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ONG vê "jogo sujo" nos uniformes
DA REPORTAGEM LOCAL
Às vésperas dos Jogos Olímpicos as grandes empresas de material esportivo sempre inundam o
mercado com inovações tecnológicas e roupas futuristas para os
atletas e dezenas de novidades para o consumidor comum.
E também se vêem envolvidas
em uma velha polêmica: a exploração de mão-de-obra na confecção do material esportivo.
A produção visando o evento
que acontece em Atenas, a partir
de 13 de agosto, já começou.
Com o aumento do trabalho nas
fábricas, mais uma vez as empresas voltam a enfrentar denúncias,
como já ocorrera antes dos Jogos
de Sydney, em 2000, e da Copa do
Mundo de futebol, em 2002.
Dados levantados por uma
ONG inglesa apontam irregularidades no processo de fabricação
das roupas que serão usadas pelos
atletas na Olimpíada e consumidas por milhões de pessoas.
A Oxfam criou, em parceria
com outras entidades do país,
uma campanha batizada de "Jogo
Limpo na Olimpíada".
A idéia do movimento é investigar a exploração de trabalhadores
que estão empregados na confecção do material olímpico de grandes empresas internacionais.
Pesquisa realizada pela Oxfam e
seus parceiros em sete países
-Bulgária, Camboja, China, Taiwan, Indonésia, Tailândia e Turquia- mostra que gigantes da industria esportiva estariam explorando mão-de-obra, principalmente a de mulheres, para aumentar sua produção.
Entre as empresas investigadas
estão Nike, Adidas, Fila, Reebok,
Puma, Asics, Mizuno, Lotto, Kappa e Umbro.
"Nossa campanha quer que as
companhias joguem limpo. Também queremos chamar a atenção
do Movimento Olímpico e do público em geral para pressionar essas empresas e dar recomendações a governos, fornecedores esportivos e gerentes das fábricas",
disse à Folha Anna Mitchell, representante da Oxfam.
Entre as acusações da ONG estão intimidação de trabalhadores
na Indonésia, punição daqueles
que se recusam a fazer hora-extra
na Bulgária, chineses que recebiam apenas US$ 12 por mês e jornadas de mais de 16 horas, seis
dias por semana.
A Oxfam associa a exploração
dos trabalhadores à tentativa de
essas indústrias baratearem seus
produtos e se tornarem mais
competitivas no mercado mundial. Não à toa a maioria das denúncias aparecem em países do
continente asiático em que a população vive com um poder aquisitivo muito baixo.
A indústria de material esportivo lucrou em 2002 US$ 58 bilhões,
segundo a entidade inglesa.
"Nós trabalhávamos até 2h, 3h
da manhã. Também fazíamos jornada dupla. Nós ficávamos exaustas, mas não havia saída", relatou
à Oxfam, uma trabalhadora de 22
anos, que trabalha em uma fábrica da Puma na Tailândia. "Não
podíamos recusar hora-extra
porque nossa média salarial era
muito baixa", disse.
Por causa de declarações como
esta, a Puma já foi acionada pela
ONG e pelo Sindicato dos Trabalhadores da Inglaterra. Eles querem que a empresa investigue os
casos e acerte a situação dos trabalhadores em sua fábrica.
"Os Jogos Olímpicos devem ser
um show para a realização do ser
humano. Mas as indústrias de
material esportivo estão violando
esse espírito com a exploração e o
abuso dos direitos dos trabalhadores", disse Brendan Barber, secretário-geral do sindicato.
O Comitê Olímpico Internacional declarou que está trabalhando
com as federações internacionais
para tentar interferir no assunto.
Outras empresas também foram chamadas para conversar
com as organizações.
Elas já conseguiram promessa
de várias delas de que fiscalizariam as fábricas desses países e, se
comprovada alguma irregularidade, tomariam providências.
A Nike, por exemplo, diz que
apóia o relatório da Oxfam, mas
questiona o fato de não conhecer
certos dados, já que mantém estudos sobre as condições de trabalho em duas fábricas.
"Respeitamos a decisão da Oxfam de preservar a identidade dos
trabalhadores de fábricas entrevistados, mas iremos investigar as
alegações", disse a Nike por meio
de sua assessoria.
A empresa diz, por exemplo,
que a Aliança Global para Trabalhadores e Comunidades, que se
dedica a tentar aperfeiçoar as condições de trabalho no mundo, entrevistou cerca de 12.200 trabalhadores em 49 fábricas em cinco
países nos últimos anos e não obteve os mesmos dados.
(GUILHERME ROSEGUINI E MARIANA LAJOLO)
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