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Rivalidade 'em paz' lota estádios baianos
LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Salvador
Chefes das principais torcidas
organizadas de Bahia e Vitória
apontam a grande rivalidade entre
os times como o principal motivo
do comparecimento em massa do
público aos estádios de Salvador.
"Em São Paulo e Rio, existem
muitos clubes grandes, e a rivali
dade está dividida", disse Rosalvo
Castro, 33, líder da torcida "Po
vão", uma das maiores do Bahia.
Segundo Castro, o torcedor do
Bahia sempre quer provar que tem
condições de encher o estádio.
"Acho que os torcedores do Vitó
ria pensam a mesma coisa."
Mesmo sem festejar um título es
tadual há três anos, o lema do tor
cedor do Bahia o "empurra" para
os estádios. "Pode ganhar, pode
perder, eu sou Bahia até morrer" é
o slogan da "Povão".
O presidente da "Bamor", outra
organizada do Bahia, Jorge Alber
to Souza Santana, diz que a praia e
o futebol já se incorporaram à cul
tura dos baianos.
"A imprensa da Bahia também
exerce um papel fundamental para
atrair os torcedores, promovendo
os jogos e acirrando ainda mais a
rivalidade", disse Santana.
O presidente da "Leões da Fiel",
Carlesson Silva, 36, disse que o
torcedor baiano já demonstrou ser
o mais fiel do Brasil.
"Ao contrário dos baianos, os
torcedores de São Paulo, Rio e Mi
nas Gerais só vão aos estádios
quando as suas equipes estão
bem", dispara Silva.
A "Leões da Fiel" é a maior tor
cida organizada do Vitória. Silva
disse que a contratação do atacan
te tetracampeão mundial Bebeto
foi fundamental para estimular os
torcedores.
"A diretoria do Vitória já deu
demonstrações que quer realmen
te formar um time para conquistar
o Campeonato Brasileiro."
Os ingressos para os jogos do Ba
hia e Vitória realizados em Salva
dor começam a ser vendidos com
três dias de antecedência.
"A organização dos clubes tam
bém contribui para oferecer ao
torcedor um mínimo de confor
to", elogia o presidente da Federa
ção Bahiana de Futebol, Virgílio
Elíseo da Costa Neto.
Acordo
Ao contrário do que acontece em
muitos outros estádios brasileiros,
os policiais escalados para garantir
a segurança na Fonte Nova e no es
tádio Manoel Barradas, o "Barra
dão", têm pouco trabalho.
Um acordo assinado há dez anos
entre todas as torcidas organiza
das do Vitória e do Bahia garante a
"paz" nos jogos disputados em
Salvador.
"Bahia e Vitória levam 90 mil
pessoas à Fonte Nova e não é ne
cessário nenhum cordão de isola
mento para separar os torcedo
res", disse o vice-presidente do Vi
tória, Valtécio Fonseca.
Segundo Fonseca, o acordo que
garantiu a paz nos estádios da Ba
hia entre os torcedores é renovado
a cada ano. "Antes de qualquer
disputa, os líderes das torcidas or
ganizadas se reúnem com os poli
ciais para estabelecer os critérios
que deverão ser seguidos pelo pú
blico que vai aos estádios."
O presidente da Federação Ba
hiana de Futebol diz que é muito
comum, após os jogos, encontrar
torcedores do Bahia e Vitória em
um mesmo restaurante ou bar.
"Os torcedores sabem que a riva
lidade é só dentro de campo."
"Jamais fui incomodada por
qualquer torcedor do Bahia."
Além da tranquilidade nos está
dios, Fonseca aponta "as atrações
dos times adversários" como um
dos principais fatores para o com
parecimento do público baiano
aos estádios.
"O Campeonato Baiano não
tem muita atração, e o torcedor
sente a falta dos grandes jogos."
Segundo o vice-presidente do
Vitória, o fanatismo do torcedor
do Bahia também é um fator deci
sivo para as grandes rendas regis
tradas em Salvador.
"A torcida do Bahia é fanática e
acha que a estrutura fora de campo
não resolve. Para eles (torcedores
do Bahia), o que vale são os 90 mi
nutos. Isso é bom porque estimula
ainda mais o torcedor do Vitória,
que tem um time mais arrumado e
uma sólida política de investimen
tos nas divisões de base."
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