São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997.



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Rivalidade 'em paz' lota estádios baianos

LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Salvador

Chefes das principais torcidas organizadas de Bahia e Vitória apontam a grande rivalidade entre os times como o principal motivo do comparecimento em massa do público aos estádios de Salvador.
"Em São Paulo e Rio, existem muitos clubes grandes, e a rivali dade está dividida", disse Rosalvo Castro, 33, líder da torcida "Po vão", uma das maiores do Bahia.
Segundo Castro, o torcedor do Bahia sempre quer provar que tem condições de encher o estádio. "Acho que os torcedores do Vitó ria pensam a mesma coisa."
Mesmo sem festejar um título es tadual há três anos, o lema do tor cedor do Bahia o "empurra" para os estádios. "Pode ganhar, pode perder, eu sou Bahia até morrer" é o slogan da "Povão".
O presidente da "Bamor", outra organizada do Bahia, Jorge Alber to Souza Santana, diz que a praia e o futebol já se incorporaram à cul tura dos baianos.
"A imprensa da Bahia também exerce um papel fundamental para atrair os torcedores, promovendo os jogos e acirrando ainda mais a rivalidade", disse Santana.
O presidente da "Leões da Fiel", Carlesson Silva, 36, disse que o torcedor baiano já demonstrou ser o mais fiel do Brasil.
"Ao contrário dos baianos, os torcedores de São Paulo, Rio e Mi nas Gerais só vão aos estádios quando as suas equipes estão bem", dispara Silva.
A "Leões da Fiel" é a maior tor cida organizada do Vitória. Silva disse que a contratação do atacan te tetracampeão mundial Bebeto foi fundamental para estimular os torcedores.
"A diretoria do Vitória já deu demonstrações que quer realmen te formar um time para conquistar o Campeonato Brasileiro."
Os ingressos para os jogos do Ba hia e Vitória realizados em Salva dor começam a ser vendidos com três dias de antecedência.
"A organização dos clubes tam bém contribui para oferecer ao torcedor um mínimo de confor to", elogia o presidente da Federa ção Bahiana de Futebol, Virgílio Elíseo da Costa Neto.
Acordo
Ao contrário do que acontece em muitos outros estádios brasileiros, os policiais escalados para garantir a segurança na Fonte Nova e no es tádio Manoel Barradas, o "Barra dão", têm pouco trabalho.
Um acordo assinado há dez anos entre todas as torcidas organiza das do Vitória e do Bahia garante a "paz" nos jogos disputados em Salvador.
"Bahia e Vitória levam 90 mil pessoas à Fonte Nova e não é ne cessário nenhum cordão de isola mento para separar os torcedo res", disse o vice-presidente do Vi tória, Valtécio Fonseca.
Segundo Fonseca, o acordo que garantiu a paz nos estádios da Ba hia entre os torcedores é renovado a cada ano. "Antes de qualquer disputa, os líderes das torcidas or ganizadas se reúnem com os poli ciais para estabelecer os critérios que deverão ser seguidos pelo pú blico que vai aos estádios."
O presidente da Federação Ba hiana de Futebol diz que é muito comum, após os jogos, encontrar torcedores do Bahia e Vitória em um mesmo restaurante ou bar. "Os torcedores sabem que a riva lidade é só dentro de campo."
"Jamais fui incomodada por qualquer torcedor do Bahia."
Além da tranquilidade nos está dios, Fonseca aponta "as atrações dos times adversários" como um dos principais fatores para o com parecimento do público baiano aos estádios.
"O Campeonato Baiano não tem muita atração, e o torcedor sente a falta dos grandes jogos."
Segundo o vice-presidente do Vitória, o fanatismo do torcedor do Bahia também é um fator deci sivo para as grandes rendas regis tradas em Salvador.
"A torcida do Bahia é fanática e acha que a estrutura fora de campo não resolve. Para eles (torcedores do Bahia), o que vale são os 90 mi nutos. Isso é bom porque estimula ainda mais o torcedor do Vitória, que tem um time mais arrumado e uma sólida política de investimen tos nas divisões de base."



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