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POLÍTICA
Fifa invade o Iraque
MARCELO DIEGO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
Nem no melhor dos cenários
projetados, a Fifa imaginaria tanto sucesso. A passagem do Iraque
para as semifinais em Atenas levantou a bola da esvaziada disputa no futebol e vitaminou o discurso dos cartolas. De quebra,
rendeu ajuda financeira inesperada aos iraquianos.
A seleção do país na pior das hipóteses lutará por uma medalha
de bronze. Se passar pelo Paraguai, jogará pelo ouro -medalha
que o Brasil jamais conquistou.
A trajetória dos atletas têm recebido especial atenção da imprensa mundial, o que coloca o futebol
como um dos centros desta Olimpíada. Um panorama diferente do
prognosticado antes de Atenas-2004, já que, sem a presença de estrelas, temia-se um fiasco.
Joseph Blatter, dirigente máximo do futebol, disse que a Fifa dará tratamento especial aos iraquianos doravante. "Eles precisam, eles merecem." Essa atenção
especial será pronunciada sob a
forma de ajuda financeira de US$
400 mil, além da construção de
um centro de formação de atletas.
Blatter não perde um jogo do
Iraque na Grécia. E usa o sucesso
da equipe como trunfo político.
"Vamos esquecer o que aconteceu politicamente com o Iraque,
vamos seguir adiante", disse.
Nos planos do dirigente, a doação da Fifa pode ajudar o país a
conquistar vaga na Alemanha-06.
O Iraque já participou do Mundial-86, no México. Recolocar os
iraquianos no cenário máximo do
futebol seria um ativo precioso no
balanço da entidade. "O futebol
pode ser uma das ferramentas para a paz, não apenas neste país,
mas ao redor do mundo", disse
Blatter, celebrando Brasil x Haiti.
O suíço é mais um a pegar carona na performance do Iraque,
país ocupado militarmente pelos
EUA, que depuseram o antigo ditador Saddam Hussein.
A campanha militar foi mote de
um anúncio publicitário do presidente dos EUA, George W. Bush.
Na peça, o sucesso olímpico iraquiano é exibido como fruto da libertação. Os jogadores iraquianos
condenaram a peça de marketing.
O Comitê Olímpico Internacional
estuda sanções legais, pelo uso indevido de marcas registradas.
"Nossas famílias estão sofrendo, mas ao menos podemos dar a
eles alguma coisa", afirmou o técnico Hamad Majeed.
Ele só entrou no comando da
equipe em julho. O antigo treinador, o alemão Bernard Stange,
não recebia salários desde o início
do ano, seu motorista fora assassinado, e o governo o advertira a
deixar o Iraque antes que fosse
morto. Voltou à Alemanha e tentou treinar por telefone, mas não
foi possível.
O pecado do alemão foi discordar do presidente da federação
iraquiana de futebol, Hussein
Saeed, um ex-jogador. Saeed chegou ao poder pelas mãos de Uday
Hussein (um dos filhos de Saddam), que torturava atletas.
Não está claro se Saeed era conivente com a prática, mas a Fifa
não dá importância ao assunto.
"Nós o ajudamos a liderar a federação, apesar da grande oposição
dentro do país", afirmou Blatter.
O futebol é o esporte mais popular no Iraque, que deve voltar a
abrigar um Nacional assim que
estádios destruídos pela guerra
forem reerguidos.
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