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Ianques
Investidores dos EUA criam academias de beisebol na América Central e lucram com jovens pobres
MICHAEL S. SCHMIDT
DO "NEW YORK TIMES", EM SANTO DOMINGO (REPÚBLICA DOMINICANA)
Investidores dos EUA
acharam uma nova e exótica
perspectiva de investimento:
jogadores de beisebol latino-
-americanos, alguns jovens
de apenas 13 anos e muitos
oriundos de famílias pobres.
Os investidores financiam
técnicos dominicanos de iniciantes, chamados de "buscones", ou criam academias.
Em troca, ficam com até
50% da bonificação que um
jogador venha a receber em
um contrato. Os agentes de
atletas dos EUA em geral ganham 5% das bonificações.
Entre os investidores dos
EUA estão Brian Shapiro, administrador de um fundo de
hedge de Nova York que,
com o ex-jogador Reggie
Jackson, tentou anos atrás
controlar o Oakland Athletics; Steve Swindal, ex-diretor-geral do New York Yankees; Abel Guerra, ex-assessor da Casa Branca na presidência de George W. Bush; e
Hans Hertell, ex-embaixador
na República Dominicana.
Há outros menos proeminentes: um advogado de Nova Jersey, um dentista da Califórnia e um vendedor de
computadores de Nova York.
A MLB, que comanda o
beisebol profissional nos
EUA, preocupa-se com a falta
de fiscalização nas academias. Diz que o sistema tira
jovens da escola e já se envolveu em escândalos com uso
de anabolizantes e atletas
com idades falsificadas.
Nas academias dos investidores americanos, os atletas têm, em geral, entre 13 e
19 anos e deixam a escola. As
condições das academias variam de menos que desejável
a impecável, como a de Swindal, Guerra e Hertell.
"Estamos lá por lucros?
Com certeza", disse Gary
Goodman, advogado de imóveis em Nova Jersey.
Goodman e outros investidores dizem que seu dinheiro
ajuda a melhorar a situação
dos atletas e que recebem
percentual menor dos futuros ganhos dos jovens do que
a maioria dos treinadores.
Alguns investidores emprestam dinheiro diretamente às famílias dos jovens.
As práticas são criticadas
por David Fidler, professor
de Direito Internacional da
Universidade de Indiana.
"É perturbador que investidores dos EUA lucrem com
um sistema que explora e discrimina crianças pequenas."
A 1h30 de Santo Domingo,
em Don Gregorio, pode-se visitar uma parte do sistema,
em uma pequena casa com
muros de concreto, cercas
metálicas com arame farpado e portões trancados.
Lá, há um dormitório para
12 atletas, alguns com 14
anos. O treinamento é conduzido pela California Sports
Management, de Sacramento, empresa do agente Greg J.
Maroni, financiada por seu
pai, o dentista e empresário
de fast-food Greg G. Maroni.
Construído em 2007, o local tem um grande quarto
com beliches e um pequeno
banheiro com dois chuveiros. O arame farpado foi instalado após um atleta pular a
cerca para se encontrar com
garotas, disse Carlos Paulino, o técnico dominicano
que dirige o lugar. "É para garantir que não saiam."
Poucas semanas depois,
Maroni e Paulino desmentiram as declarações do segundo sobre o arame farpado.
Afirmaram que a proteção
era para impedir invasões.
O pai de Maroni diz que investiu US$ 200 mil na academia desde 2007 e que gasta
US$ 2.000 para mantê-la.
Quando um atleta assina
contrato, os Maroni recebem
entre 10% e 30% da bonificação e dividem o lucro com os
técnicos dominicanos.
Maroni pai diz não saber se
os jovens iam à escola. "Talvez possamos ensinar inglês
e aritmética, para que saibam o que é um número de
previdência social ou usar talão de cheques", disse.
Um empréstimo à família
de um jogador levou Goodman a iniciar sua academia.
Ele viajou à República Dominicana em 2008 com o ex-jogador Alfredo Arias.
Na época, o técnico José
Canó disse a eles que a família de Jorge Martínez, um dos
atletas que treinava, precisava de dinheiro para comprar
comida e equipamentos para
o menino, que poderia assinar com um grande time.
Goodman e Arias emprestaram US$ 15 mil a Canó para
que ele desse à família de
Martínez. Em troca, receberiam 7% de sua bonificação.
"O jovem assinou com o
Cleveland Indians e recebeu
uma bonificação de US$ 790
mil", disse Goodman, que,
com Arias, recebeu US$ 50
mil da bonificação, além dos
US$ 15 mil emprestados. Canó ganhou US$ 200 mil.
Em 2009, os dois fundaram sua academia. Arias disse que ele, Goodman e outro
sócio investiram US$ 400 mil
cada e que previam lucrar
US$ 1 milhão em 2010.
No alojamento, 12 atletas
vivem amontados. Arias conta que, em certo momento,
30 atletas viveram lá. "Precisamos melhorar as instalações", afirmou Goodman.
Alderson diz que esperava
que os americanos percebessem que seu investimento
envolvia adolescentes.
"São pessoas que abandonaram outras possibilidades,
não foram à escola", disse.
"Não é como enviar um cheque a um fundo e esperar que
os retornos sejam fortes."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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