São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2004

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ATLETISMO

Gatlin leva ouro nos 100 m e fica só quatro centésimos à frente do quatro colocado

Coadjuvante brilha na final mais apertada da história

DOS ENVIADOS A ATENAS

No futuro, talvez Atenas-2004 também seja lembrada pelas falhas na organização, pelo calor, pelos casos de doping, pelo pouco público, pela forte segurança.
Talvez. Mas, certamente, a 28ª Olimpíada da Era Moderna será lembrada pelo que aconteceu ontem na pista do Estádio Olímpico.
Berço do esporte, a Grécia viveu uma noite épica. Assistiu à decisão dos 100 m mais apertada dos Jogos desde que a cronometragem avançou além dos décimos. Só quatro centésimos separaram o vencedor do quarto colocado.
E o vencedor foi Justin Gatlin. Americano, quarto nas semifinais, não um azarão, mas um coadjuvante. Em segundo, ficou o nigeriano naturalizado português Francis Obikwelu. Maurice Greene viu seu ouro de Sydney-2000 transformar-se em bronze.
Na raia 3, Gatlin viu Obikwelu e Greene abrirem vantagem no início, mas reagiu.
Exatos 9s85 depois, cruzou a linha de chegada. Mas não explodiu em vibração, como em finais anteriores. Pairava uma dúvida no ar. A chegada foi apertada.
O motivo de tanta dúvida: Obikwelu cruzou a linha com 9s86. Greene, com 9s87.
Dono da melhor marca do ano até então -9s88-, favorito ao ouro, parceiro de treinamentos e amigo pessoal de Gatlin, Shawn Crawford foi o quarto, com 9s89.
Na história dos Jogos, só uma final dos 100 m registrou algo parecido. Em Helsinque-52, os quatro primeiros terminaram com a mesma marca, 10s4. Naquele tempo, no entanto, a cronometragem parava nos décimos.
O que classifica a final de ontem como a mais apertada da história foi o tempo de Crawford. Nunca um velocista com 9s89 havia ficado fora de um pódio olímpico.
A marca lhe daria a prata em Sydney-2000 e Atlanta-96 e seria ouro de Barcelona-92 para trás.
"Foi uma das melhores provas da história, eu sei disso, soube disso no momento em que cruzei a chegada", disse um empolgado e sorridente Gatlin, logo depois.
Ao seu lado, Obikwelu, ele sim um azarão e uma surpresa, admitiu que demorou para saber quem vencera. "No momento em que cruzei a linha, achei que Greene havia vencido. E não tinha idéia de onde eu estava", disse ele, que desde 2001 compete por Portugal.
Ao seu lado, o experiente Greene, 30, riu. O americano, que venceu com 9s87 há quatro anos, aproveitou para lançar farpas contra seu desafeto, Tim Montgomery, recordista mundial com 9s78 e que não se classificou para Atenas em meio a suspeitas de doping. "Foi a vitória de quem trabalha duro e não trapaceia."
Gatlin fez também apologia ao antidoping. "Estou sorrindo hoje e vou continuar a sorrir nos próximos dias. Nada me preocupa, nada. Sou um trabalhador."
É o que a organização espera. Que a noite de ontem fique na história. Pelo que ocorreu na pista. (FÁBIO SEIXAS E MARCELO DIEGO)

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