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Lobby por revisão tem apoio da União e entrave jurídico
Clubes querem alterar Lei Pelé para aumentar poder sobre atletas; governo dá aval, mas há barreiras em normas trabalhistas, da Fifa e pressão do sindicato
A
pós dez anos de Lei Pelé, atinge o auge a onda de revisionismo da legislação, impulsionada pelo lobby dos clubes. O sindicato dos
jogadores tenta responder com ações na
Justiça e uma pressão, bem menos poderosa, sobre o
governo federal. Por posição do presidente Lula, o Ministério do Esporte tem comprado, em parte, o discurso dos dirigentes. Ou seja, quer clubes mais fortes.
Mas há barreiras. Da legislação trabalhista a normas
da Fifa, órgão máximo do esporte. Estão em discussão
questões como a duração máxima dos contratos dos
jogadores, o valor máximo da rescisão, a idade mínima
para profissionalização dos atletas e seus direitos trabalhistas. Temas já discutidos em duas alterações à
lei, em 2000 e 2003. Neste momento, um projeto de
lei, já com várias emendas, tramita no Congresso.
DA REPORTAGEM LOCAL
A prerrogativa de poder firmar contratos mais longos e
mais cedo com os jogadores.
Esse é o principal objetivo de
cartolas ouvidos pela Folha.
Entre representantes dos atletas, há pressão pelo fim da
cláusula penal e pela obtenção
de direitos trabalhistas não
previstos na legislação atual.
Até o momento, o governo
federal escolheu o seu lado no
embate. Já fez audiências com
cartolas, sem ter ouvido o sindicato, e apóia projeto no Congresso que fortalece os clubes.
"Não dá para ter contrato de
trabalho aos 14 anos porque a
legislação trabalhista veta. Podemos fazer o vínculo esportivo mais cedo, nessa idade, e reforçá-lo [reajustá-lo]", explica
o ministro do Esporte, Orlando
Silva Jr., à Folha.
Os clubes querem firmar
contratos com atletas de 14
anos -hoje, a regra é para 16
anos. E alguns dos cartolas falam em elevar até para dez
anos a duração máxima de
acordos com os jogadores -hoje o prazo é de cinco.
Sem essa possibilidade, o ministro diz que apóia o projeto
de lei 5.186, no Congresso. Ele
prevê primeiro contrato de
cinco anos, com renovação automática por mais três. O acordo de mais de cinco anos seria
contrário a norma da Fifa.
O projeto prevê que a cláusula penal só vale se o atleta romper com o clube. Caso o time
rescinda o acordo, tem de pagar ao jogador, mas um valor
menor. Atualmente, a Justiça
diz que o valor deve ser igual
para as duas partes.
"Vamos usar a mesma determinação que tivemos para a Timemania para alterar a Lei Pelé", diz o presidente do Flamengo, Márcio Braga. Há cartolas, como Eurico Miranda, do
Vasco, que defendem proibição
de que atletas abaixo de 18 anos
saiam do país. Só que essa medida é considerada inconstitucional pelo ministério.
É esse o discurso propalado
pelo sindicado dos jogadores.
Em desvantagem junto ao
governo, a Federação Nacional
dos Atletas (Fenapaf) decidiu
entrar com Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no
Supremo Tribunal Federal
contra pelo menos um artigo
da Lei Pelé, o que estabelece a
cláusula penal. Ou seja, querem que o jogador nem sequer
tenha que pagar para romper o
contrato unilateralmente.
"Em Portugal, a cláusula penal já caiu na Justiça. Não há
equilíbrio na relação. Qualquer
trabalhador está sujeito a ter
uma proposta de trabalho e pode mudar de emprego", diz Rinaldo Martorelli, da Fenapaf.
Essa ação, na verdade, é uma
forma de pressionar clubes e
governo a fechar um acordo.
Martorelli reclama que o ministro, até agora, só ouviu os
clubes. De fato, Silva Jr., que
promete abrir espaço ao sindicalista, já recebeu duas propostas prontas de clubes paulistas.
Para manter as condições
atuais da Lei Pelé, a Fenapaf
aceita abrir mão de mudanças
nos direitos trabalhistas, hoje
desfavoráveis aos atletas. Mobilizações de jogadores e dossiês estão nos planos.
A discussão vai além das
fronteiras brasileiras. A Fifa
não permite, por exemplo, contratos superiores a três anos
com atletas de 16 anos. Ou seja,
a CBF não registra nada acima
desse período, apesar da lei.
A norma internacional interfere, como aconteceu na origem da Lei Pelé. "Os clubes reclamam, mas o Brasil teria de
se enquadrar de qualquer jeito
à Lei Bosman, que deu liberdade ao jogador na Europa", afirma o presidente da Associação
Brasileira de Agentes de Futebol (Abaf), Léo Rabello.
Um dos autores do texto da
Lei Pelé, o advogado Heraldo
Panhoca, que defende clubes e
jogadores, vê dificuldades tanto para os pleitos dos cartolas
quanto para o sindicato.
Contratos longos podem ser
inviáveis pela norma da Fifa.
"E não vejo ação possível contra a cláusula penal", diz Panhoca, sobre o sindicato tentar
liberar de vez os atletas.0
(LUÍS FERRARI E RODRIGO MATTOS)
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