São Paulo, terça-feira, 23 de outubro de 2007

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Boxe olímpico muda rumo ao profissionalismo

Após alteração sutil em estatuto, iniciativas como abolição do capacete protetor e valorização de pegada são estudadas

Freqüentemente tido como "chato" por preservar os atletas, amadorismo busca imprimir espetáculo para agradar à mídia e ao público

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Capacetes protetores para garantir a integridade dos atletas, ênfase nos toques rápidos, porém sem muita potência, assaltos de curta duração para não desgastar os pugilistas, orientação para o árbitro manter o "fair play" a todo custo.
Preocupada com a pecha de "chato" que o boxe amador carrega por priorizar a integridade física dos atletas, a Aiba (entidade que dirige a modalidade) pediu a um grupo de especialistas que estudem os efeitos de um pacote de medidas que deixará o pugilismo amador bastante próximo do profissional.
Já o estatuto atual da Aiba, cujo Mundial tem início hoje, passa a mencionar o boxe pago: "A associação deve ter como meta controlar seu destino em todos os níveis do esporte, incluído aí o boxe profissional".
Outras alterações, sutis, também na direção do profissionalismo foram feitas no regulamento. A partir de agora é recomendado que os árbitros interfiram no desenrolar do espetáculo só em casos inevitáveis e, depois de Pequim-08, os assaltos voltarão a ter três minutos.
Mas a Aiba não pára por aí. Planeja mudanças drásticas que, se aprovadas -devem ser votadas entre o fim deste ano e o início do próximo-, alterarão totalmente o boxe olímpico.
Os atletas não mais usarão capacete protetor, a queda valerá ponto para quem a aplicar e o sistema de pontuação incentivará a agressividade: vantagem de até cinco toques vale a vitória por um ponto no assalto, por até dez toques, dois, e por mais de dez toques, três.
A primeira medida visa aumentar a dramaticidade dos duelos e tornar os competidores mais conhecidos -hoje seus rostos ficam escondidos por trás dos capacetes. A segunda, aumentar a agressividade.
Em comunicado a seus associados, a entidade informou que os três itens são estudados.
A proposta de mudanças surgiu após o impeachment do ex-presidente Anwar Chowdry, sob acusação de corrupção, e sua substituição por Cing-Kuo Wu. Integrantes da nova diretoria mantêm estreita ligação com o profissionalismo.
Dois dos principais treinadores brasileiros, Luiz Carlos Dórea e Ulisses Pereira, que comandam a equipe nacional no Mundial, argumentam que a mudança ajudará a criar ídolos, bem como a transição dos atletas para o boxe profissional.
"O último grande amador a virar ídolo foi o Oscar de la Hoya [em 92]. Essa distância menor entre boxe amador e profissional favorecerá a aparição de ídolos", argumentou Dórea, treinador de Pedro Lima, medalha de ouro no Pan do Rio.
"Concordo, mas não gostei da idéia de aposentar o capacete protetor. Isso seria uma volta ao passado", criticou Pereira.
"[Com as mudanças], a transição para o boxe profissional seria facilitada. No amadorismo, os atletas aprendem a tocar o rival e sair, andar muito para trás. Já no profissionalismo, tenho de ensinar a ir para a frente e a golpear com força. É como esportes diferentes, como começar do zero", afirma Dórea.


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