São Paulo, quinta-feira, 23 de abril de 2009

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JUCA KFOURI

Leonardo da ruptura


Enfim, o ex-rubro-negro e ex-tricolor, atual dirigente do Milan, desce do muro e defende que se rompa


LEONARDO AVANÇOU . Como nos seus bons tempos de ala do Flamengo e do São Paulo, além do Milan e da seleção brasileira, Leonardo deu um passo à frente e abandonou o estilo tucano de contemporizador.
Ele, que sempre foi crítico da estrutura perversa e corrupta de nosso futebol, nunca foi para o confronto, sempre com um discurso cauteloso, algodão entre cristais, como se pisasse em ovos. Bem ao estilo, aliás, da história de mais de 500 anos do país. Mas eis que, na semana passada, ele saiu de seus cuidados e disse aquilo que seus admiradores esperavam, há tempos, que dissesse. Em corajosa entrevista a Fabio Juppa, de "O Globo", Leonardo radicalizou e propôs simplesmente, sem papas na língua, a venda do Flamengo: "Abre o clube. Vende o Flamengo", disse. E disse mais, disse o óbvio, como tem de ser dito: "É um sistema que não tem mais como sobreviver, pois hoje não há como injetar o que Flamengo mais precisa, que é dinheiro. Tem uma dívida pública, uma privada, não tem crédito e não tem liderança. Todas as lideranças que passaram pelo clube foram esgotadas e para nascer uma nova só acabando com a atual".
Mas como fazer?, Juppa perguntou: "Há dois caminhos: o primeiro é o Estado intervir, como aconteceu na Inglaterra, na Espanha, em Portugal, ainda que o Brasil não tenha política para isso.(...) O segundo é a minha proposta: abre o clube, vende o Flamengo". Em poucas frases, como se lê, Leonardo foi ao ponto. Como os governos brasileiros têm a marca do paternalismo e da negociação para não perder nem os anéis nem os dedos, deles nada indica que virá alguma coisa melhor que a farsa das timemanias. Esperar de algum deles uma solução à inglesa ou à italiana, se nem o do PT teve coragem de botar a faca no peito dos clubes e ordem na casa do futebol, é esperar como Pedro Pedreiro de Chico Buarque.
A solução, então, é privada. E, para tanto, não se pode esperar que algum investidor queira pôr dinheiro nas mãos da esmagadora maioria dos cartolas que aí estão. E parcerias barrigas de aluguel, como temos visto, também não são solução, porque quem é parceiro de todos não é parceiro de ninguém, a não ser de si mesmo. Márcio Braga, presidente licenciado do Flamengo, foi dos poucos cartolas rubro-negros, por sinal, que reagiram bem à proposta de Leonardo, embora seu discurso seja sempre oposto à sua prática. Outros, como o que vendeu Zico para um time italiano, a Udinese, cuja cidade-sede, Udine, tinha população que cabia no Maracanã, pisou nas tamancas, imaginando que Leonardo tenha interesses ocultos, como sempre pensa sobre os outros quem, de fato, os tem. Claro que Leonardo saiu do muro para causar a discussão, para mover a pasmaceira, porque é preciso sim ter cuidado num processo de venda de um clube como o Flamengo, em tese, passível de ser comprado por um vascaíno milionário e maluco, daqueles que rasgam dinheiro apenas pelo prazer de fechar o rival. Mas Leonardo se junta aos que pregam a ruptura, a necessária revolução em nosso futebol. Viva!
blogdojuca@uol.com.br


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