São Paulo, terça-feira, 23 de novembro de 2010

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Ianques

Investidores dos EUA criam academias de beisebol na América Central e lucram com jovens pobres

MICHAEL S. SCHMIDT
DO "NEW YORK TIMES", EM SANTO DOMINGO (REPÚBLICA DOMINICANA)

Investidores dos EUA acharam uma nova e exótica perspectiva de investimento: jogadores de beisebol latino- -americanos, alguns jovens de apenas 13 anos e muitos oriundos de famílias pobres.
Os investidores financiam técnicos dominicanos de iniciantes, chamados de "buscones", ou criam academias.
Em troca, ficam com até 50% da bonificação que um jogador venha a receber em um contrato. Os agentes de atletas dos EUA em geral ganham 5% das bonificações.
Entre os investidores dos EUA estão Brian Shapiro, administrador de um fundo de hedge de Nova York que, com o ex-jogador Reggie Jackson, tentou anos atrás controlar o Oakland Athletics; Steve Swindal, ex-diretor-geral do New York Yankees; Abel Guerra, ex-assessor da Casa Branca na presidência de George W. Bush; e Hans Hertell, ex-embaixador na República Dominicana.
Há outros menos proeminentes: um advogado de Nova Jersey, um dentista da Califórnia e um vendedor de computadores de Nova York.
A MLB, que comanda o beisebol profissional nos EUA, preocupa-se com a falta de fiscalização nas academias. Diz que o sistema tira jovens da escola e já se envolveu em escândalos com uso de anabolizantes e atletas com idades falsificadas.
Nas academias dos investidores americanos, os atletas têm, em geral, entre 13 e 19 anos e deixam a escola. As condições das academias variam de menos que desejável a impecável, como a de Swindal, Guerra e Hertell.
"Estamos lá por lucros? Com certeza", disse Gary Goodman, advogado de imóveis em Nova Jersey.
Goodman e outros investidores dizem que seu dinheiro ajuda a melhorar a situação dos atletas e que recebem percentual menor dos futuros ganhos dos jovens do que a maioria dos treinadores.
Alguns investidores emprestam dinheiro diretamente às famílias dos jovens. As práticas são criticadas por David Fidler, professor de Direito Internacional da Universidade de Indiana.
"É perturbador que investidores dos EUA lucrem com um sistema que explora e discrimina crianças pequenas."
A 1h30 de Santo Domingo, em Don Gregorio, pode-se visitar uma parte do sistema, em uma pequena casa com muros de concreto, cercas metálicas com arame farpado e portões trancados.
Lá, há um dormitório para 12 atletas, alguns com 14 anos. O treinamento é conduzido pela California Sports Management, de Sacramento, empresa do agente Greg J. Maroni, financiada por seu pai, o dentista e empresário de fast-food Greg G. Maroni.
Construído em 2007, o local tem um grande quarto com beliches e um pequeno banheiro com dois chuveiros. O arame farpado foi instalado após um atleta pular a cerca para se encontrar com garotas, disse Carlos Paulino, o técnico dominicano que dirige o lugar. "É para garantir que não saiam."
Poucas semanas depois, Maroni e Paulino desmentiram as declarações do segundo sobre o arame farpado. Afirmaram que a proteção era para impedir invasões.
O pai de Maroni diz que investiu US$ 200 mil na academia desde 2007 e que gasta US$ 2.000 para mantê-la.
Quando um atleta assina contrato, os Maroni recebem entre 10% e 30% da bonificação e dividem o lucro com os técnicos dominicanos.
Maroni pai diz não saber se os jovens iam à escola. "Talvez possamos ensinar inglês e aritmética, para que saibam o que é um número de previdência social ou usar talão de cheques", disse.
Um empréstimo à família de um jogador levou Goodman a iniciar sua academia. Ele viajou à República Dominicana em 2008 com o ex-jogador Alfredo Arias.
Na época, o técnico José Canó disse a eles que a família de Jorge Martínez, um dos atletas que treinava, precisava de dinheiro para comprar comida e equipamentos para o menino, que poderia assinar com um grande time.
Goodman e Arias emprestaram US$ 15 mil a Canó para que ele desse à família de Martínez. Em troca, receberiam 7% de sua bonificação.
"O jovem assinou com o Cleveland Indians e recebeu uma bonificação de US$ 790 mil", disse Goodman, que, com Arias, recebeu US$ 50 mil da bonificação, além dos US$ 15 mil emprestados. Canó ganhou US$ 200 mil.
Em 2009, os dois fundaram sua academia. Arias disse que ele, Goodman e outro sócio investiram US$ 400 mil cada e que previam lucrar US$ 1 milhão em 2010.
No alojamento, 12 atletas vivem amontados. Arias conta que, em certo momento, 30 atletas viveram lá. "Precisamos melhorar as instalações", afirmou Goodman.
Alderson diz que esperava que os americanos percebessem que seu investimento envolvia adolescentes.
"São pessoas que abandonaram outras possibilidades, não foram à escola", disse. "Não é como enviar um cheque a um fundo e esperar que os retornos sejam fortes."


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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