São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2006

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Base eleitoral do ministro é a maior beneficiada por verba oriunda do principal projeto social do Esporte

Agnelo cobiça governo do DF, e ministério investe lá

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

EDUARDO OHATA
DO PAINEL FC

O maior beneficiado pelas verbas do principal programa social do Ministério do Esporte foi o Distrito Federal, onde o titular da pasta, Agnelo Queiroz (PC do B), pretende concorrer ao governo.
Levantamento feito pela Folha em dados do Siafi (sistema de acompanhamento de gastos do governo) mostra que o Distrito Federal levou quase um quinto do dinheiro do programa, apesar de sua população representar somente 1,2% dos brasileiros.
Já desconsiderados gastos com serviços e produtos, os convênios do Programa Segundo Tempo com o Distrito Federal representam R$ 22,3 milhões, 17,9% do total. Agnelo reservou 14 vezes mais dinheiro para sua base eleitoral do que a sua fatia na população.
O segundo colocado é o Rio, que levou R$ 18,8 milhões.
Destinado a oferecer atividade esportiva e alimentação a crianças da rede pública de ensino, o Segundo Tempo é o carro-chefe do ministério. Ocupou mais de um quarto de seu orçamento em 2005, um total de R$ 123 milhões.
Às vésperas da desincompatilização de Agnelo do cargo, o programa tem sido incensado pelo governo. O ápice da despedida do ministro está agendado para hoje.
Ao lado do presidente Lula, ele participará de eventos no Rio para celebrar suas duas maiores bandeiras: o Segundo Tempo e o Pan-2007. Em relação ao programa social, Agnelo vai anunciar que mais 50 mil crianças serão atendidas por ele, em parceria com a ONG Viva Rio.
Nesta semana, o Segundo Tempo ganhou espaço também no programa de rádio de Lula, que entrevistou o ministro no ar.
Embora o cálculo seja feito a partir do orçamento de 2005, a maior parte do dinheiro para Brasília e os municípios em seus arredores será pago neste ano.
Só R$ 6,9 milhões do total destinado ao Estado tinham sido liberados até 24 de janeiro, data do levantamento dos dados. Ou seja, R$ 15 milhões vão ser distribuídos no Distrito Federal durante o ano.
Diferentemente do que ocorreu com outras unidades da Federação, no DF o ministério deu a maior parte da verba a ONGs, associações assistenciais e sindicatos. No total, 26 dessas entidades foram beneficiadas. O único órgão público a receber foi o governo do DF. Em outros Estados, a maior parte dos convênios foi feita com prefeituras e governos.
Um exemplo destas entidades é a Federação Brasiliense de Kung Fu. Inicialmente, a pasta lhe destinou R$ 4,1 milhões, o que seria a terceira dotação do orçamento no programa. Metade deste valor foi cortado, o que ainda permitiu que a federação fosse uma das maiores beneficiadas. Toda a verba foi liberada ainda no ano passado.
O programa atende 10 mil crianças, em nove núcleos de escolas públicas e próprias. Isso significa um gasto de R$ 204 por criança em cada ano, valor superior a outros lugares do Rio e de São Paulo pesquisados pela Folha. Com esse dinheiro, são dadas aulas de kung fu, outras lutas marciais, futebol e vôlei. Também é fornecido lanche, no meio da tarde, aos jovens atendidos.
"Temos esse programa há 12 anos. Expandimos no segundo semestre", comenta João Dias, presidente da federação de kung fu. "O processo é público."
Para receber verbas, a associação tem que fazer uma proposta para a pasta, que analisa se esta preenche os pré-requisitos e se deve à União. Então é assinado um convênio que estabelece o números de crianças atendidas.
Além do lanche e dos instrutores, a verba é usada para comprar uniformes para as crianças. Todas as camisas têm estampado o logo do governo federal, com o nome do Ministério do Esporte.
Por Brasília, há outdoors divulgando o Segundo Tempo, também com o nome da pasta. Além disso, Agnelo tem viajado pelo Brasil para visitar a inauguração dos centros do programa.
Até o dia 31, ele vai se desincompatibilizar do ministério para poder concorrer nas próximas eleições. Agnelo tenta articular uma chapa com o PT, que pretende candidatura própria. O eventual apoio de Lula e o Segundo Tempo são suas maiores armas.


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