São Paulo, sábado, 24 de abril de 2010

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Bernô é fenômeno de público

Time de São Bernardo pode subir para a 1ª divisão hoje com bilheteria próxima à dos grandes de SP

Com só cinco anos de vida, clube fundado por políticos ligados ao PSDB foi adotado pelo PT com a mudança de governo na prefeitura local

EDUARDO OHATA
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais do que os vizinhos Santo André e São Caetano, que estão na elite. Mais do que qualquer time pequeno do Estado. Quase a mesma coisa que grandes como Palmeiras e Santos.
O maior sucesso de público do futebol paulista em 2010 fica em São Bernardo do Campo.
E tem como protagonista um clube que existe há apenas cinco anos e que passou de "time tucano" a "clube petista" em um piscar de olhos.
O São Bernardo Futebol Clube, apelidado de Bernô e que hoje pode garantir o acesso à primeira divisão do Paulista com um empate em casa diante do Pão de Açúcar, tem a quinta maior média de público de todas as divisões do Estadual.
Em 12 jogos no estádio 1º de Maio, o clube registra média de 6.254 pagantes. Na Série A-1, o poderoso Palmeiras abrigou, em média, 8.100 pagantes em seus jogos como mandante.
No quadrangular decisivo, a média do São Bernardo está em 11,5 mil pagantes, mais do que o Santos conseguiu na Vila Belmiro em 2010. A comparação com os outros jogos decisivos da segunda divisão (média de 3.900 pagantes) mostra o quanto a bilheteria do clube do ABC paulista é fora do comum.
É verdade que o preço das entradas é camarada (de R$ 5 a R$ 10), mas isso é praxe na segunda e na terceira divisão, e o Santo André, mesmo trocando ingressos por um quilo de alimento, levou menos gente à semifinal da primeira divisão do que o último jogo do São Bernardo em casa, contra a União Barbarense, quando mais de 12 mil pessoas pagaram ingresso.
Tudo isso no estádio 1º de Maio, a famosa Vila Euclides, que na sua história enchia só quando o então sindicalista Lula realizava ali as assembleias do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC no final da década de 70 e no começo da de 80.
O sucesso de bilheteria é tão inusitado como a curta trajetória do clube do ABC. O São Bernardo foi fundado em 2004 como uma empresa limitada. Entre os sócios, estavam o então deputado federal Edinho Montemor e o deputado estadual Orlando Morando Júnior.
Ambos eram da base do então prefeito William Dib, que era do PSB, mas aliado de primeira hora dos tucanos e inimigo do PT -o próprio presidente Lula já falou sobre essa disputa. A prefeitura queria até repassar R$ 400 mil para o clube, mas a legislação impediu isso.
Nas eleições municipais de 2008, Morando encabeçava a chapa tucana que tinha Montemor como vice. Acabaram batidos pelo petista Luiz Marinho, ex-ministro da Previdência.
A aposta na cidade era que, com a mudança de governo, o São Bernardo iria definhar.
Mas o que aconteceu foi justamente o contrário. Marinho resolveu adotar o time. Indicou um de seus mais próximos aliados, Luiz Fernando Teixeira, para a presidência. Montemor, hoje sem cargo eletivo, é agora só "presidente de honra".
"Assim que passou a eleição, o Edinho Montemor me procurou para falar do time. Ele queria que continuasse o apoio da prefeitura, apesar da mudança de governo. Se é algo bom, mas que tinha parceria com a gestão anterior, não tem por que não ter com nossa gestão também", diz o pragmático Marinho.
"Não fizemos o clube para a gente, mas para a população. Não com o objetivo de engrandecimento pessoal. É um projeto da cidade. Se fosse algo político, quando mudasse o governo, teria morrido", diz Montemor, agora parceiro da prefeitura em um projeto social.


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