São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2001

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FUTEBOL

Pequeno dicionário

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Ter um bom vocabulário é fundamental para que o leitor possa expressar-se melhor e entender as filigranas do ""ludopédio". Abaixo, a explicação de algumas palavras do nosso vernáculo:
Almofada - objeto que, a despeito do que a sua mulher diga, foi feito para ser socado durante uma partida de futebol. Quanto maiores e mais fofas, melhores.
Barriga - protuberância ventral que se desenvolve em indivíduos que, como eu, passam horas vendo a programação esportiva da TV. O controle remoto e a pipoca ajudam. Porém, para nossa sorte já há lojas que vendem camisas compatíveis com o nosso biótipo e calças com elástico podem compor muito bem num traje esportivo chique.
Controle remoto - aparelho imprescindível na hora de um lance de perigo ou da cobrança de um pênalti contra nosso time. Graças a ele podemos viver esse momento de aflição sem ter que fechar os olhos ou virar o rosto, como antigamente. Podemos passar alguns segundos por alguma novela mexicana, algum pastor pregando a palavra de Deus ou até por um comercial, desses que vendem aparatos milagrosos contra calvície e barriga. Bendito sejas, controle remoto, pois sois uma breve pausa na agonia da partida.
Deus - apesar de ser onipresente, raramente nos lembramos dele numa partida de futebol. A não ser, é claro, quando a trave evita um gol do adversário. Aí sim, damos-lhe os merecidos agradecimentos e dizemos ""Graças a deus!".
Elegância - qualidade comportamental do ser humano um tanto rara no decorrer de competições esportivas.
Figa - determinada maneira de dispor o polegar entre os dedos indicador e médio, cujo objetivo é o de influir sorte ao time. De acordo com minhas recentes experiências, trata-se de um recurso de eficácia duvidosa.
Grrr! - interjeição; não é aconselhável a aproximação quando ela é emitida.
Hora - cientistas dizem que é uma medição de tempo composta por 60 minutos. Os cientistas não sabem nada. Se seu time está vencendo, uma hora pode ter 120, 150 minutos. Se está ganhando, 30 ou 20 segundos.
Ilhas do Caribe - lugar onde boa parte dos dirigentes, empresários e agentes de jogadores famosos têm contas.
Jornal - monte de papel cheio de letras sem o qual não podemos viver no dia seguinte após uma vitória do nosso time.
Loucos - o que parecemos ser quando assistimos a uma partida. Sinônimo de torcedor.
Militares - torcedores um tanto esquisitos que sempre andam acompanhados de cachorros e assistem aos jogos virados de costas para o campo.
Não! - uma das expressões mais frequentes no decorrer de um jogo, utilizada quando sua equipe perde um gol ou quando o adversário não. Quase sempre vem junto com suor, um arreganhar de dentes e uma contração de músculos da face que resulta numa expressão pouco bonita.
Olé! - interjeição de origem hispânica, empregada para zombar do adversário. Palavra muito boa de se dizer e muito dolorosa de se escutar.
Pipoca - acompanhamento nutritivo vital para jogos. Dizem que engorda, mas quem pensa em emagrecer vendo uma partida?!
Queixume - reação da maioria dos torcedores; ir a um estádio e não ouvir um queixume é como ir a uma igreja e não ouvir falar de dízimo.
Referee - árbitro em português; sujeito que tem por mãe uma senhora de comportamento questionável e nunca marca os doze pênaltis que nosso time sofre durante um jogo.
Sorvete - doce gelado muito vendido em estádios; alivia os nervos quando os malditos amendoins acabam.
Tontão do escritório - sujeito dotado de prodigiosa chatice e que se acha no direito de gozar da nossa cara após jornadas infelizes do nosso time.
Uuuh! - Uuuh! é o gol feito que alguém não fez, é a incrível defesa a um milímetro da linha, é a bola caprichosa que insiste em bater na trave.
Virada - momento em que a treva se transforma em luz; a lágrima se faz em riso, a vida triunfa sobre a morte.
Xixi - líquido excrementício, pipi, mijo. Não se sabe o porquê, mas é fato comprovado que o xixi sempre pressiona nossa bexiga exatamente quando nosso time está atacando.
Zoeira - sensação que domina nossa cabeça após uma derrota. Geralmente vem acompanhada de fome, cansaço e de uma jura: a de que nunca mais torceremos por nosso maldito time. Jura que é esquecida assim que começa a próxima partida.

E-mail : torero@uol.com.br


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