São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 2007

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Jogo de rúgbi faz Irlanda revisitar "Bloody Sunday" em cenário nacionalista

ALEC DUARTE
DA REPORTAGEM LOCAL

"God Save the Queen", o hino britânico, será tocado e cantado hoje pela primeira vez no Croke Park, em Dublin, antes do jogo de rúgbi entre Irlanda e Inglaterra. Parece irrelevante, mas seu simbolismo é colossal.
Croke Park é simplesmente o palco do primeiro "Bloody Sunday", sangrento episódio ocorrido no dia 21 de novembro de 1920. De armas em punho, soldados ingleses invadiram o estádio atirando a esmo (14 pessoas morreram). Era uma represália à morte de 14 oficiais executados na manhã do mesmo dia em suas casas.
O massacre foi crucial para o desfecho da guerra pela independência irlandesa -ao final dividida em dois territórios, um autônomo e outro, ao Norte, controlado pela Grã-Bretanha. A matança virou hino pacifista na voz do U2, que também fazia referência a outra trágica salva de tiros, esta em 1972, quando uma manifestação republicana foi dispersada a bala.
Agora, 86 anos depois, oprimidos e opressores tiram seus esqueletos do armário.
O confronto será no estádio de 123 anos porque a Associação de Esportes Gaélicos, sua proprietária, permitiu a prática de esportes britânicos.
Até 2005, futebol, rúgbi ou críquete eram absolutamente vetados. Croke Park só via jogos de futebol gaélico (mistura de futebol, basquete e vôlei) e hurling (parecido ao hóquei na grama), além de modalidades menos populares.
Futebol e rúgbi, na Irlanda, sempre tiveram outro endereço: o Lansdowne Road. O palco foi demolido para dar lugar a outro, que deverá estar pronto em 2009.
A presença britânica no cenário do massacre não provocou indiferença. Haverá manifestações na porta do estádio e também durante a execução do hino. Além disso, o filho de uma lenda do futebol gaélico recolheu todas as 23 medalhas e troféus do pai, cedidos ao museu do Croke.
Os jogadores irlandeses e ingleses fazem o possível para despolitizar a partida, válida pelo Torneio das Seis Nações. A propósito, o jogo em si também é muito importante: se vencer, a Inglaterra praticamente garantirá vaga na final da competição, a mais importante do rúgbi europeu.


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