São Paulo, sábado, 23 de setembro de 2000

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ATLETISMO
Sotomayor luta contra excesso de confiança

Cubano, recordista mundial do salto em altura, promete superar marca e levar ouro


FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY

Javier Sotomayor caminha até os juízes e pede que o sarrafo seja fixado a 2,27 m. Volta e dá um grito. Inicia a corrida, toma impulso, salta e... falha.
"Meu grande problema tem sido o excesso de confiança. Eu estou muito, muito confiante", disse o cubano, que fez uma segunda tentativa, bem sucedida.
É esse o retrato de Sotomayor hoje. A autoconfiança é a de sempre. Os resultados, porém, não aparecem com tanta facilidade.
O atleta, um dos maiores da história cubana, faz na próxima madrugada sua despedida olímpica. Disputa, a partir das 4h10 (de Brasília), a final do salto em altura.
A classificação foi obtida ontem. Seu erro nos 2,27 m, no entanto, lhe custou a primeira posição. Sotomayor ficou só em quarto lugar na série que disputou. "Isso não é nada. Estou muito tranquilo. Se não estivesse, não viria para cá."
Apesar do discurso, o fato é que Sotomayor não deve encontrar tanta facilidade. Uma vitória sua na próxima madrugada seria recebida até com relativa surpresa.
O cubano já não é o mesmo de anos atrás, quando sagrou-se bicampeão mundial (93 e 97) e conquistou um ouro olímpico (Barcelona-92). Hoje, perto da aposentadoria, tem rivais em ascensão, como Vyacheslav Voronin (RUS) e Mark Boswell (CAN), campeão e vice no Mundial-99.
Não importa. Seu recorde mundial, de 2,45 m, completou sete anos há dois meses e hoje se transformou na obsessão de toda uma geração de novos atletas.
Em Cuba, é tratado como herói nacional, e a suspensão que sofreu em 99 por uso de cocaína mereceu até discurso de Fidel Castro, denunciando um "complô imperialista" contra o seu atleta.
A pena de Sotomayor foi reduzida de dois anos para apenas um. E ele foi liberado para disputar a sua última Olimpíada -em 2004, terá 37 anos, idade considerada avançada para a sua modalidade.
Para a sua despedida, quer algo especial. "Vou bater o recorde mundial", disse ele, ontem.
A declaração é mais uma peça de marketing pessoal do que uma promessa séria. Sotomayor repete: "Vou superar os 2,45 m".
Não será isso, porém, que colocará a prova de amanhã na história. Com recorde ou sem, sua saída do estádio Olímpico marcará o fim de uma era do salto em altura.



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