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FUTEBOL
Bateu, levou: jornalismo e violência
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Quem sabe -a academia
apronta cada surpresa-
ainda não aparece uma tese ensinando que, quando um técnico
de futebol manda seu atacante
ciscador cavar um pênalti, na verdade ele quer dizer para pegar
uma pá e tirar um pouco de grama e terra do que no tempo de
Friedenreich se chamava marca
dos 11 metros. Vai ver é linguagem de boleiros.
Na corporação dos treinadores
inexiste surpresa. De onde menos
se espera alguma coisa é que ela
não sai. Às vésperas da decisão
que deu o título do Rio ao Flamengo, o técnico vascaíno Geninho bradou em um treino: "Ficou
parado, chuta o tornozelo dele".
Os colegas treineiros saíram em
sua defesa: foi maneira de falar,
idioma do futebol, não mandou
bater.
No jornalismo esportivo, o que
também era previsível, Geninho
teve amplo respaldo. A despeito
da condenação de quem ouviu
um incentivo à violência, pareceu
majoritária a opinião de que, ao
mandar chutar o tornozelo de
quem fica parado, Geninho não
estava mandando chutar o tornozelo de quem fica parado. Só queria reforçar a marcação.
Agora mesmo não faltará a
condenação jornalística: requentando assunto, não tem do que falar, deve ter passado o feriado na
praia e perdeu a rodada inaugural do Campeonato Brasileiro.
Nem uma coisa nem as outras.
Apagar da memória um episódio
como o da semana passada contribui para que ele se repita.
Três dias antes de o técnico sancionar a Lei de Geninho, o rubro-negro Felipe infernizara o Vasco
com seus dribles no abril vermelho e preto. Felipe pára antes de
driblar. Dribla parado. E tem andado com um tornozelo baleado.
Casca de abacaxi, cheiro de
abacaxi e gosto de abacaxi
-abacaxi é. E se não for? Quer
dizer que, se não fosse em Felipe,
tudo bem? Podia chutar?
Irresponsável não é condenar
Geninho. É a leniência do jornalismo com a violência no futebol.
E alguém acha que é só Geninho?
Ouvi a pergunta como argumento para deixar pra lá o episódio.
Pelo contrário: que sirva como lição aos truculentos.
Quando certa feita Geninho gritou "pega!", e o lateral Roger pegou e foi expulso, havia dúvidas
sobre a mensagem. O emissor jurou que não quisera dizer o que
entendera o receptor. É do jogo.
Não dá para igualar o incerto
"pega" com a evidência do "chuta!". Mesmo sabendo que os códigos dos meios têm significados só
compreensíveis a estes.
Quem melhor esclareceu a pendenga foram os jogadores do Vasco. Entenderam a ordem. Bateram tanto que houve "apenas"
quatro expulsões devido à parcimônia do árbitro. Coutinho não
chutou o tornozelo. Rebelde, acertou Felipe mais em cima, quase
no joelho.
As misérias do jornalismo não
devem intimidá-lo a cumprir a
missão de fiscal dos interesses de
leitores e espectadores. A busca de
decência no futebol não se opõe à
defesa da ética nas Redações. Geninho não disse uma frase infeliz.
Deu uma ordem criminosa.
Caindo a ficha
Palmeiras e Botafogo mostraram nos Estaduais que a volta à
Primeirona não os devolvia automaticamente ao primeiro time. O alviverde tem muito a
evoluir para sonhar com o Brasileiro. Não ser re-rebaixado
parece a ambição máxima do
alvinegro. Os azulões Cruzeiro
e São Caetano pintam como favoritos, ao lado do Santos.
Coração alado
Errou quem achava que a Federação Gaúcha levaria o troféu
de trapalhadas de 2004. Afinal,
marcou as finais do Gauchão
para meados do ano. Mas o
presidente da Federação Cearense, Fares Lopes, fiel aliado
de Ricardo Teixeira, passou à
frente. Lá, não se sabe nem se
haverá campeão. As finais bateram asas e voaram.
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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