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Base eleitoral do ministro é a maior beneficiada por verba oriunda do principal projeto social do Esporte
Agnelo cobiça governo do DF, e ministério investe lá
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
EDUARDO OHATA
DO PAINEL FC
O maior beneficiado pelas verbas do principal programa social
do Ministério do Esporte foi o
Distrito Federal, onde o titular da
pasta, Agnelo Queiroz (PC do B),
pretende concorrer ao governo.
Levantamento feito pela Folha
em dados do Siafi (sistema de
acompanhamento de gastos do
governo) mostra que o Distrito
Federal levou quase um quinto do
dinheiro do programa, apesar de
sua população representar somente 1,2% dos brasileiros.
Já desconsiderados gastos com
serviços e produtos, os convênios
do Programa Segundo Tempo
com o Distrito Federal representam R$ 22,3 milhões, 17,9% do total. Agnelo reservou 14 vezes mais
dinheiro para sua base eleitoral
do que a sua fatia na população.
O segundo colocado é o Rio,
que levou R$ 18,8 milhões.
Destinado a oferecer atividade
esportiva e alimentação a crianças
da rede pública de ensino, o Segundo Tempo é o carro-chefe do
ministério. Ocupou mais de um
quarto de seu orçamento em
2005, um total de R$ 123 milhões.
Às vésperas da desincompatilização de Agnelo do cargo, o programa tem sido incensado pelo
governo. O ápice da despedida do
ministro está agendado para hoje.
Ao lado do presidente Lula, ele
participará de eventos no Rio para celebrar suas duas maiores
bandeiras: o Segundo Tempo e o
Pan-2007. Em relação ao programa social, Agnelo vai anunciar
que mais 50 mil crianças serão
atendidas por ele, em parceria
com a ONG Viva Rio.
Nesta semana, o Segundo Tempo ganhou espaço também no
programa de rádio de Lula, que
entrevistou o ministro no ar.
Embora o cálculo seja feito a
partir do orçamento de 2005, a
maior parte do dinheiro para Brasília e os municípios em seus arredores será pago neste ano.
Só R$ 6,9 milhões do total destinado ao Estado tinham sido liberados até 24 de janeiro, data do levantamento dos dados. Ou seja,
R$ 15 milhões vão ser distribuídos
no Distrito Federal durante o ano.
Diferentemente do que ocorreu
com outras unidades da Federação, no DF o ministério deu a
maior parte da verba a ONGs, associações assistenciais e sindicatos. No total, 26 dessas entidades
foram beneficiadas. O único órgão público a receber foi o governo do DF. Em outros Estados, a
maior parte dos convênios foi feita com prefeituras e governos.
Um exemplo destas entidades é
a Federação Brasiliense de Kung
Fu. Inicialmente, a pasta lhe destinou R$ 4,1 milhões, o que seria a
terceira dotação do orçamento no
programa. Metade deste valor foi
cortado, o que ainda permitiu que
a federação fosse uma das maiores beneficiadas. Toda a verba foi
liberada ainda no ano passado.
O programa atende 10 mil
crianças, em nove núcleos de escolas públicas e próprias. Isso significa um gasto de R$ 204 por
criança em cada ano, valor superior a outros lugares do Rio e de
São Paulo pesquisados pela Folha. Com esse dinheiro, são dadas
aulas de kung fu, outras lutas
marciais, futebol e vôlei. Também
é fornecido lanche, no meio da
tarde, aos jovens atendidos.
"Temos esse programa há 12
anos. Expandimos no segundo
semestre", comenta João Dias,
presidente da federação de kung
fu. "O processo é público."
Para receber verbas, a associação tem que fazer uma proposta
para a pasta, que analisa se esta
preenche os pré-requisitos e se
deve à União. Então é assinado
um convênio que estabelece o números de crianças atendidas.
Além do lanche e dos instrutores, a verba é usada para comprar
uniformes para as crianças. Todas
as camisas têm estampado o logo
do governo federal, com o nome
do Ministério do Esporte.
Por Brasília, há outdoors divulgando o Segundo Tempo, também com o nome da pasta. Além
disso, Agnelo tem viajado pelo
Brasil para visitar a inauguração
dos centros do programa.
Até o dia 31, ele vai se desincompatibilizar do ministério para poder concorrer nas próximas eleições. Agnelo tenta articular uma
chapa com o PT, que pretende
candidatura própria. O eventual
apoio de Lula e o Segundo Tempo
são suas maiores armas.
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