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ATLETISMO
Gatlin leva ouro nos 100 m e fica só quatro centésimos à frente do quatro colocado
Coadjuvante brilha na final mais apertada da história
DOS ENVIADOS A ATENAS
No futuro, talvez Atenas-2004
também seja lembrada pelas falhas na organização, pelo calor,
pelos casos de doping, pelo pouco
público, pela forte segurança.
Talvez. Mas, certamente, a 28ª
Olimpíada da Era Moderna será
lembrada pelo que aconteceu ontem na pista do Estádio Olímpico.
Berço do esporte, a Grécia viveu
uma noite épica. Assistiu à decisão dos 100 m mais apertada dos
Jogos desde que a cronometragem avançou além dos décimos.
Só quatro centésimos separaram
o vencedor do quarto colocado.
E o vencedor foi Justin Gatlin.
Americano, quarto nas semifinais, não um azarão, mas um
coadjuvante. Em segundo, ficou o
nigeriano naturalizado português
Francis Obikwelu. Maurice Greene viu seu ouro de Sydney-2000
transformar-se em bronze.
Na raia 3, Gatlin viu Obikwelu e
Greene abrirem vantagem no início, mas reagiu.
Exatos 9s85 depois, cruzou a linha de chegada. Mas não explodiu em vibração, como em finais
anteriores. Pairava uma dúvida
no ar. A chegada foi apertada.
O motivo de tanta dúvida:
Obikwelu cruzou a linha com
9s86. Greene, com 9s87.
Dono da melhor marca do ano
até então -9s88-, favorito ao
ouro, parceiro de treinamentos e
amigo pessoal de Gatlin, Shawn
Crawford foi o quarto, com 9s89.
Na história dos Jogos, só uma final dos 100 m registrou algo parecido. Em Helsinque-52, os quatro
primeiros terminaram com a
mesma marca, 10s4. Naquele
tempo, no entanto, a cronometragem parava nos décimos.
O que classifica a final de ontem
como a mais apertada da história
foi o tempo de Crawford. Nunca
um velocista com 9s89 havia ficado fora de um pódio olímpico.
A marca lhe daria a prata em
Sydney-2000 e Atlanta-96 e seria
ouro de Barcelona-92 para trás.
"Foi uma das melhores provas
da história, eu sei disso, soube disso no momento em que cruzei a
chegada", disse um empolgado e
sorridente Gatlin, logo depois.
Ao seu lado, Obikwelu, ele sim
um azarão e uma surpresa, admitiu que demorou para saber quem
vencera. "No momento em que
cruzei a linha, achei que Greene
havia vencido. E não tinha idéia
de onde eu estava", disse ele, que
desde 2001 compete por Portugal.
Ao seu lado, o experiente Greene, 30, riu. O americano, que venceu com 9s87 há quatro anos,
aproveitou para lançar farpas
contra seu desafeto, Tim Montgomery, recordista mundial com
9s78 e que não se classificou para
Atenas em meio a suspeitas de
doping. "Foi a vitória de quem
trabalha duro e não trapaceia."
Gatlin fez também apologia ao
antidoping. "Estou sorrindo hoje
e vou continuar a sorrir nos próximos dias. Nada me preocupa,
nada. Sou um trabalhador."
É o que a organização espera.
Que a noite de ontem fique na história. Pelo que ocorreu na pista.
(FÁBIO SEIXAS E MARCELO DIEGO)
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