São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2004

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AUTOMOBILISMO

Depois de 252 dias de monopólio, F-1 vê, no GP de Mônaco, outro ganhador que não um piloto da Ferrari

Trulli vence a 1ª em nome dos oprimidos

Lionel Cironneau/Associated Press
Flavio Briatore, manager da Renault, joga champanhe em Jarno Trulli no pódio de Mônaco


FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MÔNACO

No pomposo, nobre e opulento cenário de Mônaco, a vitória, ao menos ontem, foi dos oprimidos. Dos humilhados por 252 dias de domínio da Ferrari na F-1. Dos que passaram os últimos oito GPs prostrados, impotentes, assistindo aos triunfos da equipe italiana.
O dia ontem foi de Jarno Trulli e de seu Renault. Ele conseguiu sua primeira vitória na categoria em uma corrida que será lembrada pela emoção, pelos acidentes e por uma das performances mais desastradas da carreira do hexacampeão Michael Schumacher.
O segundo colocado foi Jenson Button, da BAR, seguido por Rubens Barrichello, da Ferrari.
Trulli, 29, quebrou a invencibilidade de Schumacher na temporada e interrompeu uma seqüência de triunfos ferraristas que vinha desde o último GP da Itália, em setembro do ano passado.
"É interessante ter outro piloto no alto do pódio. Fico muito contente que tenha sido eu", disse o italiano, que esperou 117 provas para vencer -tornou-se o segundo no recorde da persistência, atrás de Barrichello, com 124.
Saindo da pole pela primeira vez, Trulli manteve a ponta na largada. Seu companheiro, Fernando Alonso, superou Button e pulou para segundo. O destaque, no entanto, foi Takuma Sato.
O japonês da BAR, sétimo no grid, largou bem, ultrapassou Barrichello, pressionou Schumacher e Kimi Raikkonen e contornou a primeira curva em quarto.
Começaram, então, os acidentes. Logo na primeira volta, Christian Klien, da Jaguar, ficou no guard-rail da Loews, a curva mais lenta da F-1, feita a 45 km/h.
Na terceira volta, o motor de Sato explodiu, provocando uma nuvem de fumaça. Quem vinha atrás ficou às cegas. Entre eles, David Coulthard, que freou e foi acertado por Giancarlo Fisichella. Seu Sauber decolou e capotou.
Não houve feridos, mas o acidente exigiu o safety-car pela primeira vez no ano. Na relargada, na oitava volta, Trulli manteve a ponta, seguido por Alonso, Button, Raikkonen e Schumacher.
Na 27ª volta, Raikkonen abandonou, com problemas no motor. Na 42ª, mais um acidente: Alonso, segundo colocado, estava dando uma volta em Ralf Schumacher no túnel, bateu no guard-rail e abandonou. Irritado, acusou o alemão de ter acelerado propositalmente para forçá-lo a um erro.
"É um idiota. Só está aqui porque é irmão de quem é", disse.
Mais uma vez, o safety-car foi acionado. Trulli foi para os boxes e Schumacher, que havia passado Button no primeiro pit , assumiu a liderança. Seu plano era voar na pista, retardar a segunda parada e assim tentar superar o italiano.
Então, o inesperado: Schumacher entrou no túnel atrás do safety-car e à frente de Juan Pablo Montoya, retardatário. Saiu de lá com o carro esbagaçado, sem o bico e com a suspensão dianteira esquerda torta. Abandonou o GP.
Após a prova, disse que acionou os freios para aquecê-los, foi acertado na traseira pelo colombiano e bateu no muro. No paddock, a atitude foi vista como um erro crasso: o túnel não é o lugar mais indicado para fazer isso.
De volta à liderança, Trulli só precisou controlar o avanço de Button. E Schumacher, pela TV, viu a vitória que, se fosse sua, lhe daria o título de "rei de Mônaco" -igualaria os seis triunfos de Ayrton Senna no principado.
Mas ontem o dia não era para a realeza. O domingo em Mônaco foi da plebe. Que estava cansada de esperar. E buscou sua fração.



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