São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

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Atletas não sabem com que roupa irão a Atenas

Patrick Hertzog - 25.set.00/France Presse
A autraliana Cathy Freeman com a roupa "homem-aranha" em Sydney-2000


Problemas na distribuição das peças prejudica os testes prévios para evitar erros do Pan-2003

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Calejada pelos problemas enfrentados nos Jogos de Sydney-2000 e no Pan de Santo Domingo-2003, a Olympikus decidiu se antecipar para evitar novos erros.
Há cinco meses dos Jogos de Atenas, a fornecedora de material esportivo do Comitê Olímpico Brasileiro enviou à entidade, em meados de fevereiro, o protótipo de 164 uniformes para testes.
Mas a iniciativa de pôr as peças na mão dos atletas para fazer ajustes e evitar futuras reclamações pode fazer água: muitos modelos simplesmente não chegaram a quem irá usá-los nos torneios.
O COB só não recebeu os uniformes das modalidades que terão fornecedores próprios e diz que repassou o material a todas as confederações. Só quatro pediram ajustes: as de basquete, handebol, boxe e vôlei, que só avaliou as peças da praia, já que as duas seleções vestem Olympikus, empresa nacional líder no Brasil.
Mas não é o que dizem as entidades. As confederações de levantamento de peso e lutas, por exemplo, são duas que reclamam não terem visto os uniformes.
A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos também protesta. Alice Kohler, coordenadora de saltos ornamentais, recebeu apenas ontem pedido do COB para que enviasse um modelo para a confecção do material.
"Nunca vi mandarem nada com antecedência. No Pan, o maiô da Juliana [Veloso] veio enorme. Só não tivemos problema porque eu sei que vai dar errado e já mando fazer outro", afirmou a dirigente.
As duplas de vôlei de praia, que já haviam disponibilizado peças para a Olympikus usar como molde, não viram o resultado até agora. "Não recebi nada. Seria ótimo testar. Já pensou ter que me preocupar com o biquíni na hora?", perguntou Sandra Pires.
No COB e na Olympikus, consta que o uniforme já foi analisado e precisa de mudanças. A parceira de Ana Paula, no entanto, só deve provar o biquíni no desfile para apresentar o enxoval olímpico que, como o do Pan, foi desenhado por Alexandre Herchcovitch.
Mesmo as confederações que admitem a chegada do material reconhecem que não os testaram nos atletas. "Recebi um kit de tamanho aleatório", justifica Luís Claudio Boselli, presidente da Confederação Brasileira de Boxe.
A observação das peças, no entanto, livrou o Brasil de confeccionar uniformes fora dos padrões internacionais. O protótipo não tinha uma faixa branca na cintura necessária para demarcar a área que pode ser atingida pelos socos.
Outras confederações, não citadas pelo COB, também pediram mudanças. A camisa do tênis de mesa não tinha o nome dos atletas nas costas, o tecido da blusa feminina de tênis era grosso demais.
Para a Olympikus, a confusão não é de sua responsabilidade. "Isso é um problema do COB. Além dos testes que fizemos no Pan, queríamos dar um "mimo" adicional dando bastante antecedência para os atletas testarem as peças", disse Tiago Pinto, gerente de marketing da marca.
A idéia da empresa era que eles pudessem vestir os uniformes para indicar ajustes necessários, evitando o que ocorreu em Santo Domingo. No Pan, sem testes prévios, o resultado foi desastroso.
O caso mais grave foi o do time feminino de pólo aquático. A seleção recebeu um maiô com um decote nas costas, que poderia ser facilmente agarrado pelas jogadoras adversárias. Em cima da hora, apelaram a outro fornecedor.
Na República Dominicana, outros problemas atormentaram atletas do ciclismo, do tênis, da natação e dos saltos ornamentais.
Para Martinho Nobre dos Santos, secretário-geral da confederação de atletismo, testar o uniforme com antecedência deveria ser regra. "Duro é entender o que é cavalo, bainha, e depois passar as mudanças para o fabricante", comentou o dirigente.

Colaboraram Adalberto Leister Filho, Luís Ferrari e João Carlos Assumpção, da Reportagem Local


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