São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2008

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Francês quebra 3º recorde em 3 dias

Após marcas nos 100 m livre, Alain Bernard faz 21s50 nos 50 m livre e alimenta polêmica sobre traje que repele a água

Todos os recordistas desta temporada nadaram com vestimenta que ajudaria a flutuar; concorrência chia, e federação fica em alerta


DA REPORTAGEM LOCAL

Se ainda restavam dúvidas de que Alain Bernard se tornara o homem a ser batido nas provas de velocidade, o francês tratou de pulverizá-las ontem.
Em 21s50, cruzou os 50 m da piscina de Eindhoven e se transformou no mais rápido nadador da história.
Mais: é o primeiro atleta desde o lendário Matt Biondi, em 1986, a obter os recordes mundiais nos 50 e 100 m livre em uma mesma competição.
"Eu estava calmo. Tive um excelente início, o que não é comum. Então, pensei que tinha que explorar ao máximo minha boa forma aqui. Coloquei toda a minha força em 35 metros. O público me dá força e me motiva a me superar. Espero que isso dure", disse Bernard, ovacionado pelos holandeses.
Como havia feito pela primeira vez nos 100 m livre, o francês bateu o recorde da mais veloz prova da natação já na semifinal do Europeu. Hoje, irá nadar pela medalha de ouro.
As performances de Bernard foram tão surpreendentes que desencadearam uma busca por explicações. Por respostas para além da boa fase do atleta.
A menos de cinco meses da Olimpíada, o nadador saltou de coadjuvante a homem a ser batido em duas provas. Na sexta, fez 47s60 nos 100 m livre. Anteontem, conquistou o ouro e baixou a marca em 0s10.
Nos 50 m livre, tinha como melhor tempo no ano 22s28.
Uma das teses para a performance do nadador é reforçada por uma coincidência: nas 11 quebras de recordes mundiais ocorridas em 2008, todos os atletas usavam o mesmo traje, o LZR Racer, da Speedo.
É o caso do australiano Eamon Sullivan, que em fevereiro cravou 21s56 nos 50 m livre, superando o mais longevo recorde da natação masculina, em poder de Alexandr Popov.
O diretor técnico da federação francesa, Claude Fauquet, foi um dos primeiros a reclamar atenção da Fina (federação internacional) para o maiô.
"Acho que isso merece um debate e tem de ser analisado por um comitê de ética", disse.
A seleção francesa é patrocinada pela Arena. Bernard tem acordo com a Speedo. O LZR Racer, lançado neste ano, foi aprovado pela Fina e será usado nos Jogos de Pequim.
A entidade que comanda a natação mundial, no entanto, acena com uma nova discussão sobre o assunto após a coincidência entre os recordes.
O diretor executivo Cornel Marculescu disse que a federação questionará a fabricante sobre o material do traje e marcará encontro com dirigentes durante o Mundial em piscina curta de Manchester, em abril.
Ele ressaltou, no entanto, que não há ilegalidades.
O LZR Racer não tem costuras e é feito de material que repele a água. Ajudaria na flutuabilidade, principal ponto a levantar polêmica. Custa cerca de US$ 800 e promete 5% menos atrito e 4% a mais de velocidade que sua versão anterior.
Só o Campeonato Australiano viu três recordes no fim de semana. Ontem, Sophie Edington fez 27s67 nos 50 m costas, superando o tempo de Emily Seebohm obtido anteontem.
Um brasileiro também atingiu feito histórico com o novo maiô. César Cielo superou o recorde sul-americano dos 100 m livre (48s49) -sua marca mais rápida na distância- no GP do Missouri, em fevereiro. Sua universidade é patrocinada pela fabricante. Seu melhor tempo nos 50 m livre é 21s84.
O Comitê Olímpico Brasileiro também possui acordo com a empresa fabricante do LZR Racer, que vestirá as equipes de esportes aquáticos na China.


Com agências internacionais


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