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PAULO VINICIUS COELHO
Bata na madeira
O São Paulo, dia após dia,
revela-se o único ligado nas tendências mundiais, capaz de provar a substância do tri
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A COLUNA escrita por Alberto
Helena Junior segue viva na
memória como se houvesse
sido publicada ontem. Mas saiu
mesmo na edição de 17 de dezembro
de 1982, da revista "Placar". Na capa,
o título "Corinthians campeão!", nas
páginas internas, a conquista alvinegra que impedia, pela quarta vez na
história, o São Paulo de ser tricampeão.
Sob o título "Bata três vezes na
madeira quando seu time chegar ao
tri", Helena se perguntava por que o
tricampeonato possui substância
tão fina e especial, por que parecia
ser mais significativo até que o tetra
ou o penta?
Sem jamais vestir a faixa do tri, o
São Paulo seguiu sua trajetória de títulos, interrompida apenas por uma
seca de 13 anos, a menor entre os
grandes clubes do país, à exceção do
Vasco. Enquanto isso, times que
chegavam ao tri passavam por turbulências logo na seqüência.
"O caso é que na história dos supertimes, ao se vencerem os três
anos de fausto, sempre se impôs
uma reformulação", escrevia Alberto Helena, em 1982, lembrando o
Santos, o Flamengo e o São Paulo
dos anos 40.
O texto ficou na memória, mais
até na do menino de 13 anos do que
na do autor. Perguntado se lembrava de ter escrito a obra-prima, Helena respondeu, em 1998: "Não lembro desse texto, não".
O crescimento da lista de campeões brasileiros faz, pela primeira
vez, ser mais simbólico dizer "tri" do
que "hexa", caso o São Paulo conquiste seu terceiro Brasileirão consecutivo. A missão ainda é espinhosa, porque exige somar ponto em
São Januário, de preferência os três
em disputa -e olha aí o número cabalístico outra vez.
Diferentemente dos casos dos tri
que não souberam passar por reformulação, o São Paulo de Juvenal,
Muricy e Rogério Ceni vive em outra
época. Tempo em que é preciso reformular-se para ser bi, como foi em
2007 com seis titulares diferentes
de 2006. O tri se anuncia com seis
novidades em relação ao time titular
contra o América-RN, no jogo que
confirmou o segundo título seguido,
no ano passado.
Significa ser possível comparar o
tri do São Paulo -se chegar- não
com o Flu de 85, ou o Santos de 69,
mas com o Bayern de Munique. Dos
últimos dez campeonatos alemães,
o Bayern venceu sete, com um tri e
um bicampeonato. Pelo mundo, clubes como Bayern, Barcelona, Real
Madrid, Ajax e PSV espantam a maldição e se mantêm na luta por troféus, mesmo depois de conquistá-los por três vezes consecutivas.
Como o São Paulo, dia após dia,
torna-se o único clube do país ligado
nas tendências do futebol mundial,
parece ser capaz de criar um longo
período de hegemonia. De ser o Bayern de Munique do Brasil, de ganhar três títulos e perder um, ganhar mais dois e deixar a concorrência com outro e seguir sua trajetória
de conquistas quase sem interrompê-la. É o primeiro sintoma de que
se está perto de cumprir a profecia
de que, tendo o Brasileirão como base da temporada, nascerá uma elite
de quatro, cinco grandes clubes no
máximo. Sendo ou não tricampeão,
o São Paulo claramente fará parte
desse grupo seleto. A questão é se alguém mais fará.
Bata três vezes na madeira.
pvc@uol.com.br
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