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São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2003

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FUTEBOL

Três baianos e uma vitória

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Passada a eletrizante batalha da final paulista, alguns aspectos de cada um dos oponentes ficam mais evidentes.
Do lado são-paulino, nunca ficou tão clara a fragilidade defensiva da equipe, sobretudo quando joga desfalcada de Maldonado. Não é que o jogador chileno seja grande coisa. Não passa de um volante mediano, mas com uma disposição física e um posicionamento tático que resultam numa proteção maior a uma zaga que, de resto, é muito fraca.
Outra constatação: sem Kaká (ou com Kaká anulado), o tricolor tem muito mais dificuldade de alcançar a sutil alquimia de seu envolvente toque de bola ofensivo.
Do lado do Corinthians, tornou-se mais nítido o novo desenho do time depois da troca de Parreira por Geninho.
Do futebol volumoso e cadenciado do Corinthians de Parreira, passou-se ao futebol mais vertical, agudo e vibrátil que costuma caracterizar as equipes dirigidas por Geninho.
Confesso que subestimei as potencialidades desse novo Corinthians. Por inércia mental, tendemos a ver as mudanças, num primeiro momento, por seu aspecto exclusivamente negativo, dando ênfase às perdas e carências.
O próprio torcedor corintiano ficou meses lamentando a ausência de "um novo Ricardinho". Pois bem: Jorge Wagner não é "o novo Ricardinho". É um jogador completamente diferente, que não sabe armar, cadenciar e virar o jogo como o atual meia são-paulino. Mas tem outras qualidades, como a capacidade de arranque e definição, conforme ficou provado nas finais do Paulista.
Além disso, ao lamentar a saída do excelente Deivid, deixamos de aquilatar de imediato o quanto o Corinthians ganhou com a vinda do ainda melhor Liédson, um atacante ágil e esperto como poucos.
Mas calma: essas considerações não têm o intuito de "explicar" a vitória final corintiana. Os dois jogos decisivos foram extremamente equilibrados e poderiam ter tido resultados bem diferentes.
Basta pensar nos inúmeros acidentes e detalhes que marcaram os 180 minutos de jogo e que poderiam dar outro rumo ao destino: bolas na trave, falhas individuais, defesas milagrosas, expulsões, eventuais erros de arbitragem... Nada do que aconteceu estava escrito de antemão.
Uma partida de futebol é um mundo vivo e aparentemente caótico, ao qual cada comentarista (profissional ou amador) procura dar, a posteriori, organização e sentido. Algumas dessas tentativas são mais convincentes que outras. Por exemplo, as análises de um Tostão, de um Júnior, de um Paulo Vinícius Coelho.
Mas há outras maneiras de ver um jogo. Um torcedor passional o verá como um teatro de heróis, traidores e vilões.
Quanto a mim, gosto de pensar na vitória alvinegra como o triunfo de três baianos: Vampeta, Liédson e Jorge Wagner. O primeiro, um raro remanescente da época de ouro de 98 e 99, incendiou a final e deu o lançamento perfeito do último gol; os outros dois vazaram Rogério Ceni três vezes.

Em terra de Figo...
Tudo bem que Luiz Felipe Scolari possa ter suas razões técnicas para convocar o brasileiro (naturalizado português) Deco para a seleção de Portugal. Mas, na condição de brasileiro recém-chegado ao país, o treinador poderia ter um pouco mais de tato. Diferentemente de Bélgica ou Japão (países cujas seleções já contaram com brasileiros), Portugal não é exatamente um deserto de talentos.

Futebol soterrado
A conquista do título estadual pelo Vasco foi obscurecida pela bagunça da final contra o Fluminense, ontem. Foi um espelho do atual futebol carioca: arbitragem péssima, técnicos e dirigentes descontrolados e, sobretudo, um número absurdo de "sapos" na beira do campo.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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