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Fifa banca ação contra o racismo no Brasil
Projeto de antropólogo alemão no Rio é o único sul-americano contemplado
Verba de US$ 5.000 é usada para manter página na internet e promover debate sobre termos usados nas arquibancadas do Maracanã
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Pela primeira vez na história,
recursos da Fifa são empregados para combater o racismo
no futebol brasileiro. O projeto
de um antropólogo alemão radicado no Rio foi o único da
América do Sul agraciado com
os US$ 5.000 (cerca de R$
8.300) oferecidos pela entidade
que rege o futebol mundial.
Com o dinheiro, além de
manter o site www.racismo
nofutebol.org.br, que está no
ar desde 11 de abril, uma equipe
capitaneada por Martin Christoph Curi Spörl, 32, promoveu
a campanha "Mande um cartão
vermelho para o racismo no futebol" na semifinal da Taça Rio,
entre Fluminense e Vasco.
No Maracanã, Spörl e um colega entrevistaram 80 torcedores das duas equipes.
Perguntaram, por exemplo,
se o público considerava preconceituosas as expressões bacalhau e pó-de-arroz para designar os fãs das equipes. E se
avaliavam como racista o coro
"ela, ela, ela, silêncio na favela",
entoado no Rio contra a torcida
do Flamengo. "Não devo usar
esse material em minha tese de
doutorado, sobre as torcidas do
Botafogo e do Flamengo, mas
posso escrever artigo com base
nas entrevistas", disse Spörl.
Segundo ele, um dos objetivos do site e das entrevistas é
incentivar o debate sobre discriminação no futebol nacional. "O tema é mal debatido no
Brasil. A idéia não é censurar
ou patrulhar os torcedores,
mas fazê-los refletir. Gostaria
de que pensassem se termos
como bacalhau, pó-de-arroz,
mulambo têm origem xenófoba ou conotação discriminatória", explicou o antropólogo.
O conteúdo do site procura
aliar notícias sobre a questão à
produção universitária. "A página na internet é importante
para juntar vários tipos de informações. Ensaios acadêmicos, teses e reportagens sobre
racismo no futebol têm seu espaço lá", disse o supervisor do
projeto, que tem o suporte do
Instituto Brasileiro de Análises
Sociais e Econômicas (Ibase).
"Soube numa coluna do Rodrigo Bueno, na Folha, da bolsa da Fifa. Sabia que o Ibase
promovera antes uma ação
contra o racismo dirigido a brasileiros no futebol espanhol e
entrei em contato com eles."
O site coordenado por Spörl
tem o apoio oficial da Fare,
ONG européia estabelecida em
1999 e que lidera as campanhas
internacionais de combate ao
racismo no futebol.
A entidade tem até o aval da
Fifa para regular a questão. Foi
a Fare (sigla em inglês para futebol contra o racismo na Europa) quem abriu o edital para
selecionar projetos bancados
pela entidade do futebol mundial e é ela quem administra os
repasses do financiamento.
Além do projeto do alemão,
outras duas iniciativas foram
agraciadas na primeira oferta
de verba da Fifa a entidades
não européias de combate ao
racismo. "Uma é do México, e a
outra, da África", disse Spörl,
que vive no Rio há seis anos.
Nascido em Nuremberg, ele
visitou o país pela primeira vez
em 2000, quando, depois de
formado na universidade, passou um semestre na América
Latina para pesquisar o comportamento dos torcedores.
"Então conheci uma brasileira, que hoje é minha mulher, e
depois me mudei de vez para o
Rio", disse o alemão, por telefone, na tarde de ontem, enquanto se dirigia de sua residência
ao Engenhão para acompanhar
o jogo entre Botafogo e Portuguesa pela Copa do Brasil.
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