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FUTEBOL
Pequeno dicionário
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Ter um bom vocabulário é
fundamental para que o
leitor possa expressar-se melhor
e entender as filigranas do ""ludopédio". Abaixo, a explicação
de algumas palavras do nosso
vernáculo:
Almofada - objeto que, a
despeito do que a sua mulher diga, foi feito para ser socado durante uma partida de futebol.
Quanto maiores e mais fofas,
melhores.
Barriga - protuberância
ventral que se desenvolve em indivíduos que, como eu, passam
horas vendo a programação esportiva da TV. O controle remoto e a pipoca ajudam. Porém,
para nossa sorte já há lojas que
vendem camisas compatíveis
com o nosso biótipo e calças com
elástico podem compor muito
bem num traje esportivo chique.
Controle remoto - aparelho
imprescindível na hora de um
lance de perigo ou da cobrança
de um pênalti contra nosso time. Graças a ele podemos viver
esse momento de aflição sem ter
que fechar os olhos ou virar o
rosto, como antigamente. Podemos passar alguns segundos por
alguma novela mexicana, algum pastor pregando a palavra
de Deus ou até por um comercial, desses que vendem aparatos milagrosos contra calvície e
barriga. Bendito sejas, controle
remoto, pois sois uma breve
pausa na agonia da partida.
Deus - apesar de ser onipresente, raramente nos lembramos dele numa partida de futebol. A não ser, é claro, quando a
trave evita um gol do adversário. Aí sim, damos-lhe os merecidos agradecimentos e dizemos
""Graças a deus!".
Elegância - qualidade comportamental do ser humano um
tanto rara no decorrer de competições esportivas.
Figa - determinada maneira
de dispor o polegar entre os dedos indicador e médio, cujo objetivo é o de influir sorte ao time.
De acordo com minhas recentes
experiências, trata-se de um recurso de eficácia duvidosa.
Grrr! - interjeição; não é
aconselhável a aproximação
quando ela é emitida.
Hora - cientistas dizem que é
uma medição de tempo composta por 60 minutos. Os cientistas não sabem nada. Se seu time
está vencendo, uma hora pode
ter 120, 150 minutos. Se está ganhando, 30 ou 20 segundos.
Ilhas do Caribe - lugar onde
boa parte dos dirigentes, empresários e agentes de jogadores famosos têm contas.
Jornal - monte de papel
cheio de letras sem o qual não
podemos viver no dia seguinte
após uma vitória do nosso time.
Loucos - o que parecemos ser
quando assistimos a uma partida. Sinônimo de torcedor.
Militares - torcedores um
tanto esquisitos que sempre andam acompanhados de cachorros e assistem aos jogos virados
de costas para o campo.
Não! - uma das expressões
mais frequentes no decorrer de
um jogo, utilizada quando sua
equipe perde um gol ou quando
o adversário não. Quase sempre
vem junto com suor, um arreganhar de dentes e uma contração
de músculos da face que resulta
numa expressão pouco bonita.
Olé! - interjeição de origem
hispânica, empregada para
zombar do adversário. Palavra
muito boa de se dizer e muito
dolorosa de se escutar.
Pipoca - acompanhamento
nutritivo vital para jogos. Dizem que engorda, mas quem
pensa em emagrecer vendo uma
partida?!
Queixume - reação da maioria dos torcedores; ir a um estádio e não ouvir um queixume é
como ir a uma igreja e não ouvir
falar de dízimo.
Referee - árbitro em português; sujeito que tem por mãe
uma senhora de comportamento questionável e nunca marca
os doze pênaltis que nosso time
sofre durante um jogo.
Sorvete - doce gelado muito
vendido em estádios; alivia os
nervos quando os malditos
amendoins acabam.
Tontão do escritório - sujeito
dotado de prodigiosa chatice e
que se acha no direito de gozar
da nossa cara após jornadas infelizes do nosso time.
Uuuh! - Uuuh! é o gol feito
que alguém não fez, é a incrível
defesa a um milímetro da linha,
é a bola caprichosa que insiste
em bater na trave.
Virada - momento em que a
treva se transforma em luz; a lágrima se faz em riso, a vida
triunfa sobre a morte.
Xixi - líquido excrementício,
pipi, mijo. Não se sabe o porquê,
mas é fato comprovado que o xixi sempre pressiona nossa bexiga exatamente quando nosso time está atacando.
Zoeira - sensação que domina nossa cabeça após uma derrota. Geralmente vem acompanhada de fome, cansaço e de
uma jura: a de que nunca mais
torceremos por nosso maldito time. Jura que é esquecida assim
que começa a próxima partida.
E-mail : torero@uol.com.br
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