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FUTEBOL
Morte e Vida Futebol
JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA
"É claro que o futebol não
é uma questão de vida ou
de morte. É muito mais do que isso", disse certa vez o gerente do
Liverpool, Bill Shankly.
"O futebol é assassino. O futebol
é desonesto. O futebol é dinheiro e
violência, é cobiça e ódio", escreveu José Roberto Torero neste espaço, na última quinta-feira.
Ambos têm razão.
E ambos correm o risco das interpretações simplórias.
O escocês Shankly certamente
não quis dizer que o futebol está
acima da vida e da morte, do bem
e do mal.
Usou de uma metáfora para exprimir, no plano simbólico, o
quanto o futebol representa no
cotidiano da sociedade.
O nosso Torero expressou um
sentimento circunstancial, mais
que justificável diante de três
mortes estúpidas.
Optou por um corte, absolutamente verdadeiro, que revela o
que o futebol tem de pior, de mais
sombrio.
Como a medicina, por incrível
que pareça, também tem.
Na verdade, estamos falando do
ser humano, este projeto inviável,
como cada século demonstra à
exaustão.
O homem e suas atividades,
suas ambições, seus sonhos, suas
guerras, religiões, sua capacidade
de ser intolerante.
Definitivamente, não vale a pena morrer por causa de um time
de futebol.
E morrem muitos aqui e em
países ditos mais avançados, mais
civilizados.
A pergunta talvez seja, nestes
dias de puro ceticismo: há alguma
idéia que valha uma vida?
As respostas são muitas, cínicas
até.
Alguém dirá que, como a vida
não anda valendo mesmo nada,
qualquer motivo, por mais pueril
que seja, justifica sacrificá-la. Por
dinheiro, pelo poder, por quaisquer dos diversos deuses que infernizam a humanidade.
É exatamente por isso que se
morre por futebol.
Pelo Palmeiras, pelo São Paulo,
pelo Corinthians, pela Gaviões,
pela Independente, pela Mancha
Alviverde.
Só que o show não pode parar. E
não parará, é óbvio.
Muitos que se horrorizam a cada morte no futebol a estimulam
ao dar vez e voz aos que apregoam a violência.
E como a representação política
caiu em absoluto descrédito, a
representação sindical não soube
se renovar, o sistema educacional
é o caos que é, ficamos todos desnorteados, incapazes de encontrar as soluções, por mais que haja leis que, em tese, as contemplem.
O artigo 17 do Estatuto do Torcedor é uma delas, ao obrigar que
as entidades do futebol apresentem planos de ação para cada
evento, algo que virou letra morta
e que o Ministério Público tem falhado ao não fiscalizar e exigir
aplicação.
A luta para que se encontre a
saída, por idealista, utópico e paradoxal que pareça, também não
pode parar.
Porque, em meio à tamanha
barbárie, ainda existem aqueles
que lutam a vida inteira, os tais
imprescindíveis, um dia citados
por Bertold Brecht.
Amanhã e depois
Esfalfados ao pagar o preço de jogar a tal Sul-Americana, os jogadores do Fluminense praticamente se despediram do título brasileiro.
Não menos cansados, os corintianos devem à má partida do Paraná e
a um milagre de Fábio Costa, além do gol logo aos 13 minutos de Tevez, a manutenção da folga na liderança, com só o Goiás, descansado,
e Inter em seu encalço. Porque o Inter também pagou em Caxias pelo
esforço diante do Boca. Amanhã e depois, com os jogos do Morumbi
e do Serra Dourada, o Brasileirão pode perder mais de sua graça. Ou
ressuscitar pelos pés do São Paulo se não der empate em Goiânia.
Kirrata
Onde você leu, na coluna passada, que Tevez apanhava por causa
"do ciúmes", leia, por favor, dos ciúmes ou, ainda melhor, do ciúme.
@ - blogdojuca@uol.com.br
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