|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Boxe olímpico muda rumo ao profissionalismo
Após alteração sutil em estatuto, iniciativas como abolição do capacete protetor e valorização de pegada são estudadas
Freqüentemente tido como "chato" por preservar os
atletas, amadorismo busca imprimir espetáculo para
agradar à mídia e ao público
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
Capacetes protetores para
garantir a integridade dos atletas, ênfase nos toques rápidos,
porém sem muita potência, assaltos de curta duração para
não desgastar os pugilistas,
orientação para o árbitro manter o "fair play" a todo custo.
Preocupada com a pecha de
"chato" que o boxe amador carrega por priorizar a integridade
física dos atletas, a Aiba (entidade que dirige a modalidade)
pediu a um grupo de especialistas que estudem os efeitos de
um pacote de medidas que deixará o pugilismo amador bastante próximo do profissional.
Já o estatuto atual da Aiba,
cujo Mundial tem início hoje,
passa a mencionar o boxe pago:
"A associação deve ter como
meta controlar seu destino em
todos os níveis do esporte, incluído aí o boxe profissional".
Outras alterações, sutis, também na direção do profissionalismo foram feitas no regulamento. A partir de agora é recomendado que os árbitros interfiram no desenrolar do espetáculo só em casos inevitáveis e,
depois de Pequim-08, os assaltos voltarão a ter três minutos.
Mas a Aiba não pára por aí.
Planeja mudanças drásticas
que, se aprovadas -devem ser
votadas entre o fim deste ano e
o início do próximo-, alterarão
totalmente o boxe olímpico.
Os atletas não mais usarão
capacete protetor, a queda valerá ponto para quem a aplicar
e o sistema de pontuação incentivará a agressividade: vantagem de até cinco toques vale a
vitória por um ponto no assalto, por até dez toques, dois, e
por mais de dez toques, três.
A primeira medida visa aumentar a dramaticidade dos
duelos e tornar os competidores mais conhecidos -hoje
seus rostos ficam escondidos
por trás dos capacetes. A segunda, aumentar a agressividade.
Em comunicado a seus associados, a entidade informou
que os três itens são estudados.
A proposta de mudanças surgiu após o impeachment do ex-presidente Anwar Chowdry,
sob acusação de corrupção, e
sua substituição por Cing-Kuo
Wu. Integrantes da nova diretoria mantêm estreita ligação
com o profissionalismo.
Dois dos principais treinadores brasileiros, Luiz Carlos Dórea e Ulisses Pereira, que comandam a equipe nacional no
Mundial, argumentam que a
mudança ajudará a criar ídolos,
bem como a transição dos atletas para o boxe profissional.
"O último grande amador a
virar ídolo foi o Oscar de la Hoya [em 92]. Essa distância menor entre boxe amador e profissional favorecerá a aparição de
ídolos", argumentou Dórea,
treinador de Pedro Lima, medalha de ouro no Pan do Rio.
"Concordo, mas não gostei
da idéia de aposentar o capacete protetor. Isso seria uma volta
ao passado", criticou Pereira.
"[Com as mudanças], a transição para o boxe profissional
seria facilitada. No amadorismo, os atletas aprendem a tocar
o rival e sair, andar muito para
trás. Já no profissionalismo, tenho de ensinar a ir para a frente
e a golpear com força. É como
esportes diferentes, como começar do zero", afirma Dórea.
Texto Anterior: Soninha: Saudade do que não era Próximo Texto: Desertores vão aos EUA; Cuba, não Índice
|