São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 2006

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TOSTÃO

As bebidas mais consumidas em Weggis são agora a caipirinha e a batida de coco, preparadas tanto por brasileiros como por suíços

Tudo quase perfeito

EM WEGGIS, pequena, típica e belíssima cidade suíça, todos os lugares estão enfeitados com bandeiras brasileiras. As pessoas que detestam futebol e/ou não querem ser perturbadas devem ter saído da cidade.
As bebidas mais consumidas em Weggis são agora a caipirinha e a batida de coco, preparadas por brasileiros e por suíços. Weggis é um lugar em que a maioria gostaria de morar. O posto policial só abre duas vezes por semana. A cidade é limpíssima. As lojas abrem tarde, fecham cedo, e as pessoas trabalham pouco e ganham muito. No Brasil, trabalham muito e ganham pouco.
Mas certamente Weggis não é o paraíso. O paraíso está na nossa fantasia. As pessoas do Brasil, de Weggis e de qualquer lugar do mundo vivem sempre na falta de algo, muitas vezes desconhecido e/ou inatingível.
A seleção terá 20 dias de treinos e dois amistosos até a estréia. Será suficiente, já que a seleção está escalada e definida na maneira de jogar. Até a única variação tática está prevista, com a entrada de mais um volante, passando Ronaldinho Gaúcho para o ataque. Pela primeira vez na história, o time foi escalado meses antes da estréia no mundial. A convocação dos 23 teve raros questionamentos.
Não há um grande problema médico com os jogadores. Carlos Alberto Parreira é elogiado por tudo que faz. Parece tudo perfeito, como um relógio suíço. Está bom demais para ser verdade.
Além disso, os jogadores brasileiros ficam muito felizes quando se encontram na seleção. É como se voltassem para suas casas, para suas famílias.
Não estou preocupado com o favoritismo do Brasil. Os jogadores são experientes e sabem diferenciar o excesso de confiança com a consciência de suas virtudes. O que me incomoda é estar tudo certo. O Brasil já tem um grande time antes da competição.
Planejar e definir com antecedência é essencial em qualquer atividade. Mas a maioria dos grandes times da história -essa é a expectativa da seleção- e os momentos mais especiais de nossas vidas ocorrem de repente, sem avisar, em um piscar de olhos. Muitas vezes não percebemos esses instantes.
Nesses 20 dias, cada jogador terá um tratamento especial. Ronaldo, a principal preocupação, está em um período de sua carreira em que a sua forma física ideal para brilhar está muito próxima da contusão muscular, como tem ocorrido com freqüência nos últimos anos.
Nesse período de treinos, Parreira vai tentar minimizar a sua principal preocupação, que é jogar com dois meias ofensivos, dois atacantes e dois laterais apoiadores sem fragilizar a defesa. Deu certo nos dois últimos jogos da Copa das Confederações. Mas os zagueiros já disseram que estão preocupados.
Como Kaká, pela direita, e Ronaldinho, pela esquerda, entram muito em diagonal pelo meio, vão aparecer muitos espaços nas laterais para os avanços do Roberto Carlos e do Cafu. Porém os dois não podem deixar os zagueiros desprotegidos.
Se os dois volantes, Emerson e Zé Roberto, fizerem com freqüência a cobertura dos laterais, deixarão também o meio-campo e a zaga desprotegidos.
A solução não é a contensão, impedir os laterais e os meias de avançarem muito. Essa é a principal qualidade desses atletas. A solução será sincronizar o avanço, para que todos, alternadamente, defendam e ataquem. Será o equilíbrio perfeito, tão sonhado pelo Parreira.

@ - tostao.folha@uol.com.br


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