bom de físico, porém fraco de técnica.
"Tento orientá-lo sobre outras carreiras, mas ele me disse
que não quer o Milan, no interior já estaria bom. Então o ajudo a superar as dificuldades."
E elas são muitas. Por ora, na
parte alimentar, o sindicato colabora com bananas e maçãs, já
que o trabalho começa de manhãzinha (leve-se em conta o
tempo de condução) e ultrapassa o meio-dia. Segundo Martorelli, espera-se criar auxílios-transporte e, futuramente, um
CT para os desempregados.
Outra preocupação é evitar
aproveitadores. O sindicato fica
à disposição dos atletas, principalmente na hora de assinar.
Mas golpistas não faltam quando se está no desespero.
"Teve um cara se passando
pelo Barbieri, ex-goleiro da
Ponte", lembra o noivo Jackson. "Pegou R$ 200 de alguns
colegas, dizendo que ia nos levar para o Nordeste e precisava
para despesas. Por sorte não
paguei, porque ele deu o cano."
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