São Paulo, sábado, 24 de abril de 1999

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A modernização do vôlei

PAULO GUERRA
especial para a Folha

Entretenimento. Sem dúvida, está aí a razão da verdadeira revolução pela qual passa o mundo dos esportes no Brasil e no resto do planeta.
Os números da indústria do entretenimento na última década e as projeções para o começo do próximo século são espetaculares. Alguns estudos feitos na Europa indicam que 40% da população mundial será responsável por toda a produção mundial, ou seja, além de gerar toda a riqueza, bens e serviços, deverá ser responsáveis pelo entretenimento dos outros 60% de habitantes do planeta, a chamada população improdutiva.
Aqui no Brasil, a indústria do entretenimento cresce a passos largos, o mundo da comunicação mudou radicalmente, foi-se o tempo em que havia apenas quatro TVs, algumas rádios e quatro jornais de expressão no país. Isso significa que hoje existe "espaço" na mídia para dezenas, centenas de modalidades, e não mais apenas para futebol, vôlei, basquete e automobilismo, como na época em que o vôlei se consolidou como segundo esporte nacional.
Significa que as empresas estão recebendo uma infinidade de propostas, das mais variadas modalidades, que podem garantir a elas a exposição que antes só o vôlei podia proporcionar, a um custo menor.
Hoje, sem dúvida, o vôlei ainda é a modalidade esportiva mais organizada do Brasil, tem boas seleções e um bom campeonato de clubes, mas infelizmente isso não é suficiente para esse novo cenário.
A Superliga é o produto mais importante, mais estratégico para o vôlei brasileiro, mais importante inclusive que as seleções brasileiras.
É simplesmente querer demais da confederação que, além de suas atribuições com todas as seleções, as federações, as competições internacionais, seus patrocinadores oficiais, a FIVB, os direitos de TV, tenha tempo, recursos humanos, infra-estrutura e dedicação para a Superliga e seus patrocinadores.
É evidente que a CBV não possui estrutura, ressalto, estrutura (não falo de competência) suficiente para atender a tudo isso. Por isso, a cada ano, mais e mais patrocinadores vêm deixando o vôlei.
A Superliga deve deixar a CBV. É preciso dar-lhe personalidade jurídica, é preciso dar-lhe perfil de empresa, agilidade administrativa e eficiência como veículo de comunicação para cada um dos patrocinadores e seus públicos.
Para isso, novas ferramentas de marketing devem ser criadas, em cada praça, cada ginásio, cada clube, para cada patrocinador de equipe, de arena, de televisão ou de promoção. Enfim, a Superliga precisa deixar de ser um produto da CBV para ser uma marca institucional com vários subprodutos, como se fez em todo o mundo.
Essas mudanças devem ser imediatas. É fundamental que o vôlei "de fato" consiga reduzir os investimentos dos patrocinadores, que as equipes recuperem o vínculo com a comunidade e reconquistem suas torcidas. E é vital a regularidade e a qualidade das transmissões dos jogos em TV aberta.
É inadmissível, por falta de pessoal, infra-estrutura, ou qualquer outra justificativa, deixar esse produto se tornar obsoleto, como se vê agora.
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Paulo Guerra, diretor da LKS Marketing Esportivo, é consultor do Report-Nipomed, três vezes campeão da Superliga masculina



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