São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2004

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GINÁSTICA

Atleta tenta se tornar a 1ª medalhista brasileira com "investimento estrangeiro"

Daiane compete pelo ouro e para virar referência política no esporte

DO ENVIADO A ATENAS

Vale o primeiro ouro do país na ginástica artística. E vale também a primeira aposta certeira no Brasil do maior programa mundial de fomento ao esporte.
Daiane dos Santos, 21, apresenta-se às 15h45 no Ginásio Olímpico para tentar se tornar a primeira medalhista brasileira do projeto Solidariedade Olímpica, do COI (Comitê Olímpico Internacional).
Ela integrou a primeira geração de atletas brasileiros a receber verbas do Solidariedade, a partir de 1997. Aliás, ainda o integra -é do dinheiro do programa do COI que sai o salário do técnico ucraniano Oleg Ostapenko.
O Solidariedade, de qualquer forma, já existia bem antes de Daiane entrar nele.
Suas raízes datam de 1961. O projeto contou, nos quatro anos do último ciclo olímpico, com orçamento de US$ 209 milhões -dinheiro originado dos direitos de transmissão dos Jogos.
Em Sydney, 28 dos medalhistas de ouro, 21 dos de prata e 21 dos de bronze tinham sido apoiados pelo Solidariedade.
Por um problema burocrático e de comunicação, Daiane não sabia de início que era bolsista do Solidariedade. Tinha direito a cerca de R$ 740. O dinheiro ia para a CBG (Confederação Brasileira de Ginástica), que o utilizava no bolo da preparação da equipe.
Em 1999, quando se tornou conhecida no país (ao ganhar duas medalhas no Pan de Winnipeg), Daiane declarou que sua única renda eram os R$ 250 que recebia de uma pizzaria de Porto Alegre, onde nasceu e morava até então.
No ano seguinte, ela acabou ficando fora de Sydney por opção técnica. Viajou até a Austrália e, da reserva, viu o país sair dos Jogos sem nenhum ouro em mãos.
O salto de estrutura, no seu caso, só começaria após o fiasco. Uma situação que só ajuda a consolidar a imagem de que Daiane é, possivelmente, a melhor personificação dos caminhos do financiamento ao esporte na gestão de Carlos Arthur Nuzman no COB (Comitê Olímpico Brasileiro).
Descoberta para o esporte em 1994, um ano antes da chegada de Nuzman ao COB, a ginasta esteve diretamente envolvida com as duas principais apostas de financiamento ao esporte do período.
Após o Solidariedade, veio a Lei Piva. Aprovada em 2001, passou a destinar 2% da arrecadação das loterias ao esporte olímpico. Daiane foi diretamente beneficiada por isso -com esse dinheiro, a CBG pôde aumentar a ajuda que repassa aos ginastas.
Até aqui, o salto da ginástica é o maior resultado do investimento feito que começou com o Solidariedade Olímpica e que foi engrossado depois com a Lei Piva.
Há seis esportes brasileiros que recebem hoje algum tipo de ajuda do Solidariedade. O programa apóia a ginástica artística, o handebol, os saltos ornamentais, o tênis de mesa, o ciclismo e o boxe. Além disso, todas as confederação olímpicas ganham repasses do COB por conta da Lei Piva.
Mas nenhum desses esportes conseguiu salto de proporção minimamente comparável ao da ginástica. Alguns, aliás, regrediram durante o período, como mostram os resultados da Olimpíada.
Daiane, não. Com apoio financeiro e estrutura, saiu da reserva da Olimpíada de Sydney para o título mundial do solo e para a liderança do ranking no aparelho. É com esse status que ela entra em ação na final desta tarde.
Por tudo isso, o desempenho de Daiane hoje em Atenas tem significado político muito grande, e seus grandes saltos podem significar um passo maior ainda para os investimentos no esporte.
Ela terá que vencer os problemas no joelho direito -operado há 66 dias-, a falta de tradição do Brasil na modalidade e a pressão colocada sobre seus ombros.
Se conseguir, não só terá colocado de vez o país no mapa da ginástica artística como terá, também, se consolidado como referência de aposta bem-feita de longo prazo. (ROBERTO DIAS)


NA TV - Band, vivo, a partir das 15h45


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