São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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ATENAS 2004

Atletas que por um triz ficaram fora da equipe brasileira lutam para superar traumas e apagar os erros

Detalhes deprimem os "quase olímpicos"

ADALBERTO LEISTER FILHO
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele nadava como nunca. Não havia cometido erros e disputava braçada a braçada com Fernando Scherer o ouro no Troféu Brasil.
Ao bater a mão na chegada dos 50 m livre, Marco Sapucaia, 21, acreditou que aquela seria uma prova inesquecível. Quando tirou a cabeça da água, teve certeza. O cronômetro marcava 20s52. Por um centésimo de segundo, bem menos do que um piscar de olhos, estava fora da Olimpíada. "Se eu estivesse com a unha mais comprida, talvez fosse diferente."
Sapucaia engrossou a lista de brasileiros que ficarão em casa com a sensação de terem deixado a vaga escorregar das mãos.
O baque foi tão grande que ele esperou uma semana para voltar aos treinos. Anteontem, ao largar para o Paulista, ainda se perguntava o que fazia na água: "Você fica sem objetivo. Por um centésimo não mudei minha vida".
Poucos instantes também separaram as brasileiras do double skiff peso leve de Atenas. Ana Carolina Custódio, 20, e Marilene Barbosa, 33, precisavam do bronze no Pré-Olímpico de El Salvador. Chegaram emboladas com outros dois barcos. Na foto da chegada, uma remada decretou a sentença. "Quando vi que foram só centímetros, fiquei mais inconformada", conta Ana Carolina.
Sua parceira conseguiu festejar. As duas tiveram pouco mais de um mês de treinos juntas. Ana Carolina mora no Rio, Marilene, em Salvador. "Fomos mais longe do que imaginava", diz a baiana.
Ver a vaga olímpica cair das mãos por condições fora de seu controle, contudo, é tão difícil quanto encarar suas limitações.
Há duas semanas, Virgílio de Castilho, 28, disputava a última vaga no triatlo com Paulo Miyashiro. Três dias antes da decisão, em Portugal, eles pedalavam, quando Castilho foi atropelado.
"Mesmo assim decidi participar. Terminei a natação e cheguei a pegar a bicicleta, mas não agüentei a dor", conta Castilho, que havia fissurado uma costela.
Nem todos os barrados na festa olímpica sofrem tal infortúnio. Às vezes, entram como azarões e chegam bem perto da glória. A iatista Paula Newlands, por exemplo, naufragou na classe mistral no terceiro critério de desempate.
Ela chegou à derradeira regata do Pré-Olímpico de Búzios (RJ) com nove vitórias, uma a mais do que Carolina Borges, a favorita.
Quando faltavam poucos metros para o fim da última prova, Paula viu a rival ultrapassá-la. As duas ficaram com o mesmo número de vitórias e pontos perdidos. Mas Carolina levou a melhor por ter vencido a disputa final.
"Acho que os critérios deveriam ser outros. Um número ímpar de regatas resolveria", aponta Paula.
Além de não competir no mar grego, ela não viajará com o marido, Ricardo Winicki, o Bimba, que competirá na mesma mistral.
Paula, ao menos, mostrou que nem sempre há favoritismos absolutos. A seleção, com Diego e Robinho, viu o sonho dourado virar lata ao perder do Paraguai por 1 a 0 no Pré-Olímpico de Viña del Mar -o empate era suficiente.
Campeão da São Silvestre-03, Marilson dos Santos, 26, já era tido como um grande nome da maratona mesmo antes de sua estréia. Ele correu pela primeira vez em abril, em Paris, onde teve a única chance de fazer o índice.
Marilson largou bem, mas não conseguiu pegar nenhuma das garrafinhas com líquido para repor carboidratos que deixara pelo percurso. Quando faltavam cinco quilômetros, teve hipoglicemia e quase parou. Ainda assim, perdeu a vaga só por 54 segundos para Rômulo Wagner da Silva. Agora, busca um lugar nos 10.000 m.
Mesma chance não terá Guto Campos, 25. Apontado como o segundo melhor canoísta do Brasil, ele não foi convocado pelo técnico Zdzislaw Szubski para disputar o caiaque duplo nos 500 m e 1.000 m. O polonês preferiu chamar seu filho, Sebastian Szubski.
Para quem viu a Olimpíada escorrer das mãos, Campos faz planos nada imediatos. "Já começamos a treinar para Pequim [2008]. Lá vamos disputar medalhas."


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