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FUTEBOL
Limites da separação
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Juro que não é por preguiça
que reproduzo, mais uma vez,
a mensagem de um leitor. Guilherme Rezende já tinha se manifestado sobre a proibição de camisas de times no jogo da seleção:
"Isso nada mais faz do que reforçar a ideologia de que torcedores de times rivais não podem
conviver em paz. Esta política de
proibir pode surtir algum efeito
pontual a curto prazo, mas a longo prazo traz conseqüências funestas". Lembrei disso quando li
as declarações do promotor Fernando Capez cogitando a realização de jogos com uma torcida só,
e ele escreveu outra vez:
"Se em Chicago havia ruas só
para brancos e ruas só para negros; se no Brasil Colônia havia
igrejas só para ricos e outras só
para pobres; agora, a se levar em
conta o pedido do Ministério Público, teremos jogos só para são-paulinos e outros só para corintianos. Após a proibição da venda
de cerveja, da proibição de camisas, agora a nova e revolucionária idéia de combate à violência
nos estádios: a proibição da própria torcida... Isso tudo motivado
pelo triste episódio da morte de
um jovem torcedor são-paulino
ocorrida, no entanto, a quilômetros do estádio. Não é proibindo
cada vez mais que se vai resolver
o problema da violência nos estádios. Não é incentivando a discriminação (imagine o vizinho palmeirense rindo do corintiano que
não pode ir ao jogo porque é proibido...). Ao contrário, o combate à
violência nos estádios passa pela
educação e pelo respeito às diferenças".
Concordo com o co-autor da coluna de hoje: quanto mais se proíbe e se separa, pior. Bandeiras são
proibidas nos estádios paulistas, e
muitos já não usam a camisa do
seu time por medo da violência.
Os ignorantes estão levando vantagem porque essa pode ser a nova proibição oficial... Qual o próximo passo, proibir corintianos
de sair à rua em dias de jogo do
São Paulo? Isolar o bairro do Morumbi, por onde só passarão torcedores do mandante?
Como o próprio Capez admite,
a violência entre torcedores é um
reflexo de outros problemas. O demente que sai armado para dar
tiros no ônibus com torcedores rivais não é só um "torcedor" violento, é uma pessoa desprovida de
toda noção de civilidade. Para começar, ele não poderia ter uma
arma de fogo -mas por que o
empenho na busca e apreensão de
armas ilegais não é o mesmo que
existe em relação à maconha, por
exemplo? E o futebol é só um pretexto para o ódio ao "outro".
Ver um ônibus lotado de torcedores de um time é mesmo assustador. Em vez de segregar cada
vez mais, melhor seria misturar.
Obrigar os torcedores a tomar a
mesma condução, a andar na
mesma rua. Daria um trabalhão
para a polícia, mas obrigá-los a
manter distância uns dos outros
também dá, e sempre tem furos.
Nada disso exclui a necessidade
de punição rigorosa para os
agressores, ou para quem é pego
com bombas de fabricação caseira antes de chegar a usá-las. Mas
proibir a ida ao estádio de quem
só queria ver o jogo no campo é
punir justamente o inocente.
Estupefaciente
Não é uma loucura que uma
empresa, ou melhor, que cinco
empresas tenham a quantia de
R$ 65 milhões para pagar por
uma cota de publicidade do
"Futebol 2005" da Globo? Essa
dinheirama acaba indo, indiretamente, para os cofres de clubes que estão quebrados, administrados de forma amadora e
desastrada e que dependem
fortemente dos direitos de televisão. O anunciante tem uma
exposição gigante e tem lá seu
retorno, o que justifica o gasto.
Mas imagino como se sente o
captador de recursos de um
projeto esportivo bacanérrimo
que tenta conseguir por volta
de R$ 5.000 por mês de patrocínio, mas não consegue... Algumas coisas são grandes demais,
e outras não conseguem crescer
de jeito nenhum.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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