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FUTEBOL
Três baianos e uma vitória
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Passada a eletrizante batalha
da final paulista, alguns aspectos de cada um dos oponentes
ficam mais evidentes.
Do lado são-paulino, nunca ficou tão clara a fragilidade defensiva da equipe, sobretudo quando
joga desfalcada de Maldonado.
Não é que o jogador chileno seja
grande coisa. Não passa de um
volante mediano, mas com uma
disposição física e um posicionamento tático que resultam numa
proteção maior a uma zaga que,
de resto, é muito fraca.
Outra constatação: sem Kaká
(ou com Kaká anulado), o tricolor
tem muito mais dificuldade de alcançar a sutil alquimia de seu envolvente toque de bola ofensivo.
Do lado do Corinthians, tornou-se mais nítido o novo desenho do time depois da troca de
Parreira por Geninho.
Do futebol volumoso e cadenciado do Corinthians de Parreira,
passou-se ao futebol mais vertical,
agudo e vibrátil que costuma caracterizar as equipes dirigidas por
Geninho.
Confesso que subestimei as potencialidades desse novo Corinthians. Por inércia mental, tendemos a ver as mudanças, num primeiro momento, por seu aspecto
exclusivamente negativo, dando
ênfase às perdas e carências.
O próprio torcedor corintiano
ficou meses lamentando a ausência de "um novo Ricardinho".
Pois bem: Jorge Wagner não é "o
novo Ricardinho". É um jogador
completamente diferente, que
não sabe armar, cadenciar e virar
o jogo como o atual meia são-paulino. Mas tem outras qualidades, como a capacidade de arranque e definição, conforme ficou
provado nas finais do Paulista.
Além disso, ao lamentar a saída
do excelente Deivid, deixamos de
aquilatar de imediato o quanto o
Corinthians ganhou com a vinda
do ainda melhor Liédson, um atacante ágil e esperto como poucos.
Mas calma: essas considerações
não têm o intuito de "explicar" a
vitória final corintiana. Os dois jogos decisivos foram extremamente equilibrados e poderiam ter tido resultados bem diferentes.
Basta pensar nos inúmeros acidentes e detalhes que marcaram
os 180 minutos de jogo e que poderiam dar outro rumo ao destino: bolas na trave, falhas individuais, defesas milagrosas, expulsões, eventuais erros de arbitragem... Nada do que aconteceu estava escrito de antemão.
Uma partida de futebol é um
mundo vivo e aparentemente
caótico, ao qual cada comentarista (profissional ou amador) procura dar, a posteriori, organização
e sentido. Algumas dessas tentativas são mais convincentes que
outras. Por exemplo, as análises
de um Tostão, de um Júnior, de
um Paulo Vinícius Coelho.
Mas há outras maneiras de ver
um jogo. Um torcedor passional o
verá como um teatro de heróis,
traidores e vilões.
Quanto a mim, gosto de pensar
na vitória alvinegra como o triunfo de três baianos: Vampeta, Liédson e Jorge Wagner. O primeiro,
um raro remanescente da época
de ouro de 98 e 99, incendiou a final e deu o lançamento perfeito
do último gol; os outros dois vazaram Rogério Ceni três vezes.
Em terra de Figo...
Tudo bem que Luiz Felipe Scolari possa ter suas razões técnicas para convocar o brasileiro
(naturalizado português) Deco
para a seleção de Portugal. Mas,
na condição de brasileiro recém-chegado ao país, o treinador poderia ter um pouco mais
de tato. Diferentemente de Bélgica ou Japão (países cujas seleções já contaram com brasileiros), Portugal não é exatamente
um deserto de talentos.
Futebol soterrado
A conquista do título estadual
pelo Vasco foi obscurecida pela
bagunça da final contra o Fluminense, ontem. Foi um espelho do atual futebol carioca: arbitragem péssima, técnicos e
dirigentes descontrolados e, sobretudo, um número absurdo
de "sapos" na beira do campo.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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