São Paulo, domingo, 23 de abril de 2006

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FUTEBOL

Está tudo contaminado

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

Do alto de sua sabedoria, o professor da USP Gabriel Cohn cravou: "Sociólogo no Brasil que não tiver os fundilhos das calças puídas pelas arquibancadas não entenderá este país".
De fato. Com apoio e o carinho de Lula, Ricardo Teixeira quer dominar a CBF até 2015, com o que completará nada menos que 26 anos no poder.
Já o principal concorrente de Lula, Geraldo Alckmin, saiu na capa da revisteca da Federação Paulista de Futebol numa edição fartamente agraciada com anúncios da "Nossa (deles) Caixa".
A FPF é presidida por Marco Pólo Del Nero, representante do reverendo Moon no Brasil.
O filho de Del Nero trabalha na estatal que controla o porto de Santos, sob as ordens do petista Mauro Marques, vice-presidente da FPF, que levou Lula à festa da entidade e está fartamente contemplado pelo relatório da Kroll sobre as estripulias de uma tal Tecnosistemi, ex-braço da TIM.
Estranha união, portanto, entre petistas, tucanos, a guerra das teles, Moon e a Opus Dei.
No meio do campo, o futebol. E a Copa do Mundo no Brasil.
Copa que Joseph Blatter, presidente da Fifa, vê ameaçada pela falta de bons estádios no país. E que admite possa vir a ser realizada na América do Norte, não na do Sul, como parecia garantido. Mais exatamente no Canadá.
Teixeira, que não faz da sutileza sua maior característica, nem chiou. Ao contrário, agradeceu o alerta e acrescentou que precisaremos construir novos estádios, algo que os italianos não fizeram, em 1990, nem os norte-americanos, em 1994, nem os franceses (fizeram um), em 1998.
Blatter pode ter apenas acenado com uma hipótese de negociação ao seu colega brasileiro, que quer sucedê-lo nas eleições da Fifa, marcadas para 2007. "Te dou a Copa e tu me dás sossego" ou "se queres a Copa, tens de abrir mão da Fifa, porque podes ficar sem uma coisa nem outra".
Suposições, registre-se.
Mas tudo é muito emblemático no futebol.
Quem aproximou Lula de Ricardo Teixeira, ainda quando o primeiro era candidato à presidência da República, foi Duda Mendonça, que os botou em contato telefônico para que o primeiro cumprimentasse o segundo pela conquista do penta.
Cobrado pela aproximação, Lula negou. Era, no entanto, só mais uma de suas mentiras.
Por conta da AmBev, outro publicitário, Nizan Guanaes, encarregou-se de completar o serviço do conterrâneo Mendonça, já com Lula na presidência.
E lá foi a seleção brasileira jogar no Haiti, Timemania etc e tal.
O mundo dá voltas.
A promotora de eventos de Fernando Henrique Cardoso, Bia Aydar, que na primeira campanha de FHC, e sob orientação dele, colocou Ricardo Teixeira escondido atrás de uma coluna do salão de festas do Pinheiros por ocasião do "Almoço dos Esportistas", hoje organiza promoções da CBF.
Futebol, teles, agências de propaganda, estádios/empreiteiras, religiões, política, tudo se mistura.

Por quê?
Por que, após tanto tempo, a Polícia Federal não concluiu o inquérito pedido pelo Ministério Público Federal sobre a MSI? A estranheza é maior diante do que foi apurado pelo Ministério Público Estadual.

De novo, por quê?
Por que o Tribunal de Ética da OAB-Campinas está sentado há anos sobre o processo de expulsão de Artur Eugenio Mathias, com forte influência no Guarani, dono de um infame portal sobre o futebol interiorano, sentenciado à prisão por formação de quadrilha e ainda em atividade como advogado?

Enfim, bola
O jogo de hoje é no Mineirão: Cruzeiro x Grêmio. Prova de fogo.


@ - blogdojuca@uol.com.br

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