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BASQUETE
Na porta da zona
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Antecipar a nova divisão
de forças da NBA não é uma
tarefa simples neste ano. Contratações (e desfalques), o combustível habitual das profecias, parecem irrelevantes quando lembramos que a liga oficializa, dentro
de uma semana, sua maior revolução em quase meio século.
Em nome de uma desburocratização, não haverá mais uma regulamentação para o que se pode
ou não fazer no setor defensivo.
Ao longo de toda a sua história,
a NBA impôs a obrigatoriedade
da marcação individual -os emparelhamentos, homem a homem, deviam ficar claros pela
disposição dos atletas na quadra.
Na visão de muitos puristas, essa particularidade definiu a alma
e a trajetória de sucessos do basquete profissional nos EUA. Foi,
afinal, para levar vantagem sobre
seu marcador que o jogador norte-americano aperfeiçoou o drible, adquiriu velocidade, desenvolveu sua capacidade atlética...
Mas os cartolas da bola laranja
perceberam, com razão, que as
partidas andavam pobres, restritas a duelos "mano a mano" -e
que os torcedores, e alguns árbitros, nunca chegaram a compreender as especificidades da
chamada "defesa ilegal". Resolveram implodir a estrutura do jogo
e cruzar os dedos para que, das
cinzas, ele reencontre a vocação
pelo improviso, pela emoção.
(Somente em 1954 houve uma
decisão de impacto similar -a
definição de um limite de 24 segundos para o arremesso.)
Todas as equipes da NBA já incluíram a marcação por zona em
suas cartilhas. Algumas devem
alçá-la à primeira opção de jogo.
Essa tática reduz o peso, ou exige ainda mais, das superestrelas.
Veja o caso de Shaquille O'Neal,
que se acostumou a receber combate duplo, ou triplo, toda vez que
lhe entregavam a bola. Pois agora
enfrentará essa pressão antes que
o passe lhe seja feito.
Dínamos da velocidade e do bate-bola, como Allen Iverson e Steve Francis, não terão mais um só
oponente no caminho da cesta.
Com tudo isso, torna-se fundamental o que se faz, e quem aparece, no chamado "weak side", o
lado "fraco" da quadra, oposto
àquele em que o lance ofensivo
começa a ser construído.
Exemplo: os rivais simplesmente vão congestionar o lado ocupado por John Stockton e Karl Malone, inibindo os corta-luzes que fizeram a fama da dupla e forçando o Utah a buscar a cesta com
coadjuvantes como John Starks.
Para fugir à defesa por zona,
obrigando o adversário a espacejar a marcação, algumas equipes
não descartam deslocar os craques para o lado "fraco", alienando-os do bate-bola. Kobe Bryant,
do Los Angeles Lakers, atual bicampeão da liga, e Jerry Stack-
house, do Detroit Pistons, já experimentaram essa função.
Outro antídoto bastante treinado na pré-temporada foi o contra-ataque veloz. O Orlando, por
exemplo, testou o ala Grant Hill
como armador para que o tampinha Darrell Armstrong fosse liberado para correr à frente.
Mas, colhidos de supetão, os técnicos ainda se dizem confusos. O
centralizador Pat Riley acena soltar as rédeas do Miami. O camarada Byron Scott fala em domar o
criativo Jason Kidd no New Jersey. Alguns prevêem a escassez de
cestas; outros, o contrário.
A verdade é que a nova NBA terá de sentir o basquete, terá de
(re)aprender a jogar no tato, em
um extenuante braile com a bola.
Por ora, estamos todos às cegas.
Regras 1
Para apimentar, a NBA dará ao time 8 segundos, e não 10, para mover a bola além do meio da quadra. E, a menos que esteja marcando alguém, o defensor poderá ficar só 3 segundos em seu garrafão.
Regras 2
Vai se adaptar melhor à nova realidade o atleta com disciplina tática, capaz de criar o próprio arremesso e de encestar de média distância. Alguém se lembrou do basquete universitário? Enfim, é
possível transpor a realidade amadora (e do mundo) para a NBA.
Regras 3
No ataque, contra a defesa por zona ou individual, de todo modo
seria um show de cestas. Mas, na defesa, as mudanças teriam beneficiado, e muito, uma hipotética carreira de Oscar na NBA. Sem a
obrigação de marcar homem-a-homem, o brasileiro não seria um
fardo para sua equipe. Seria, sim, uma grande estrela.
E-mail melk@uol.com.br
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