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FUTEBOL
O brilho discreto de França
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O torcedor -refiro-me ao
sujeito que vai ao estádio ver
seu time jogar, faça chuva ou faça
sol, e com isso adquire o direito de
aplaudir ou vaiar à vontade- é
volúvel e imediatista. Ou melhor,
é volúvel porque é imediatista.
Ele não vê o passado nem o futuro, apenas o presente. É isso que
explica sua aparente incongruência. Num dado momento, Fulano
é um grosso. Minutos depois, faz
um gol, passa a ser um gênio.
Foi isso o que se viu no Morumbi anteontem. Até os 19min do segundo tempo, o São Paulo parecia prestes a viver o vexame de ser
eliminado em casa pelo Treze de
Campina Grande (PB) na primeira fase da Copa do Brasil.
Para o torcedor tricolor, encharcado de chuva até os ossos,
todo mundo em campo -do treinador Nelsinho aos astros Kaká e
França, passando, evidentemente, pelo juiz- merecia tomar
uma boa surra.
Pois bem, seja porque o time se
tomou de brios frente às vaias, seja porque deram certo as mudanças de Nelsinho (a entrada do
atacante Reinaldo e do meia-atacante Lúcio Flávio), o São Paulo
reagiu e goleou por 4 a 1.
Reinaldo, que fez dois gols, teve
seu nome gritado pela torcida.
Nem parecia que ele vinha sendo,
até aquele dia, o alvo preferencial
das vaias tricolores. Kaká marcou
os outros dois e voltou às graças
da torcida.
Mas o mais surpreendente foi
ver os são-paulinos gritarem, na
arquibancada, o nome de Nelsinho. E sem ironia.
A meu ver, a principal chave
para explicar a virada do São
Paulo foi a entrada de Reinaldo.
Não tanto por sua atuação, em si,
mas pelo fato de ter permitido
que França jogasse na região e na
função em que se sente mais à
vontade.
Que região e que função são essas? Aí é que está. França é hoje
um atacante singular, que atua
ao mesmo tempo como armador,
pivô e finalizador.
Seu jogo rende muito mais
quando conta com um companheiro de toque rápido ao seu lado (como Kaká) e com um homem de área à sua frente.
O esquema funcionou no ano
passado com França, Kaká e Luis
Fabiano. Com a saída deste último, ninguém ainda se firmou em
seu lugar. Nem Reinaldo, nem
Dill, nem Sandro Hiroshi.
Mas o certo é que, com uma formação assim, o futebol de França
floresce.
O que há de diferente no modo
de França jogar é o fato de que ele
praticamente não atua nem de
costas nem de frente para o gol
adversário, mas "de lado". Pode
reparar.
França geralmente recebe a bola em uma das meias (direita ou
esquerda) e a conduz em direção
ao outro lado, em linha paralela à
área adversária. Desse modo, tem
uma visão mais abrangente da
posição e dos movimentos de seus
companheiros. Basta um toque
em diagonal para colocá-los na
cara do gol ou iniciar uma tabela
que talvez seja concluída por ele
próprio.
Esse "estilo", se podemos qualificá-lo assim, tem inúmeras variações possíveis. França pode
avançar para a esquerda e dar
um passe de calcanhar para um
companheiro por quem já passou
em seu trajeto, pode divisar uma
brecha e chutar direto para o gol,
pode também driblar e "cavar"
uma falta etc.
Tudo muito simples, mas nada
óbvio. Na última quinta-feira,
França não fez gol e ninguém gritou seu nome. Mas foi o homem
do jogo.
Perguntas à CBF
Falcão foi convidado para ser
"consultor técnico" da seleção, ou coisa que o valha. Ao
escrever esta coluna, ainda
não sei se ele aceitará. Mesmo
que não aceite, parece que ficou insustentável a situação
do soturno Antônio Lopes.
Prefiro Falcão a Lopes, mas a
questão é: quais as atribuições desse cargo? Qual a diferença entre coordenador,
consultor e supervisor?
Rodada quente
O Palmeiras, que amanhã pega o fraco América, tem tudo
para assumir a liderança do
Rio-SP e apagar o vexame da
eliminação da Copa do Brasil
pelo ASA. Mas é na Sul-Minas que estão os clássicos
mais eletrizantes. No Mineirão, o Cruzeiro em ascensão
enfrenta o Atlético-MG em
queda. Em Curitiba, o Atlético-PR, campeão brasileiro,
pega o Coritiba, que está dois
pontos à sua frente.
E-mail
jgcouto@uol.com.br
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