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FUTEBOL
Livro conta que aos 14 anos jogador só pôde entrar num torneio após aceitar que não passaria do meio-campo
Bauru proibiu Pelé de jogar no ataque
WAGNER OLIVEIRA
da Agência Folha, em Bauru
Pelé tinha aos 14 anos um futebol
tão superior ao dos garotos de sua
idade que a Liga de Futebol Amador de Bauru teve de inventar uma
nova regra para que o jogador pudesse disputar um campeonato
pelo Radiun, em 1955, sem acabar
com as chances das outras equipes.
Depois do primeiro jogo, em que
o Radiun goleou por 10 a 0 o time
dos Marianos com 8 gols de Pelé, o
dirigente da liga, Sérgio Ribeiro,
resolveu que o jogador só poderia
ficar no gol ou na defesa.
Se optasse pela zaga, não poderia
passar do meio-campo, caso contrário seria falta em favor do time
adversário. Mesmo jogando na defesa, Pelé ajudou o Radiun a ser
campeão.
Essa é uma das passagens do livro "Pelé de Bauru", escrito pelo
jornalista Luiz Carlos Cordeiro,
que pretende resgatar a infância e
adolescência vividas por Pelé em
Bauru (345 km a noroeste de São
Paulo).
O livro, que será publicado em
outubro pela editora DDA, quer
mostrar a importância que a cidade de Bauru teve na formação daquele que é considerado o maior
jogador da história do futebol, o
hoje ministro dos Esportes Edson
Arantes do Nascimento.
As amizades, as peladas, as primeiras jogadas, os primeiros gols,
os ídolos, os bicos como engraxate, o convívio com parentes e vizinhos, os times de várzea em que
jogou foram alvo de dois anos e
meio de pesquisa do jornalista.
"Todo mundo fala do Pelé do
Santos e de Três Corações (MG),
sua cidade natal. Mas esquecem
que foi em Bauru que ele se formou", afirma Cordeiro, cujo livro
tem prefácio do colunista da Folha
Juca Kfouri.
O livro também revela que Pelé
era craque no futebol de salão. Em
campeonato disputado em 54, o
Radiun foi campeão com 47 gols
do jogador.
Entre outras coisas, o jornalista
descobriu que
Pelé torcia para
o Corinthians
na infância e
chegou a receber uma proposta do Bangu
(RJ), quase na mesma época em
que foi para o Santos.
O jornalista pretende desfazer
boatos de que o jogador não foi
aceito pelos grandes times de São
Paulo, como Corinthians e Palmeiras, por ser negro.
"Isso é uma grande mentira. Pelé nunca chegou a ir a esses clubes.
Além do mais, a família era contra
ele ir para a cidade grande", afirma
Cordeiro, que entrevistou parentes e amigos de infância do ex-jogador em Bauru, e também contou
com dados de sua memória, pois
era grande amigo de Zoca, irmão
de Pelé.
Pelé jogava pelo BAC (Bauru
Atlético Clube) quando foi oferecido ao Santos pelo técnico Valdemar de Brito.
Segundo o jornalista, três fatores
definiram a ida de Pelé para o Santos: a amizade de Brito com dirigentes santistas, o trabalho de base
feito pelo time da Vila Belmiro e a
tranquilidade da cidade de Santos,
à época com 200 mil habitantes.
Apelido
O livro conta que Pelé ganhou o
apelido porque sempre mencionava durante as peladas o nome do
goleiro Bilé, do Atlético de Três
Corações.
Segundo o autor do livro, o goleiro Bilé fazia
grandes defesas e tinha o
nome gritado
pelos jornalistas da época.
Pelé apreendeu e dizia o mesmo para os goleiros quando chutava a bola. Até que
os colegas de pelada passaram a
chamá-lo pelo apelido famoso.
A chegada
A família de Dico, apelido pelo
qual o jogador era chamado pelos
parentes, chegou a Bauru em 15 de
setembro de 1945.
João Ramos do Nascimento, o
Dondinho, pai de Pelé, havia sido
contratado pelo Lusitana F. C., hoje BAC (Bauru Atlético Clube).
Vieram para Bauru a mãe do jogador, Celeste, a avó, Ambrozina,
o tio, Jorge Arantes, e os irmãos,
Maria Lúcia, e Jair, o Zoca.
Depois de morar no Hotel Estações, a família passou a viver em
uma casa na avenida Rodrigues
Alves, no centro. Foi num campinho perto de casa que Pelé começou a disputar as primeiras peladas, descalço e sem camisa.
Depois, Pelé passou pelos times
amadores Sete de Setembro,
Vai-quem-quer, Canto do Rio,
Ameriquinha, São Paulinho de
Curuçá, Radiun, BAC e pelo infantil do Noroeste.
Um trecho do livro mostra que
Pelé já era admirado até mesmo
nas peladas. "Já aos 12, 13, 14 anos
Pelé levava muita, mas muita gente
mesmo para assisti-lo. Sem arquibancada, os próprios torcedores
formavam um robusto alambrado
em volta das quatro linhas dos
campinhos da cidade".
Pelé deixou Bauru pouco antes
de completar 16 anos. Por muito
tempo, mesmo após ele ganhar fama no Brasil e no exterior, a sua
família ainda continuou a morar
na cidade.
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