São Paulo, sábado, 23 de abril de 2011

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Na paz

Vizinhos das favelas pacificadas no fim do ano passado no Rio, os tradicionais Olaria e Bonsucesso surpreendem no futebol carioca

SÉRGIO RANGEL
DO RIO

Menos de seis meses depois da pacificação dos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio, o futebol da região ressurgiu.
Clubes mais tradicionais da área da Leopoldina, o Olaria e o Bonsucesso são as surpresas do futebol do Rio.
Com uma folha salarial acanhada (menos de R$ 100 mil mensais, 10% do salário de Ronaldinho), o Olaria eliminou o Botafogo da disputa pelo bi e é o único pequeno nas semifinais da Taça Rio, o segundo turno do Estadual.
Já o Bonsucesso faz a melhor campanha da segundona. Localizado próximo da estação do teleférico do Alemão, o clube tem 73,7 % de aproveitamento no torneio.
"É uma feliz coincidência o sucesso dos nossos times ter aparecido com a pacificação. É mais um motivo de felicidade para a região, que só aparecia pela violência", afirmou Zeca Simões, presidente do Bonsucesso.
As favelas do complexo do Alemão e da Penha foram ocupadas pela polícia do Rio em 28 de novembro, com o apoio das Forças Armadas, após uma sequência de ataques a ônibus e carros.
A região era reduto seguro dos traficantes do Comando Vermelho na cidade e palco de conflitos violentos por mais de uma década.
O Olaria é vizinho do complexo de favelas da Penha. O Bonsucesso, por sua vez, fica próximo do Alemão. Atualmente, o Exército ocupa as duas comunidades.
"Agora é aproveitar essa fase positiva e fazer o clube reviver os dias de glória", falou o aposentado Moraes Júnior, 59, sentando na arquibancada do pequeno estádio do Bonsucesso, que leva o nome do jogador mais famoso do clube, Leônidas da Silva, um dos primeiros craques do futebol nacional.
Primeiro time da carreira de Romário, o Olaria é o azarão do Estadual e teve papel importante na pacificação das comunidades. O Estádio da Rua Bariri serviu de campo de pouso para os helicópteros da polícia e das Forças Armadas durante os dias de confronto com os traficantes.
"Os moradores da Leopoldina estão eufóricos por tudo que está acontecendo na região nos últimos meses. O mais legal é que o nosso time está fazendo essa alegria ficar ainda maior", comemora o presidente do Olaria, Heitor Belini, que busca nas favelas próximas atletas para o time.
Como quase tudo na região, as marcas da violência dos últimos anos estão expostas também no clube.
Há cerca de cinco anos, um dos jogadores da equipe foi atingido por um bala perdida dentro da sede.
O departamento de futebol, a piscina e o ginásio da equipe também possuem marcas dos constantes tiroteios nos arredores.
"Escutava diariamente os tiros até dentro da minha casa. Neste ano, tudo acabou. Acredito que esse clima mais leve acabou ajudando o nosso time a encontrar os bons resultados", disse o cartola.


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