São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

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Paulista corta dribles, planta faltas e colhe queda de gols

Campeonato tem edição mais violenta e com menos fintas; artilharia cai 10% em relação ao ano passado e é a menos produtiva em quase 10 anos

RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Destruir muito e ousar pouco. Nunca essa combinação foi tão usada no Campeonato Paulista como na edição deste ano.
A fórmula faz a competição ter, ao mesmo tempo, o menor número de dribles e a maior quantidade de faltas desde que o Datafolha passou a acompanhar a competição, em 1986.
O resultado dessa equação aparece na artilharia -o torneio tem média de 3,03 gols por jogo, um tombo de 10% em relação ao ano passado e a menor marca desde 1995. Na rodada do final de semana, a rede balançou menos ainda -média de 2,11 vezes por partida.
Hoje, cada partida tem, em média, 52,4 infrações. Índice próximo só ocorreu em 1990, quando esse recurso era usado 52,3 vezes.
A inibição dos jogadores para driblar quebrou um recorde negativo mais recente, que havia sido estabelecido no ano passado. O campeonato vencido pelo Corinthians em 2003 foi o que teve menos firulas desde 1997, quando elas começaram a entrar no levantamento do Datafolha.
No ano passado, a média era de 32,2 dribles. Hoje, caiu para 28,6.
A queda segue uma tendência: a cada ano, os jogadores dos times paulistas têm menos iniciativa para driblar. Se a corrente não for quebrada, as jogadas que empolgam torcedores entrarão em extinção no Estadual.
Em 1997, houve mais que o dobro de fintas em relação a este ano. Foram 66 por partida. Isso num campeonato menos violento -49,2 faltas, em média.
"Muitos times estão abusando das faltas, e isso acaba com o espetáculo", afirmou o corintiano Gil.
Ele relaciona a voracidade dos marcadores ao aumento da timidez de quem ataca. "As faltas desleais, aquelas que são agressões, inibem os atacantes."
Em tempos de pouca criatividade no ataque, quem mais ousa no Estadual é um time do interior, o Guarani. A equipe tem o principal driblador: Alex, com média de 6,3 por partida. O segundo, empatado com Robinho e Reinaldo, da Portuguesa Santista, é Roncato, também do Guarani. Os três driblam os rivais cinco vezes por jogo. Robinho é o único representante dos times grandes entre os seis maiores dribladores.
Porém, entre os times mais violentos, a liderança do ranking está com um dos grandes, o São Paulo. A equipe de Cuca comete, em média, 32,8 infrações por jogo.
Os são-paulinos trocaram a ponta do ranking das firulas pelo da violência. Entre 1997 e 2000, por três vezes o clube do Morumbi, que em outros tempos já havia contado com a ginga de Canhoteiro e Zé Sérgio, terminou o Estadual com o principal driblador -duas com o atacante Denílson, em 1997 e 1998, e uma com o meia Vágner, na competição de 2000.
Hoje, além de ser o mais violento, o São Paulo tem o segundo e o terceiro atletas mais faltosos: Grafite e Lugano, respectivamente.
Grafite é um dos principais representantes do futebol de muita truculência e pouca fantasia entre os atacantes. É o segundo mais faltoso do Estadual, com uma média de 6,2 infrações por jogo.
Porém ele não aparece nem entre os 20 principais dribladores. Sua média é de três fintas.
"Tenho mais recursos na marcação que o Luis Fabiano, por isso ajudo muito a marcar, só que não sou desleal", declarou Grafite.
Enquanto o São Paulo tem um atacante que destrói, o Palmeiras exibe um volante que tenta driblar os rivais. Magrão, apesar de priorizar a marcação, é o líder desse fundamento do time.
No ano passado, ele foi o 17º desse ranking no Paulista. Hoje é o 11º, com 3,8 fintas, em média.


Colaborou Eduardo Arrruda, da Reportagem Local


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