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BOXE
Febem de luvas
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
Alguns internos da Febem
(Fundação Estadual do
Bem-Estar do Menor), pela primeira vez na história da instituição, vêm treinando boxe.
A Febem anuncia na segunda-feira o projeto "Lutando pela Liberdade". Trata-se do primeiro
passo, oficial, para que os internos de todas as unidades passem
a receber aulas de pugilismo.
O projeto nasceu na unidade
Tatuapé e tem como coordenador
e técnico provisório Servílio de
Oliveira, medalha de bronze nos
Jogos Olímpicos do México-68.
O pontapé inicial foi a realização de uma mesa-redonda há alguns meses envolvendo funcionários da Febem e especialistas da
área esportiva para discutir os
prós e contras de tal iniciativa.
Durante algumas semanas foram administradas aulas de boxe
a 32 funcionários, psicólogos, pedagogos, monitores e agentes de
proteção (incluindo 12 mulheres),
para que contassem com subsídios suficientes para emitir suas
opiniões sobre a viabilidade do
projeto, se realmente a prática do
pugilismo ajudaria a reduzir o estresse, a tensão e a agressividade.
Isso foi providencial, pois o conhecimento prévio de alguns sobre o pugilismo se limitava ao que
assistiram na série "Rocky".
Além dos funcionários, um grupo de oito menores, que contou
com o acompanhamento psicológico, também foi selecionado para receber aulas (o principal critério foi o seu comportamento).
Um dos argumentos contra a
implantação do projeto é o de que
ensinar boxe aos detentos é o
mesmo que pôr uma arma em
suas mãos. Mas o fato é que a história mostra que muitos ex-presidiários se recuperaram graças ao
pugilismo, que subordina seus
praticantes a um conjunto de regras. Além disso, só treinarão os
internos que apresentarem aproveitamento satisfatório na escola
e um comportamento condizente.
Claro, o sucesso ou não depende
da maneira como o programa seria conduzido. Ele terá de ser monitorado com todo o cuidado.
(Mas é até mais fácil marginais
disfarçados de atletas, sem ficha
na polícia, usarem os punhos contra cidadãos comuns. Para citar
um exemplo, neste ano integrantes da seleção brasileira amadora
se envolveram em uma briga de
rua e foram expulsos, em uma
atitude corretíssima da Confederação Brasileira de Boxe, que assim demonstrou não se preocupar
somente em ganhar medalhas).
Voltando à Febem, com base no
que foi feito até agora com menores e funcionários, foi produzido
um relatório que será submetido
à presidência da entidade.
Dependendo de sua apreciação,
o projeto será ou não implementado. Caso seja aprovado, o objetivo é que inicialmente sejam beneficiados aproximadamente 50
internos por unidade, que posteriormente, após sua liberação, seriam direcionados a academias.
"A maior dificuldade enfrentada pelos treinadores geralmente é
recrutar candidatos a boxeadores. Aqui [na Febem", há um verdadeiro exército de atletas em potencial só esperando a vez de começar a treinar. E da quantidade
aparece a qualidade", diz Servílio
de Oliveira. "Para a Forja [de
campeões, tradicional campeonato amador de estreantes realizado
em janeiro], podem surgir até 15
garotos com chances reais de ser
campeões [se o programa for posto em funcionamento neste ano e
se os detentos obtiverem permissão judicial para participar]."
Seria a "luta pela liberdade".
Polêmica
O combate entre o pena Valdemir Pereira, o Sertão, e o argentino
Cirilo Coronel, a quem venceu no segundo assalto, na semana passada, segue gerando polêmica. A Confederação Brasileira de Boxe
reafirmou que não reconhecerá o combate, pois Coronel lutou sem
autorização da Federação Argentina de Boxe, cujo presidente, Carlos Rodrigues, confirmou que Coronel teve cassada a licença por
baixa performance. A CBB também encaminhou a esta coluna fax
no qual o presidente do Conselho Mundial de Boxe, o mexicano
Jose Sulaiman, condena a realização do combate. O promotor da
luta, Servílio de Oliveira, diz que processará a CBB por tê-lo chamado, em seu site na internet, de ""irresponsável". Além de citar
que a carta da FAB teria informações incorretas, Servílio enviou a
esta coluna fax mostrando que ""o site da FAB na internet não lista
Coronel entre os pugilistas cujas licenças foram cassadas". "Além
disso, levei um pugilista para ficar de reserva, caso Coronel não
fosse aprovado no exame médico da Federação Paulista de Boxe."
E-mail eohata@folhasp.com.br
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