São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2002

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FUTEBOL

O brilho discreto de França

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O torcedor -refiro-me ao sujeito que vai ao estádio ver seu time jogar, faça chuva ou faça sol, e com isso adquire o direito de aplaudir ou vaiar à vontade- é volúvel e imediatista. Ou melhor, é volúvel porque é imediatista.
Ele não vê o passado nem o futuro, apenas o presente. É isso que explica sua aparente incongruência. Num dado momento, Fulano é um grosso. Minutos depois, faz um gol, passa a ser um gênio.
Foi isso o que se viu no Morumbi anteontem. Até os 19min do segundo tempo, o São Paulo parecia prestes a viver o vexame de ser eliminado em casa pelo Treze de Campina Grande (PB) na primeira fase da Copa do Brasil.
Para o torcedor tricolor, encharcado de chuva até os ossos, todo mundo em campo -do treinador Nelsinho aos astros Kaká e França, passando, evidentemente, pelo juiz- merecia tomar uma boa surra.
Pois bem, seja porque o time se tomou de brios frente às vaias, seja porque deram certo as mudanças de Nelsinho (a entrada do atacante Reinaldo e do meia-atacante Lúcio Flávio), o São Paulo reagiu e goleou por 4 a 1.
Reinaldo, que fez dois gols, teve seu nome gritado pela torcida. Nem parecia que ele vinha sendo, até aquele dia, o alvo preferencial das vaias tricolores. Kaká marcou os outros dois e voltou às graças da torcida.
Mas o mais surpreendente foi ver os são-paulinos gritarem, na arquibancada, o nome de Nelsinho. E sem ironia.
A meu ver, a principal chave para explicar a virada do São Paulo foi a entrada de Reinaldo. Não tanto por sua atuação, em si, mas pelo fato de ter permitido que França jogasse na região e na função em que se sente mais à vontade.
Que região e que função são essas? Aí é que está. França é hoje um atacante singular, que atua ao mesmo tempo como armador, pivô e finalizador.
Seu jogo rende muito mais quando conta com um companheiro de toque rápido ao seu lado (como Kaká) e com um homem de área à sua frente.
O esquema funcionou no ano passado com França, Kaká e Luis Fabiano. Com a saída deste último, ninguém ainda se firmou em seu lugar. Nem Reinaldo, nem Dill, nem Sandro Hiroshi.
Mas o certo é que, com uma formação assim, o futebol de França floresce.
O que há de diferente no modo de França jogar é o fato de que ele praticamente não atua nem de costas nem de frente para o gol adversário, mas "de lado". Pode reparar.
França geralmente recebe a bola em uma das meias (direita ou esquerda) e a conduz em direção ao outro lado, em linha paralela à área adversária. Desse modo, tem uma visão mais abrangente da posição e dos movimentos de seus companheiros. Basta um toque em diagonal para colocá-los na cara do gol ou iniciar uma tabela que talvez seja concluída por ele próprio.
Esse "estilo", se podemos qualificá-lo assim, tem inúmeras variações possíveis. França pode avançar para a esquerda e dar um passe de calcanhar para um companheiro por quem já passou em seu trajeto, pode divisar uma brecha e chutar direto para o gol, pode também driblar e "cavar" uma falta etc.
Tudo muito simples, mas nada óbvio. Na última quinta-feira, França não fez gol e ninguém gritou seu nome. Mas foi o homem do jogo.

Perguntas à CBF
Falcão foi convidado para ser "consultor técnico" da seleção, ou coisa que o valha. Ao escrever esta coluna, ainda não sei se ele aceitará. Mesmo que não aceite, parece que ficou insustentável a situação do soturno Antônio Lopes. Prefiro Falcão a Lopes, mas a questão é: quais as atribuições desse cargo? Qual a diferença entre coordenador, consultor e supervisor?

Rodada quente
O Palmeiras, que amanhã pega o fraco América, tem tudo para assumir a liderança do Rio-SP e apagar o vexame da eliminação da Copa do Brasil pelo ASA. Mas é na Sul-Minas que estão os clássicos mais eletrizantes. No Mineirão, o Cruzeiro em ascensão enfrenta o Atlético-MG em queda. Em Curitiba, o Atlético-PR, campeão brasileiro, pega o Coritiba, que está dois pontos à sua frente.

E-mail
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