São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2004

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POLÍTICA

Fifa invade o Iraque

MARCELO DIEGO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

Nem no melhor dos cenários projetados, a Fifa imaginaria tanto sucesso. A passagem do Iraque para as semifinais em Atenas levantou a bola da esvaziada disputa no futebol e vitaminou o discurso dos cartolas. De quebra, rendeu ajuda financeira inesperada aos iraquianos.
A seleção do país na pior das hipóteses lutará por uma medalha de bronze. Se passar pelo Paraguai, jogará pelo ouro -medalha que o Brasil jamais conquistou.
A trajetória dos atletas têm recebido especial atenção da imprensa mundial, o que coloca o futebol como um dos centros desta Olimpíada. Um panorama diferente do prognosticado antes de Atenas-2004, já que, sem a presença de estrelas, temia-se um fiasco.
Joseph Blatter, dirigente máximo do futebol, disse que a Fifa dará tratamento especial aos iraquianos doravante. "Eles precisam, eles merecem." Essa atenção especial será pronunciada sob a forma de ajuda financeira de US$ 400 mil, além da construção de um centro de formação de atletas.
Blatter não perde um jogo do Iraque na Grécia. E usa o sucesso da equipe como trunfo político. "Vamos esquecer o que aconteceu politicamente com o Iraque, vamos seguir adiante", disse.
Nos planos do dirigente, a doação da Fifa pode ajudar o país a conquistar vaga na Alemanha-06. O Iraque já participou do Mundial-86, no México. Recolocar os iraquianos no cenário máximo do futebol seria um ativo precioso no balanço da entidade. "O futebol pode ser uma das ferramentas para a paz, não apenas neste país, mas ao redor do mundo", disse Blatter, celebrando Brasil x Haiti.
O suíço é mais um a pegar carona na performance do Iraque, país ocupado militarmente pelos EUA, que depuseram o antigo ditador Saddam Hussein.
A campanha militar foi mote de um anúncio publicitário do presidente dos EUA, George W. Bush. Na peça, o sucesso olímpico iraquiano é exibido como fruto da libertação. Os jogadores iraquianos condenaram a peça de marketing. O Comitê Olímpico Internacional estuda sanções legais, pelo uso indevido de marcas registradas.
"Nossas famílias estão sofrendo, mas ao menos podemos dar a eles alguma coisa", afirmou o técnico Hamad Majeed.
Ele só entrou no comando da equipe em julho. O antigo treinador, o alemão Bernard Stange, não recebia salários desde o início do ano, seu motorista fora assassinado, e o governo o advertira a deixar o Iraque antes que fosse morto. Voltou à Alemanha e tentou treinar por telefone, mas não foi possível.
O pecado do alemão foi discordar do presidente da federação iraquiana de futebol, Hussein Saeed, um ex-jogador. Saeed chegou ao poder pelas mãos de Uday Hussein (um dos filhos de Saddam), que torturava atletas.
Não está claro se Saeed era conivente com a prática, mas a Fifa não dá importância ao assunto. "Nós o ajudamos a liderar a federação, apesar da grande oposição dentro do país", afirmou Blatter.
O futebol é o esporte mais popular no Iraque, que deve voltar a abrigar um Nacional assim que estádios destruídos pela guerra forem reerguidos.


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