São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

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BOXE

Febem de luvas

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Alguns internos da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor), pela primeira vez na história da instituição, vêm treinando boxe.
A Febem anuncia na segunda-feira o projeto "Lutando pela Liberdade". Trata-se do primeiro passo, oficial, para que os internos de todas as unidades passem a receber aulas de pugilismo.
O projeto nasceu na unidade Tatuapé e tem como coordenador e técnico provisório Servílio de Oliveira, medalha de bronze nos Jogos Olímpicos do México-68.
O pontapé inicial foi a realização de uma mesa-redonda há alguns meses envolvendo funcionários da Febem e especialistas da área esportiva para discutir os prós e contras de tal iniciativa.
Durante algumas semanas foram administradas aulas de boxe a 32 funcionários, psicólogos, pedagogos, monitores e agentes de proteção (incluindo 12 mulheres), para que contassem com subsídios suficientes para emitir suas opiniões sobre a viabilidade do projeto, se realmente a prática do pugilismo ajudaria a reduzir o estresse, a tensão e a agressividade. Isso foi providencial, pois o conhecimento prévio de alguns sobre o pugilismo se limitava ao que assistiram na série "Rocky".
Além dos funcionários, um grupo de oito menores, que contou com o acompanhamento psicológico, também foi selecionado para receber aulas (o principal critério foi o seu comportamento).
Um dos argumentos contra a implantação do projeto é o de que ensinar boxe aos detentos é o mesmo que pôr uma arma em suas mãos. Mas o fato é que a história mostra que muitos ex-presidiários se recuperaram graças ao pugilismo, que subordina seus praticantes a um conjunto de regras. Além disso, só treinarão os internos que apresentarem aproveitamento satisfatório na escola e um comportamento condizente.
Claro, o sucesso ou não depende da maneira como o programa seria conduzido. Ele terá de ser monitorado com todo o cuidado.
(Mas é até mais fácil marginais disfarçados de atletas, sem ficha na polícia, usarem os punhos contra cidadãos comuns. Para citar um exemplo, neste ano integrantes da seleção brasileira amadora se envolveram em uma briga de rua e foram expulsos, em uma atitude corretíssima da Confederação Brasileira de Boxe, que assim demonstrou não se preocupar somente em ganhar medalhas).
Voltando à Febem, com base no que foi feito até agora com menores e funcionários, foi produzido um relatório que será submetido à presidência da entidade.
Dependendo de sua apreciação, o projeto será ou não implementado. Caso seja aprovado, o objetivo é que inicialmente sejam beneficiados aproximadamente 50 internos por unidade, que posteriormente, após sua liberação, seriam direcionados a academias.
"A maior dificuldade enfrentada pelos treinadores geralmente é recrutar candidatos a boxeadores. Aqui [na Febem", há um verdadeiro exército de atletas em potencial só esperando a vez de começar a treinar. E da quantidade aparece a qualidade", diz Servílio de Oliveira. "Para a Forja [de campeões, tradicional campeonato amador de estreantes realizado em janeiro], podem surgir até 15 garotos com chances reais de ser campeões [se o programa for posto em funcionamento neste ano e se os detentos obtiverem permissão judicial para participar]."
Seria a "luta pela liberdade".

Polêmica
O combate entre o pena Valdemir Pereira, o Sertão, e o argentino Cirilo Coronel, a quem venceu no segundo assalto, na semana passada, segue gerando polêmica. A Confederação Brasileira de Boxe reafirmou que não reconhecerá o combate, pois Coronel lutou sem autorização da Federação Argentina de Boxe, cujo presidente, Carlos Rodrigues, confirmou que Coronel teve cassada a licença por baixa performance. A CBB também encaminhou a esta coluna fax no qual o presidente do Conselho Mundial de Boxe, o mexicano Jose Sulaiman, condena a realização do combate. O promotor da luta, Servílio de Oliveira, diz que processará a CBB por tê-lo chamado, em seu site na internet, de ""irresponsável". Além de citar que a carta da FAB teria informações incorretas, Servílio enviou a esta coluna fax mostrando que ""o site da FAB na internet não lista Coronel entre os pugilistas cujas licenças foram cassadas". "Além disso, levei um pugilista para ficar de reserva, caso Coronel não fosse aprovado no exame médico da Federação Paulista de Boxe."

E-mail eohata@folhasp.com.br



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