São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 2010

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PAULO VINICIUS COELHO

A base do problema


Usar os casos de Oscar e cia. para dizer que o São Paulo não é perfeito é deixar de discutir uma grave questão


O FLAMENGO já recebeu propostas de fundos de investimento dispostos a erguer seu Centro de Treinamento. A contrapartida: porcentagens nos contratos dos jovens jogadores. "Recebemos e estudamos todo tipo de oferta, mas nosso objetivo é construir o CT por nossa conta, para ter autonomia na gestão das divisões de base", afirma a presidente Patrícia Amorim.
Não é fácil investir em formação de jogadores no Brasil, hoje em dia.
O exemplo mais recente é o do São Paulo. Os garotos Oscar, Lucas e Diogo decidiram romper com o clube. O presidente do Sindicato dos Atletas, Rinaldo Martorelli, acusa o São Paulo de coagir jogadores. "O fato de ter emancipado 22 atletas demonstra que o clube não é 100% correto no que faz", afirma Martorelli.
A frase do presidente do sindicato é oportunista, como são todos os que usam o caso tricolor apenas para fazer polêmica. Aqui não se vai dizer que o São Paulo é um exemplo. Não é. Mas Oscar, Lucas e Diogo são símbolos de um problema que aflige todos os clubes do país.
Por cinco anos, o Santos investiu na formação de Neymar, sem ter certeza se ele chegaria ao time profissional. Aos 15 anos, o atacante já tinha um contrato de luvas superior a R$ 2 milhões e salário de R$ 15 mil mensais. O investimento era pesado. Mais ainda porque contrato mesmo Neymar só poderia assinar quando completasse 16 anos, de acordo com a lei. Também só poderia assinar pelo período de três anos, por não ser maior de idade.
O que fez o Santos? Emancipou-o.
Responsável por si, Neymar pôde assinar contrato por cinco anos.
Passou a ter vínculo com o clube até os 21, o que aumentou sua chance de jogar no time de cima. Foi o Santos, não o São Paulo, quem inventou a ideia de emancipar jogadores menores de idade. É a tentativa de corrigir uma distorção da lei, legítima, desde que não exista coação ao atleta.
No CT de Cotia, o discurso dos dirigentes são-paulinos é o de que o clube se tornou vítima das ações para quebras contratuais porque não divide porcentagens com agentes e fundos de investimento. "Essa prática não existe conosco e não vai existir. Nos times em que isso acontece, o agente só não induz o garoto a sair porque aposta que terá porcentagem numa venda mais lucrativa quando chegar aos profissionais. De certa forma, vira parceiro na tentativa de fazer o jogador vingar", diz o presidente Juvenal Juvêncio.
Luis Alvaro Ribeiro assumiu o Santos no mês passado e deu de cara com essa situação. "A política do Marcelo Teixeira era de "fatiar" os jogadores da base. O Sonda, por exemplo, tem porcentagem de um número grande de atletas", afirma. Quer dizer: parte dos garotos da Copa São Paulo nunca será 100% do Santos.
A intenção da nova diretoria santista não é deixar de ter parcerias em contratos de atletas da base, mas diminuir isso. O que não se discute, nem no Santos nem no São Paulo, é que formar jogadores é indispensável para ter bons times. No passado, o Vasco abandonou o investimento em garotos. Virou escravo do mercado de jogadores medíocres.
Usar os casos de Oscar, Diogo e Lucas apenas para dizer que o São Paulo não é perfeito é perder a chance de discutir a sério um dos problemas mais graves do futebol do país.

pvc@uol.com.br


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