São Paulo, quinta-feira, 23 de setembro de 2010

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JUCA KFOURI

Baixo entendimento


O Brasil continua com foco errado, privilegia o alto rendimento em vez de massificar o esporte


O PRESIDENTE Lula, mais perfeita fusão do Padim Ciço com Macunaíma, assinou nova medida provisória para dar recursos ao esporte. Chamada de MP do Alto Rendimento, visa dar condições para que nossos atletas não façam feio na Rio-2016. As medidas são positivas, ao sugerir, mesmo que superficialmente, algum controle do emprego do dinheiro do Estado nas confederações esportivas.
Da mesma forma, apesar de compromisso apenas simbólico, porque nada acontecerá se não for cumprido, enfim o COB foi obrigado a assumir um objetivo mínimo ao estabelecer a meta de ficar entre os dez primeiros no quadro de medalhas.
Mas tudo isso só faria sentido se antes, lá atrás, há 510 anos e, no que diz respeito a este governo, há oito anos, o país tivesse estabelecido uma Política Esportiva que contemplasse a massificação da prática com vistas à saúde pública, o esporte como meio de prevenção de doenças. Mas não.
Muito parecido com os métodos de países totalitários no passado, o gol é fazer bonito na Olimpíada. Mas de que vale ganhar medalhas se existe um enorme vazio entre os atletas e o povo sedentário, sem oferta para se mexer?
Carlos Nuzman tem razão ao dizer que nunca antes neste país um presidente da República deu tanto ao esporte. Se bem que ele diz também que continua a ser insuficiente, porque é insaciável, e se esquece de dizer que Lula deu aquilo que não é dele, é seu, meu, nosso suado dinheirinho, seja via loterias, seja pelas estatais.
E antes que você, raro leitor, pense que aqui está mais uma peça anti-Lula, registre-se que os tucanos fracassaram igualmente no quesito nos oito anos em que ocuparam o Palácio do Planalto.
Desnecessário dizer que a nova dinheirama que vem aí para irrigar as confederações, cujos cartolas se perpetuam no poder em reeleições intermináveis porque nada é mais confortável do que mamar nas tetas públicas sem ter de trabalhar a não ser na primeira classe dos voos internacionais, estará sempre sujeito às "taxas de sucesso", mas é claro que a possibilidade sempre presente de corrupção não deve inibir boas medidas.
E cumpre lembrar que o ingênuo autor destas linhas, pouco mais de oito anos atrás, ao lado de outros cidadãos bocós, fez e entregou, a toque de caixa, a pedido do presidente recém-eleito, uma proposta de Política Esportiva que contemplava exatamente a massificação. Que fim levou?
Ora, foi recebida com pompa e circunstância. E devidamente engavetada. Benfeito para nós.

blogdojuca@uol.com.br


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