São Paulo, quinta-feira, 23 de julho de 2009

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JUCA KFOURI

Haja gás para Muricy Ramalho


Sair do São Paulo para ir para o rival Palmeiras é, até, o de menos. Duro mesmo será superar as desconfianças


MURICY RAMALHO deu o passo mais ousado de sua carreira: trocou o São Paulo de seu coração pelo Palmeiras do coração de seu pai. Menos pela rivalidade em si entre os dois clubes, que tem a marca da Segunda Guerra Mundial, quando a direção tricolor foi mesmo desleal e oportunista em relação aos "italianinhos" -como os preconceituosos quatrocentões paulistas gostavam de dizer.
A questão imediata que Muricy terá de superar diz respeito, ainda, às semifinais do Paulistinha de 2008, o famoso, e não esclarecido pela competente polícia de São Paulo, "caso do gás". Então, não foram poucos os dirigentes palmeirenses que o acusaram de ter agido com um ator, mau ator, no que seria mera encenação de mal-estar. Enfim, gente que desconfia de sua seriedade.
É claro que depois que se viu Lula abraçado a Collor e a UNE financiada pelo governo federal, e a este atrelado como correia de transmissão, tudo passa a ser possível, nada mais estarrece, pois pragmatismo virou sinônimo de cinismo, hipocrisia, faces da mesma moeda, porque, dizem os sem-vergonha, política se faz com a cabeça, não com o estômago -e me dê licença que vou dar uma saidinha para vomitar.
Parece claro que Muricy preferia o Sul, o Inter, mas cansou de esperar pela queda de Tite. E, quando recusou o Santos e viu o rival Vanderlei Luxemburgo ocupar, com salário menor, o lugar que queriam dele na Vila Belmiro, tratou de se acertar com o Palmeiras, para, enfim, e pela primeira vez, ser o técnico mais bem pago do país.
De quebra, pode perfeitamente sonhar em ser tetracampeão brasileiro, por mais que saiba que Luxemburgo dirá que foi ele quem montou o time vencedor.
Sim, apesar de disfarçarem, Luxemburgo concorre enlouquecidamente com Muricy, e este não perde a oportunidade para alfinetá-lo.
O próprio Muricy sabe que o ideal seria deixar o Palmeiras para depois, apenas por causa de seus vínculos com o São Paulo. Por mais profissional que seja, é obviamente desconfortável vestir o agasalho alviverde, e ele preferiria poder, digamos, se vingar da demissão do tricolor com a cor colorada, tão ou mais apta do que a verde para lhe dar o quarto título consecutivo do Brasileirão.
Mas nem sempre as coisas correm exatamente como se planeja e quem espera nunca alcança, como já ensinou Chico Buarque.
Por tudo isso é que o próximo dia 30 de agosto será um dia especial, porque, no Morumbi, São Paulo e Palmeiras jogarão pela 22ª rodada do Brasileirão, a terceira rodada do returno, oitavo jogo de Muricy como técnico palmeirense.
Resta saber como será tratado ao voltar ao estádio onde viveu grandes e emocionantes momentos. Se como mero visitante ou filho pródigo -golpe de mestre improvável pela mediocridade da cartolagem.
Porque, se o São Paulo resolver homenageá-lo com uma simples placa de prata pelos bons serviços prestados, criará um constrangimento que é a razão de tudo que o fez relutar em pular tão rapidamente o muro que separa são-paulinos dos... italianinhos.
Que saboreiam a estocada dada nos fidalgos de narizes empinados.

blogdojuca@uol.com.br


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