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GINÁSTICA
Atleta tenta se tornar a 1ª medalhista brasileira com "investimento estrangeiro"
Daiane compete pelo ouro e para virar referência política no esporte
DO ENVIADO A ATENAS
Vale o primeiro ouro do país na
ginástica artística. E vale também
a primeira aposta certeira no Brasil do maior programa mundial
de fomento ao esporte.
Daiane dos Santos, 21, apresenta-se às 15h45 no Ginásio Olímpico para tentar se tornar a primeira
medalhista brasileira do projeto
Solidariedade Olímpica, do COI
(Comitê Olímpico Internacional).
Ela integrou a primeira geração
de atletas brasileiros a receber
verbas do Solidariedade, a partir
de 1997. Aliás, ainda o integra -é
do dinheiro do programa do COI
que sai o salário do técnico ucraniano Oleg Ostapenko.
O Solidariedade, de qualquer
forma, já existia bem antes de
Daiane entrar nele.
Suas raízes datam de 1961. O
projeto contou, nos quatro anos
do último ciclo olímpico, com orçamento de US$ 209 milhões
-dinheiro originado dos direitos
de transmissão dos Jogos.
Em Sydney, 28 dos medalhistas
de ouro, 21 dos de prata e 21 dos
de bronze tinham sido apoiados
pelo Solidariedade.
Por um problema burocrático e
de comunicação, Daiane não sabia de início que era bolsista do
Solidariedade. Tinha direito a cerca de R$ 740. O dinheiro ia para a
CBG (Confederação Brasileira de
Ginástica), que o utilizava no bolo
da preparação da equipe.
Em 1999, quando se tornou conhecida no país (ao ganhar duas
medalhas no Pan de Winnipeg),
Daiane declarou que sua única
renda eram os R$ 250 que recebia
de uma pizzaria de Porto Alegre,
onde nasceu e morava até então.
No ano seguinte, ela acabou ficando fora de Sydney por opção
técnica. Viajou até a Austrália e,
da reserva, viu o país sair dos Jogos sem nenhum ouro em mãos.
O salto de estrutura, no seu caso, só começaria após o fiasco.
Uma situação que só ajuda a consolidar a imagem de que Daiane é,
possivelmente, a melhor personificação dos caminhos do financiamento ao esporte na gestão de
Carlos Arthur Nuzman no COB
(Comitê Olímpico Brasileiro).
Descoberta para o esporte em
1994, um ano antes da chegada de
Nuzman ao COB, a ginasta esteve
diretamente envolvida com as
duas principais apostas de financiamento ao esporte do período.
Após o Solidariedade, veio a Lei
Piva. Aprovada em 2001, passou a
destinar 2% da arrecadação das
loterias ao esporte olímpico.
Daiane foi diretamente beneficiada por isso -com esse dinheiro, a
CBG pôde aumentar a ajuda que
repassa aos ginastas.
Até aqui, o salto da ginástica é o
maior resultado do investimento
feito que começou com o Solidariedade Olímpica e que foi engrossado depois com a Lei Piva.
Há seis esportes brasileiros que
recebem hoje algum tipo de ajuda
do Solidariedade. O programa
apóia a ginástica artística, o handebol, os saltos ornamentais, o tênis de mesa, o ciclismo e o boxe.
Além disso, todas as confederação olímpicas ganham repasses
do COB por conta da Lei Piva.
Mas nenhum desses esportes
conseguiu salto de proporção minimamente comparável ao da ginástica. Alguns, aliás, regrediram
durante o período, como mostram os resultados da Olimpíada.
Daiane, não. Com apoio financeiro e estrutura, saiu da reserva
da Olimpíada de Sydney para o título mundial do solo e para a liderança do ranking no aparelho. É
com esse status que ela entra em
ação na final desta tarde.
Por tudo isso, o desempenho de
Daiane hoje em Atenas tem significado político muito grande, e
seus grandes saltos podem significar um passo maior ainda para os
investimentos no esporte.
Ela terá que vencer os problemas no joelho direito -operado
há 66 dias-, a falta de tradição do
Brasil na modalidade e a pressão
colocada sobre seus ombros.
Se conseguir, não só terá colocado de vez o país no mapa da ginástica artística como terá, também, se consolidado como referência de aposta bem-feita de longo prazo.
(ROBERTO DIAS)
NA TV - Band, vivo, a partir
das 15h45
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