São Paulo, sábado, 23 de setembro de 2006

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JOSÉ GERALDO COUTO

Longe de casa

Duelo paulista em Presidente Prudente pode ser bom para a segurança pública, mas é ruim para o futebol do país

TIME DE MASSA é assim: bastou o Palmeiras perder duas seguidas, depois de passar 11 partidas invicto, e já se fala em crise, a torcida protesta, dirigente manda o treinador calar a boca em público e por aí vai.
Em vista do clima exageradamente exaltado, até que foi bom o "Choque-Rei" de amanhã, contra o São Paulo, ter sido marcado para a longínqua Presidente Prudente. Assim, os riscos de atritos entre alviverdes e tricolores -e de alviverdes entre si- diminuem sensivelmente.
Já o São Paulo é um caso curioso. Sua torcida, que anda ausente dos estádios, parece ver o possível título do Brasileirão como reles prêmio de consolação. Como notou Xico Sá em sua coluna de ontem, os tricolores estão viciados em Libertadores. Daí para baixo é "torneio regional".
É uma pena, pois o clube do Morumbi tem "apenas" três títulos nacionais, o que o deixa atrás do Flamengo, do Vasco e, principalmente, de seus rivais mais diretos, o Corinthians e o Palmeiras. Será que isso não serve como motivação suficiente para vencer mais um Brasileiro?
Cabe lembrar que outro postulante ao título deste ano, o Inter, também tem três e pode, em caso de conquista, deixar o tricolor para trás. O que é que explica essa relativa apatia do torcedor são-paulino quando não se trata de Libertadores? Síndrome de Lorde Didu Morumbi (o aristocrata tricolor do saudoso "Show de Rádio")? Desprezo pelos adversários brasileiros -e, por extensão, pelo próprio país?
Mas quem é que vai entender a psicologia do torcedor? O fato é que, amanhã, tanto o Palmeiras como o São Paulo, cujos centros de treinamento são vizinhos de muro na Barra Funda, estarão muito longe de casa no clássico.
Talvez, como disse lá atrás, isso seja bom do ponto de vista da segurança pública. Os moradores da rua Turiassu e arredores (ou da Giovanni Gronchi e adjacências) irão respirar aliviados. Mas, no que diz respeito à seiva da paixão popular que move o futebol, é uma situação lamentável.

Bom começo
Contra as previsões gerais de que teria um mandato-tampão, Dunga dá mostras de estar pensando em trabalho a longo prazo. Começa a chamar para a seleção jogadores que estão em "idade olímpica" para a China-2008 e acena com o desejo de comandar a garotada nos Jogos de Pequim. A CBF, por enquanto, dá corda ao capitão.
Quanto à convocação, gostei sobretudo de Daniel Alves (só que, a meu ver, deveria ser para o lugar de Maicon, e não de Cicinho) e de Lucas, volante gremista que tem tudo para ser um craque na posição. Tomara mesmo que dê certo. Dunga ainda tem tudo a aprender e a mostrar como treinador, mas não lhe falta seriedade, nem afinco, nem tampouco sensatez. Num país que anda carente de tudo isso, e em todas as esferas, já é bom começo.

EU CONFESSO
A inveja é uma merda, já dizia o pára-choque do caminhão. O primeiro passo para combater esse sentimento venenoso é assumi-lo publicamente. Pois, confesso: tenho inveja da prosa saborosa de Xico Sá, um dos textos mais brilhantes da imprensa nacional. O pior é que o desgramado escreve neste espaço às sextas, o que torna sem graça, por contraste, o texto publicado aqui no sábado, ou seja, este que o amigo leitor tem diante dos olhos.

FOGO AMIGO
A expulsão de Paulo Almeida do treino de ontem do Corinthians, após entrada violenta em Roger, mostra que os ânimos seguem exaltados no clube e que os atritos no interior do elenco não se deviam só à presença de Tevez e Mascherano. Por enquanto, nessa selva, o Leão ruge. Vai saber até quando...


jgcouto@uol.com.br

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